Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 16 e 17

                                                                                                                                                                       

Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva



Pgs. 189-198


"CAPÍTULO 16: "O Nascimento do Estado do Bem-Estar"


163 - Na tradição da Prússia e da Alemanha, o Estado era competente, benéfico e beneficente, e gozava de alto prestígio. Bismarck: Em 1884 e 1887, após considerável controvérsia, aprovou-se no Reichstag leis que, de maneira rudimentar, protegiam os trabalhadores de acidentes, doenças, velhice e incapacidade. O resto da Europa foi adotando aos poucos.


164 - Inglaterra em 1911 foi além. As garantias britânicas contra o desemprego iam muito além do precedente alemão, que fora investigado pessoalmente por Lloyd George. A Alemanha, na realidade, só foi ter seguro-desemprego em 1927. A Câmara dos Lordes ficou enojada. Galbraith coloca que tudo isso prevenia os ricos contra tumultos e revoltas, mas eles não viam assim. A Grã-Bretanha era o berço da ortodoxia clássica, mas aceitara, ainda que relutantemente, esta importante modificação no Sistema.


165 - Pigou, espécie de sucessor de Marshall, admitia certa conveniência nas políticas de bem-estar. A utilidade marginal do dinheiro era maior para os mais pobres - em contraste com o que diziam os seus colegas da ortodoxia clássica - , o que legitimava alguma redistribuição. Bastava não diminuir a produção total.


166 - Institucionalistas e economistas agrícolas também eram favoráveis às reformas sociais. 


167 - Os primórdios do Welfare State nos EUA estava no chamado "Plano Wisconsin", liderado pelo economista Commons naquele Estado durante a Crise de 29: O PlanoWisconsin, a realização conjunta de economistas e políticos, incluía uma legislação pioneira para o funcionalismo público estadual, uma regulamentação efetiva das taxas cobradas pelas empresas de serviços públicos, um limite sobre juros usurários (mantidos, porém, na taxa ainda proibitiva de 3,5 por cento ao mês, ou 42 por cento ao ano), apoio ao movimento sindical, um imposto de renda estadual e finalmente, em 1932, um sistema estadual de seguro-desemprego.


168 - Não teve Pigou certo nos EUA quando as propostas de seguridade passaram a tramitar em nível federal. As associações empresariais caíram matando. Era impossível a economia sobreviver de forma saudável a isso. Era também "o derradeiro controle socialista da vida e da indústria". (...) Charles Denby, Jr., da Ordem dos Advogados, disse que “mais cedo ou mais tarde ela provocará um inevitável abandono do capitalismo privado". Teve empresário comparando isso à "queda de Roma".  Decadência moral... Bancarrota financeira... Ninguém vai trabalhar... Colapso da república... Escravizar trabalhadores... Impedir trabalho para o povo... Foram as reações. Na hora da votação, tiveram nem coragem de honrar as palavras. Foi aprovado, visando eleição. Galbraith analisa que o temor ao socialismo (no mínimo o mal pior) pesava para que, na hora "H", se abandonasse a retórica e aceitassem as medidas.


169 - ...Foi, no entanto, apenas o princípio. Assistência médico-hospitalar auxílio pleno a famílias com crianças pequenas, moradia para famílias de baixa renda e subsídios habitacionais, treinamento profissional e outros suplementos a previdência básica para os carentes, estavam todos por vir. E o que iria acontecer nos Estados Unidos também se daria em todas as nações industrializados.


170 - Galbraith vê na mente desses oposicionistas uma defesa religiosa dos pressupostos da economia clássica que o ajudaram a se tornarem ricos. Não se trata apenas de "não quero perder dinheiro". 



Pgs. 199-213


"CAPÍTULO 17: "John Maynard Keynes"


171 - Cenário econômico nos EUA até 1936: ...a queda nos preços industriais e agrícolas foi combatida diretamente; frentes de trabalho e obras públicas foram iniciadas para combater o desemprego; e em 1935 vieram o seguro-desemprego e as pensões de aposentadoria. Mas ainda permanecia uma grave falha no sistema como um todo. Em 1936, no quarto ano do New Deal e após uma ínfima e muito efêmera recuperação, os gastos pessoais dos consumidores permaneciam num nível bastante baixo. O desemprego ainda era de 17%. E o PIB estava a 95% do pico de 29.


172 - Superprodução e escassez de consumo eram vistos como falácias. Say e Ricardo ainda reinavam. No entanto, as taxas de juros já estavam praticamente no chão e nem assim a economia reencontrava seu bom andamento. O terreno estava montado para as contribuições de Keynes: A economia moderna, afirmava ele, não encontra seu equilíbrio necessariamente no pleno emprego; ela pode encontra-lo do desemprego - o equilíbrio do desemprego.


