Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulo 15

                                                                                                                                                                      

Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva



Pgs. 174-188


"CAPÍTULO 15: "A Força Primordial da Grande Depressão"


148 - Galbraith coloca que, antes da Crise de 29, não se estudava muito as depressões. Sabia-se da existência do ciclo econômico, pois este era visto e estudado. Havia mil teses sobre as causas. Porém, era algo secundário. E, pela Lei de Say, não poderia haver nada muito grave.


149 - ...Assim, os economistas da época da Grande Depressão não sabiam bem o que fazer. Laissez-faire talvez. Schumpeter e Robbins forma explícitos aconselhando nada fazer. O mercado limparia as toxinas. O primeiro ainda adicionou: ...nossa análise nos leva a crer que uma recuperação só é sólida e saudável se ocorrer por ela mesma.


150 - Características da Grande Depressão: A primeira, a implacável deflação dos preços gerando falências no setor industrial e na agricultura. A segunda, o desemprego. Idosos, jovens, doentes e mal abrigados eram os que mais sofriam. Sobre a deflação, já durava três anos (1930 a 1932).


151 - Quando Roosevelt ainda era governador, começaram a surgir os "assessores econômicos", digamos assim. A "equipe econômica". Em 1936, os republicanos imitaram e isso e montaram seu comitê "clássico". O problema é que gente de lá falava em esterilizar metade da população como solução econômica. (A elite brasileira ainda está em 1936).


152 - Identifica um livro (manifesto-compêndio) da década de 20 como um dos primórdios do institucionalismo, digamos. O Trends de Tugwell, como ficou sendo conhecido, foi um dos primeiros documentos de uma tradição econômica distintamente americana proveniente de Veblen; o livro analisa antropologicamente a realidade econômica aceita e, livre dos grilhões do rigor clássico, estava aberto a reformas pragmáticas. Eventualmente estas reformas seriam coletivamente denominadas de economia institucional, ou institucionalismo, e seus partidários de Escola Institucional. (...) Rex Tugwell— assim todos os chamavam —foi o principal membro do Brain Trust pré-eleitoral e, mais tarde, do governo Roosevelt. Cita como outra figura importante um tal de Adolf A. Berle, Jr. Um advogado que criticava os postulados da economia clássica (e era ignorado). Seriam os responsáveis por levar FDR à "heterodoxia", digamos assim.


153 - As estatísticas do futuro grupo de Roosevelt eram reveladoras: ...as duzentas maiores empresas (excluídos os bancos) possuiriam cerca de metade da riqueza empresarial (novamente excluídos os bancos) do país — quase um quarto de toda a riqueza nacional. E, o que era igualmente urgente, em metade destas firmas os acionistas haviam deixado de exercer qualquer função significativa. (...) Esta tendência, como previra Marx, vinha se intensificando implacavelmente. Os oligopólios eram a norma e os gestores assumiam o controle. Era o poder sem propriedade (substituindo os "empreendedores").


154 - Quando FDR assumiu, todos clamavam por algum tipo de expansão monetária. Que fosse o abandono do padrão-ouro se necessário. Fisher, por exemplo, acreditava que a moeda deveria ser estabilizada, seja contra que tendência fosse, deflacionária ou inflacionário. Assim sendo, também se juntou ao clamor pelo combate à deflação.


155 - A crise e a repressão ao Ouro: Nos primeiros tempos do New Deal, Roosevelt ordenou a suspensão dos pagamentos em ouro pelos bancos e proibiu o açambarcamento e a guarda privada deste metal - o que vale dizer que não se podia mais ter ouro em casa. Combatia-se a sua valorização. Era mais que a suspensão do padrão-ouro (esperada).


156 - ...Não adiantou muito: Embora os preços tenham aumentado ligeiramente no verão de 1933, nada houve nas medidas do presidente que aumentasse significativamente o poder aquisitivo ou estimulasse a demanda. O novo governo, num exercício correlato de ortodoxia, resolveu dar início a profundos cortes nos salários do setor público e em outras despesas, numa demonstração mais do que simbólica de conservadorismo fiscal. No final do verão e início do outono, os preços, especialmente os dos produtos agrícolas, despencaram miseravelmente outra vez, e os monetaristas vieram então em socorro.


157 - Voltando ao período 29-33, Galbraith coloca que as medidas de expansão da liquidez foram tomadas pelo governo Hoover algum tempo depois, mas não adiantaram muito. Em 1931, a taxa de redesconto do Banco da Reserva Federal de NovaYork, que chegara a seis por cento antes do colapso da bolsa, caíra a um e meio por cento em decrementos de 0,5 por cento. Muitos bancos estavam repletos de dinheiro em caixa. Havia, porém, devido a toda a quebradeira que se viu, muito medo em emprestar. E as famílias tinham medo de tomar empréstimos e iniciar negócios. Todo mundo estava mais preocupado em se manter "vivo".


158  - A tentativa de aumentar os preços diretamente, principalmente os preços industriais, deu-se através do National Recovery Act [Lei de Recuperação Nacional] - o NRA. A ideia era negociar os preços coletivamente com os oligopólios a fim de evitar a espiral descendente (!) de preços e salários. A "concorrência" ficava quase que suspensa. 


159 - Os economistas, ao que entendi, foram, no geral, contrários ao plano, mas... não houve contra o NRA um ataque organizado como o que houvera contra o programa de aquisição de ouro; como sempre, a moeda e a sua depreciação produziram uma reação litúrgica muito maior.


160 - A força de trabalho agrícola cresceu durante a depressão, pois os trabalhadores dispensados pela indústria iam buscar sua subsistência nas fazendas. O retorno marginal na agricultura caiu, mas ao menos não havia desemprego no setor, coloca.


161 - A Lei Morrill, promulgada pelo Congresso em 1862, concedia terras do governo aos Estados se as rendas provenientes destas terras fossem usadas no ensino da agricultura e na pesquisa das artes mecânicas. As instituições de ensino superior assim beneficiadas passaram a ser chamadas land-grant colleges e a Lei Morrill Land-grat Act (Lei das Concessões de Terras, ou das Terras Concedidas).


162 - A Depressão exigiu que o governo substituísse o mercado na definição dos preços agrícolas. Controle de preços, retornos mínimos e limites à produção. Tudo isso fez parte das políticas da época. (Mises ficaria horrorizado com tanto socialismo). Diz que, em parte, isso é o comum mesmo até "hoje" (e hoje, creio). Japão, Suiça, Europa em geral... Todo mundo protege preços agrícolas, mesmo se implicar em produção/consumo menor (usando as vantagens da demanda inelástica).


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