João Bernardo - Textos diversos - Parte I
Prefácio a 'Comissões de Fábrica - Um Claro Enigma':
33 – De 1997 também. “A primeira
realização prática do socialismo ocorreu em 1825, quando Robert Owen fundou nos
Estados Unidos a cooperativa de produção e consumo New Harmony.”
34 - As decisões relativas ao
processo de produção e à organização do trabalho cabiam a Owen, ou aos
filantropos que financiavam os projectos, e foi decerto isto que desanimou os
demais participantes. (...) As relações jurídicas de propriedade haviam sido
profundamente transformadas, mas as relações sociais de produção, no
fundamental, mantinham-se inalteradas. O controle do processo de trabalho
continuava a escapar inteiramente aos trabalhadores e no interior daquelas
comunidades estavam, afinal, a reproduzir-se os próprios fundamentos da divisão
capitalista de classes.
As Meninas do Terceiro Ano:
35 – História bonita.
O PT Brasileiro
Vinte Anos Depois:
36 – É o que já li melhor explicado na dissertação sobre a Fundação
Nativo da Natividade.
Até Que Ponto é
Solidária Essa Tal Economia:
37 - Diferenças entre as
ocupações de fábrica que explodiram entre 60 e 70 e a estratégia tradicional da
esquerda: “As decisões colectivas e
rotatividade de funções, com a consequente diminuição das barreiras existentes
entre a administração e a produção, passaram nessas lutas para a ordem dia, em
franco contraste com a prática até então habitual no movimento operário, que se
limitava a exigir a reformulação das relações jurídicas, com a nacionalização
das empresas, e, no âmbito global, a tomada do Estado por um partido comunista
ou socialista.”
38 – Outra coisa, muitíssimo
diferente, é a conversão de empresas falidas em cooperativas, onde a
administração continua a ser assegurada por especialistas e onde cabe aos
trabalhadores, como sempre, trabalhar.
39 - Quando os trabalhadores
têm de “apertar o cinto” para não ficarem desempregados e apenas conseguem
produzir serviços inferiores ou duvidosos em relação à concorrência não há que
se falar em economia solidária. Até pela questão do controle de especialistas.
Trabalhadores:
Classe ou Fragmentos?:
40 – Também de 2005. Afirma que desde 1920 vem a tese - renovada em
várias décadas - de que se estaria criando um grande problema - desemprego
estrutural - com o crescimento do maquinário na economia. Cita alguns livros
bem antigos defendendo isto.
41 – Coloca que os soviéticos, sob direção de Lênin, importaram para a
Rússia o sistema taylorista e fordista de organização do trabalho.
42 - Por que a ofensiva autonomista não tomou o poder? “No fordismo o aproveitamento das economias
de escala dependia da concentração física dos trabalhadores nos mesmos locais.
Tanto os sindicatos reformistas e os partidos operários burocratizados como o
sindicalismo radical e, posteriormente, as grandes vagas de contestação autonomista
nas décadas de 1960 e de 1970 só são compreensíveis se não esquecermos que
milhares e milhares de trabalhadores se encontravam diariamente dentro dos
muros das mesmas instalações”.
43 - A eletrônica toyotista eliminou o risco político mencionado
acima. Os processos produtivos puderam ser descentralizados a milhares de
quilômetros de distância se necessário.
44 - Horários flexíveis que prejudiquem a rede de solidariedade entre
trabalhadores também são uma grande cartada do toyotismo. Isso prejudica
inclusive as associações de bairros e conversas de mesa de bar, pois também o
“tempo livre” é diferente.
45 - Outra tática de fragmentação são os contratos por tempo
determinado e os de tempo parcial.
46 - Outra esperta inovação do capital foi a de não mais concentrar as
propriedades jurídicas (pra quê? concentra apenas o dinheiro subordinando
empresas a outras menores). João explica melhor: "Em ambos os casos, em vez de se encontrarem reunidos em
estabelecimentos de enormes dimensões pertencentes a uma só firma, os
trabalhadores ficam divididos entre as firmas principais e as múltiplas
subcontratantes, ainda que as suas actividades se insiram numa mesma cadeia de
produção."
