Nildo Viana - Textos VI - Sartre e o Marxismo

 

Nildo Viana - Sartre e o Marxismo:

96 - Em “O Ser e o Nada”, Sartre começa suas teses. Distingue aparência e o ser. Ser-em-si e ser-para-si, que é a transcendência. .

97 - Liberdade, para Sartre, é liberdade de escolha e não “ter o que se quer”.

98 - Sartre: Assim, não diremos que um prisioneiro é sempre livre para sair da prisão, o que seria absurdo, nem tampouco que é sempre livre para desejar sua libertação, o que seria um truísmo irrelevante, mas sim que é sempre livre para tentar escapar (ou fazer-se libertar)

99 - Sartre definindo "a existência precede a essência": Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. Quer dizer, Sartre, que não existe natureza humana - diz isso expressamente depois. Pra mim não é uma conclusão lógica da frase, mas enfim...

100 - Como não há natureza humana, o homem estaria condenado a ser livre, a escolher seu projeto.

101 - Sartre e Freud. Via algum determinismo neste: “O que Sartre recusa é a distinção freudiana entre ego e id, qualificando-a de um exemplo típico de má-fé. Ao cindir o psiquismo entre consciente e inconsciente, Freud enseja que uma parte contemple a outra como se fosse um objeto e que, reduzida a tal condição, tire do indivíduo sua responsabilidade sobre ela. Ou seja, o inconsciente exime o homem de ser responsável pelos seus atos.”

102 - Para a psicanálise existencial, a libido e vontade de poder não são caracteres genéricos e comuns a todos os seres. importa mesmo é descobrir a escolha original, irredutível, do ser.

103 - A diferença é esta: os atos cotidianos e corriqueiros manifestam não o inconsciente ou o complexo original e sim a escolha, o projeto original.

104 - É uma “escolha situada”. Porem, para Sartre, mesmo em sua época de aproximação com o marxismo, a infância e a classe social não realizam um determinismo absoluto sobre o indivíduo.

105 - O homem se caracteriza antes de tudo pela superação de uma situação, por fazer um projeto. As determinações estão ali, mas não anulam as escolhas.

106 - Lukács e Lênin defendiam, segundo Nildo, que a consciência era meio que um reflexo da realidade objetiva. Nildo critica isso, pois nas Teses sobre Feuerbach, Marx teria deixado claro o caráter ativo da “consciência”.

107 - Porém, Freud tinha, na verdade, uma concepção conflitual e não um determinismo do inconsciente. Para Freud, as ações humanas eram ora determinada pela consciência, ora pelo inconsciente, havendo um conflito entre ambos e é nesta dinâmica conflitiva que se originava as ações humanas.

108 - Em Marx, existe natureza humana sim, mas esta é mutável graças à atividade do homem sobre a natureza, modificando-a através do trabalho (que é esta mediação entre homem e natureza, por sinal). A natureza, por sua vez, modificada, modifica a natureza humana. Entende?

109 - Diferenciando o pior arquiteto da melhor abelha está a capacidade de ideação prévia do fim, da transformação do meio natural. O homem direciona-se, com atenção e escolha de meio, conscientemente a realização do fim a que me referi. Antes tá lá cheio de ideias.

110 - Nildo defende que não existe antagonismo entre liberdade e necessidade, pois esta última também visa realizar a potencialidade humana (física e mental). Liberdade não seria apenas aquilo determinado unicamente pela razão, excluindo as necessidades biológicas.

111 - … (Por isso aí Sartre estaria salvo, creio. Porém, em tal caso, não se está apenas a discutir o conceito de liberdade, a fim de salvar e hastear a palavra bonita e por todos amada?)

112 - Necessidades e desejos são reprimidas por entes externos. Marx e Freud coincidem em algumas coisas: “Só pode atingir a liberdade (e a saúde) adquirindo consciência dessas forças motivadoras, ou seja, da realidade, ao invés de ser escravo de forças cegas.” A natureza dessas forças é diferente, porém, para Marx e Freud.

113 - Nildo redefine liberdade assim - e para o mesmo tal definição vem de Marx: “A liberdade é uma manifestação livre da natureza humana, ou seja, a satisfação do conjunto das necessidades humanas, incluindo as necessidades primárias – que é seu pressuposto – e o pleno desenvolvimento de suas necessidades secundárias, a objetivação e a sociabilidade.”

114 - Alienação em Marx, segundo Nildo, é não a perda do produto produzido, mas a próprio perda de controle sobre o processo de produção. O problema é mais isso que não ver como fruto do seu trabalho o que foi produzido. Essa segunda coisa é consequência da primeira, na verdade. Tem razão.

115 - … É isso que gera o fetichismo (estranhamento).

116 - Marx: “o trabalho alienado inverte a relação, pois o homem, sendo um ser autoconsciente, faz de sua atividade vital, de seu ser, unicamente um meio para sua existência”.

117 - Sartre tem certa incoerência para alguns. Se estamos condenados a ser livres, então a liberdade acaba sendo uma essência ao menos concomitante a existência. Deve ser por isso que Marx, antes de Sartre, vai dizer: “A liberdade é a tal ponto a essência do homem que mesmo seus opositores o reconhecem, posto que a combatem; querem apropriar-se da jóia mais cara, que eles não consideram a jóia da natureza humana. Ninguém luta contra a liberdade; no máximo, luta-se contra a liberdade dos outros.”

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