Fatos e Dados (Brasil) - Parte I
Isabelle Felici - A Verdadeira História da Colônia Cecília de Giovanni Rossi:
751 - A Colônia Cecília foi uma experiência anarquista de 1890 no Brasil. O fundador, Giovanni Rossi, era imigrante italiano parece. Anarquistas, como Malatesta, e socialistas censuravam o “socialismo experimentalista” de Rossi - a Colônia Cecília.
752 - Malatesta sobre Rossi: "oferece aos oprimidos uma vã esperança de emancipar-se sem precisar fazer a revolução."
753 - De fato, um jornal brasileiro de Curitiba, Quinze de Novembro, anuncia no seu número de 20 de março de 1890 que o Dr. Rossi deixou a Itália no dia 20 de fevereiro para estudar a situação agrícola dos estados da Bahia, Pará, Minas Gerais e decidir sobre qual o melhor lugar onde instalar as cinqüenta famílias que deveriam chegar em julho de 1890.
754 - Rossi e Benedetti se instalam finalmente em uma velha cabana no bosque próximo a Santa Bárbara, a dezoito quilômetros ao sul de Palmeira. Passada uma semana, juntam-se a eles os companheiros que haviam ficado em Curitiba. É então que começa, nos primeiros dias de abril de 1890, a história da Cecília.
755 - Zélia Gattai é uma das colonas (os avôs, na verdade) atraídas depois pela propaganda de Rossi na Itália.
756 - A colônia talvez tenha chegado a 250 membros no auge, um ano e pouco depois. Junho de 1891. Rossi disse que foi desastroso esse inchaço, já que os operários industriais não estavam acostumados ao tipo de vida da colônia. (creio que se refira à agricultura e vida no campo).
757 - A alimentação torna-se insuficiente. Colonos vão trabalhar fazendo estradas para o governo para poder comprar comida à crédito (a ser pago pelo trabalho nas estradas) com os comerciantes da vizinha Palmeiras.
758 - Rossi critica o parlamentarismo e assembleias inúteis, com muito falatório, estabelecidas pelos colonos. A miséria é tanta que, no auge da crise - junho de 1891 - sete famílias, sendo duas do início inclusive, apoderam-se dos animais da colônia. “As outras famílias se dispersam, todos encontram trabalho em Curitiba. Os Gattai fazem parte dessas famílias que deixam muito rapidamente a colônia”.
759 - Rossi culpa os colonos e o caso dos animais pelo fracasso: “É verdade que a família Dondelli se havia imposto e fazia a lei, mas as pessoas de Cecina, assim como as outras, ao invés de eliminá-la, a idolatravam.”
760 - Ademais, acusa os colonos de se recusarem a cumprir várias tarefas - cita algumas - e outros ficaram estocando alimentos por dois ou três dias o que causou miséria em outras famílias. Ademais, “é verdade que em fevereiro, os animais destruíram as plantações (o milho e o feijão) por causa da negligência dos primeiros colonos, que não fizeram cercados suficientemente fortes e que não vigiaram a plantação como era necessário.”
761 - Sete jovens resolvem refundá-la no mesmo ano. Rossi retorna da Itália. São quatro meses de relativa tranquilidade. Vinte ou trinta pessoas. Não houve pacto sequer verbal. Traumas dos formalismos inúteis anteriores. O grupo quis ser “inorganizado”. Quatro famílias.
762 - Tornou a não dar certo. A família hábil/experiente e de maior produtividade se opunha a várias medidas. Apesar da partida de algumas famílias de camponeses, que se estabeleceram como colonos independentes em outras terras, o ambiente na Cecília é insuportável "por causa do controle que se exerce sobre o rendimento de cada um, um controle silencioso, ainda mais insuportável que o de um contramestre em uma oficina européia.""
763 - Há miséria e o trabalho nas estradas continuava a complementar o dinheiro para os custos da colõnia. Mesmo assim, famílias continuam chegando e a colônia chega a sessenta e quatro habitantes em dezembro de 1892.
764 - Houve um ou dois episódios de “amor livre” e família poliândrica. Porém, a maiorias dos homens, muito mais numerosos, lamentavam as dificuldades. Rossi chega a dizer que a família é a instituição mais danosa da sociedade. Mais que a propriedade privada.
765 - Homens reclamam nos escritos do “amor livre” não ter tomado o coração das companheiras e que, apesar disso, não se faltou com o respeito a qualquer uma. (Ô… Queria o quê…)
766 - Malatesta diz que o tal “amor livre” da colônia não era mais que promiscuidade…
767 - Rossi deixa Cecília em Maio de 1893. Alguns colonos continuam a “empresa” até que em 1894 novas divergências decretam seu fim. Também pesou o fato de terem, algumas famílias, tomado partido, ainda que sem entusiasmo, na Revolta Federalista, ao lado dos revoltosos. Houve repressão.
768 - Rossi mesmo assim considerou a experiência positiva por mostrar que se pode viver muito tempo sem lei e autoridade. A mim parece dificil aplicar isso à Cecília, afinal, a rotatividade dos colonos era muito grande. É como se ninguém aguentasse ficar muito tempo lá. Ademais, a autora do texto observa que houve “numerosos confrontos que opuseram os camponeses aos operários, em relação aos métodos de trabalho”.
769 - Argumenta, ainda, com certa razão: “Em compensação, deixar a colônia porque não se concorda com os métodos de trabalho, porque uma garota semeou o pânico nos lares (aqui foi o caso de uma jovem que chegou e se pôs a namorar com inúmeros solteiros e atraiu dois homens casados), partir armado, levando os animais da comunidade, tudo isso demonstra que as teorias comunistas anarquistas sobre as quais deveria repousar a colônia não foram postas em prática”.
770 - O governo brasileiro só pediu aos colonos para pagar a terra em cinco anos. Desde o início, sabia-se que assim seria.
771 - Rossi reclamou ainda das sementes inadequadas que trouxe e das dificuldades de arranjar equipamentos e materiais para a obra. Era preciso muito dinheiro.
772 - Reclus contextualiza mais este fracasso anarquista ao compará-lo com experiências parecidas nos EUA, França, México..
773 - Em “96” quase apoiou outra colônia. Sua ideia era bizarríssima. “Convencido de que o obstáculo maior, "mortal", para a vida comunitária, é a mulher, presa demais aos laços do casal, ele elabora um estratagema do qual ele próprio se envergonha. Tratar-se-ia de comprar jovens índias em troca de aguardente e iniciá-las no amor livre”.
774 - Depois de Cecília, Rossi não fez mais nada. “Conquanto o fim da sua vida tenha sido o mais pacífico possível, é preciso esperar até 1939 para que Rossi seja retirado da lista de pessoas a vigiar, como o demonstra a sua ficha no arquivo da polícia italiana. Ele morre em Pisa, com a idade de oitenta e três anos, em 9 de janeiro de 1943”.
775 - O pessoal da colônia “virou de tudo”. Fascista… Operário…
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