47 - Como algo parecido com o dito acima, o sistema de
“franchising” também dificulta enormemente as táticas dos trabalhadores, afinal,
“A firma principal dá as filiais locais a
explorar a pequenos patrões, impondo-lhes no entanto uma tecnologia, uma gama
de produtos ou de serviços, um sistema de organização da força de trabalho e um
sistema de atendimento ao cliente que têm de ser rigorosamente cumpridos. Por
seu lado, os pequenos capitalistas que tomam a franchising lucram com o facto
de terem diminuído as suas despesas em aquisição de tecnologia e de
beneficiarem da publicidade assegurada, e do mercado captado, pela firma
principal. “
48 - E a pior de todas as formas desse processo de “falsos
capitalistas pequeninhos” é a terceirização. Descentralização jurídica e
centralização econômica. Esta ocorre mediante fraude de direitos (serviços
públicos então…) e mediante PJtizações: “Este
termo, de origem brasileira, designa o processo pelo qual uma empresa converte
alguns dos seus empregados em profissionais formalmente independentes,
contratando depois os seus serviços. Na prática, o terceirizado encontra-se
totalmente dependente da empresa à qual vende a sua actividade, mas sem as
garantias que tivera enquanto assalariado. A transformação do assalariamento em
terceirização, que assumiu proporções maciças em certas áreas profissionais, tem
como resultado o completo isolamento recíproco destes trabalhadores. Onde antes
eles enfrentavam os patrões em conjunto com os seus colegas, passam agora a
fazê-lo sozinhos.”
49 - Como se isto não bastasse,
e não confiando demasiadamente nos automatismos económicos e sociais, os
capitalistas têm concentrado enormes esforços na difusão de uma subcultura de
massas assente em ilusões de promoção individual.
50 - A utopia última é o “trabalho em casa”, mas eu não vejo como algo
tão imprescindível assim. Tão fragmentados já estão os processos produtivos.
51 - “Just in time”. A empresa
principal determina o tipo de tecnologia que as subcontratantes e os
terceirizados deverão aplicar e controla os resultados da aplicação dessa
tecnologia, em função das necessidades da adaptação da empresa principal ao
fluxo da procura e ao tipo da procura. Por isso não fica gastando muito com
estoque, por exemplo. Manutenção… Possíveis desperdícios...
52 - A tônica de tudo isso é dispersão e fragmentação. Isto significa, em poucas palavras, que os
trabalhadores existem como classe para os capitalistas - os administradores
toyotistas - e não existem como classe
para eles próprios.
53 - JB e o óbvio que parte enorme da esquerda deixa pra lá: “Enquanto esta situação se mantiver o capitalismo
continuará sólido, e aqueles que hoje evocam a torto e a direito uma crise do
capitalismo fariam bem melhor se procurassem compreender a crise do
anticapitalismo.”
54 - Outro fataço: Nestes termos
podemos apreciar o significado da apologia do fraccionamento das lutas feito
pela generalidade dos ideólogos pós-modernos. É certo que, sob um certo ponto
de vista, tal atitude é sensata, porque não se propiciam hoje oportunidades
para movimentos amplos e generalizados. Contra os promotores de palavras de
ordem convencionais e desprovidas de qualquer sentido prático, os pós-modernos
podem ao menos invocar o facto de os seus apelos serem correspondidos. Por
outro lado, no entanto, os pós-modernos consideram a fragmentação das lutas não
como uma limitação a ultrapassar mas como o objectivo estratégico a atingir. O
seu ideal é uma colecção de ghettos, que têm o mercado como elo de ligação e o
«politicamente correcto» como linguagem comum.
55 - Respostas fáceis, baratas e pouco efetiva contra as opressões.
Fala também da tentativa de isolar/guetizar os iguais (não do mercado, o elo
comum, até por ser impossível) aliviando a necessidade de enfrentamento real
das discriminações.
56 - Afirma que o multiculturalismo se tornou uma boa desculpa pra
vender produtos. Além de fragmentar os trabalhadores ainda mais que o capital
já fez por ele mesmo.
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