173 - Coloca que, de certa forma, o keynesianismo veio antes de Keynes. Mesmo Hitler já empreendia, na Alemanha, ao assumir, uma frente de obras públicas visando restaurar o ímpeto econômico. Só mais tarde os gastos com armamentos superariam os impulsos da construção civil (intensificação da Autobahn etc.). Em 1936, o desemprego, que havia ajudado a levar o nazismo ao poder, foi eliminado. Déficits financiaram o impulso.


174 - O abandono alemão da austeridade era criticado pelos economistas da época. O nazismo iria fazer a Alemanha colapsar economicamente e cair por isso. Era a tese. (Quem dera...).


175 - Wicksell na Suécia: Ele foi severamente criticado por sua defesa pioneira do controle da natalidade; em 1908, quando fez algumas referências não muito devotas a Imaculada Conceição numa palestra pública, foi posto na prisão por dois meses. Acreditava-se que os economistas deviam ser menos ecléticos em suas heresias. Também se antecipou a Robinson e Chamberlain, falando dos meios-termos entre livre-concorrência e monopólio.


176 - Coloca que a Suécia, para enfrentar a crise dos anos 30, fez tudo narrado anteriormente e mais um pouco: ...num mundo terminologicamente preciso, nós deveríamos nos referir não à Revolução Keynesiana, mas à Revolução Sueca. Houve até livro a respeito em 1936. The Middle Way. Na verdade, ideias do tipo circularam pelos EUA bem antes de Keynes até, mas ao que entendi o modelo sueco foi o primeiro a colocar a coisa em prática.


177 - Nos EUA do New Deal, passou-se a operar num déficit de cerca de 4% do PIB. Auxílios-diretos, obras e cargos públicos deram a tônica. Na verdade, Galbraith coloca que Keynes tentou influenciar Roosevelt desde a posse (carta aberta em 1933, por exemplo), mas isso acabou não ocorrendo. O "keynesianismo" do governo foi se dando por imposições práticas mesmo.


178 - Dá uma brevíssima biografia de Keynes. Alguns pontos curiosos lá, como ter ido mal num exame de economia em 1905. Na década de 10 já era uma figura respeitada e ouvida. Galbraith coloca que as ideias keynesianas de 1936 talvez não fossem lá muito ouvidas se o livro fosse de outra pessoa, digamos assim.


179 - ...Keynes, (...) deixou Paris em junho de 1919 sentindo profundo desprezo pelo que presenciara e vira acontecer. Ele voltou para a Inglaterra, onde nos dois meses seguintes escreveu "The Economic Consequences of the Peace". O livro foi publicado ainda naquele ano, vendendo 84 mil cópias só na edição inglesa. Foi traduzido para diversas línguas e ainda constitui o documento econômico mais importante sobre a Primeira Guerra e suas consequências. Era praticamente impossível a Alemanha pagar as reparações sem se arrasar. No pós-II Guerra, não cometeriam o mesmo erro.


180 - Em 1925, polemizou contra o então ministro da Fazenda (Winston Churchil!) sobre o padrão-ouro. A ortodoxia queria o retorno da libra ao antigo valor (em relação ao ouro e dólar), de antes da I Guerra. Keynes era contra essa valorização.


181 - Afirma que Keynes tinha grande domínio da língua, mas que ele mesmo reconheceu que sua obra-magna era complexa, confusa e obscura (não sei se com essas palavras). Galbraith defende que as ideias gerais do livro, porém, eram simples. A preferência pela liquidez fazia com que o poupado pudesse não ser igual ao investido, mesmo em cenários de juros baixos (estimulativos). Pode ser que poupança e investimento só voltem a se igualar num nível menor ou bem menor de renda e produto, quando já não dá mais pra aumentar o ímpeto poupador (a propensão ao consumo finalmente vence, mas num equilíbrio aquém do que seria o ideal). Em 1936, havia meio que isso.


182 - Para o problema do desemprego, a teoria clássica dava sempre a mesma explicação: salários altos e/ou rígidos demais. Keynes via um tanto de falácia da composição nisso. Se todos os empregadores baixarem os salários em épocas de desemprego, o fluxo de poder aquisitivo — a demanda efetiva global - diminuirá, pari passo, com a diminuição dos salários. Assim, só um intervencionismo podia salvar. O déficit intencional. Somente isso romperia o equilíbrio do desemprego: gastar, gastar deliberadamente, aquilo que havia sido poupado e economizado pelo setor privado. Foi uma poderosa afirmação da sabedoria daquilo que já vinha sendo feito sob o peso das circunstâncias. Surge a macroeconomia. 


183 - Em resposta a uma carta de 1935, Keynes coloca que imaginava que, muito em breve, seu livro revolucionaria o modo de pensar a economia. 


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