João Bernardo - Crise dos Trabalhadores ou Crise do Sindicalismo (e outro texto)

 

Anotações Sobre “Autor - João Bernardo (Textos)”.

 

 

Obs.: Os textos da pasta estão organizados por ordem de data

 

As Palavras e As Pedras:

1 – A alienação é para os marxistas a existência fora da história. João compara, assim, a uma vida sem arte, pois é na arte que nos vemos no mundo e vemos o mundo na gente.

2 – Todo mundo é artista. “A partir do momento em que ela se oferece, a arte é roubada a quem a criou e navega nos olhares, ou ecoa nos tímpanos, de quem lhe assiste. E são estes muitos os seus verdadeiros criadores, ou os mais importantes, porque se houve um que lhe deu o pretexto da existência, os demais asseguram-lhe a perenidade.”

 

Crise dos Trabalhadores ou Crise do Sindicalismo:

3 – Texto de 1997. Pouco antes (94), João ministrava palestras na CUT.

4 - Sem sedes luxuosos e sem verbas avultadas, o sindicalismo do ABC emparedou os militares. Agora que têm recursos, parecem impotentes. Como pode?

5 - Fundos sindicais criam verdadeiros “gestores capitalistas” que devem fazer investimentos capitalistas. A compra da sede numa rua que prometa valorização do imóvel é um exemplo disso. A obrigatoriedade de gastar a verba exclusivamente com uma categoria e região “X” que não necessariamente está imersa em uma luta coletiva é outra. Não se vêem verbas direcionadas à solidariedade com outros trabalhadores.

6 - Faz certo sentido essa crítica acima. ...

7 - E a criatividade na "capitalização dos sindicatos" só cresce, como mostra o exemplo dos EUA, onde tem começado a crescer "um sistema mediante o qual os sindicatos se encarregam de convencer os trabalhadores a aceitar limitações salariais, ou a perda de quaisquer regalias, e em troca disso os trabalhadores recebem a propriedade nominal de acções, depositadas num fundo administrado, parcial ou totalmente, por representantes sindicais. Ou seja, em termos simples mas inteiramente exactos, aquilo que os trabalhadores deixam de ganhar gera um capital manuseado pelos sindicatos". Complicado esse tipo de coisa. Uma greve passa a atentar contra os “lucrinhos” do sindicato, por exemplo.

8 - Sindicatos chegaram assumir 55% das ações da segunda maior companhia aérea dos EUA. Na Rússia (leste europeu também), uma parte das privatizações foi para o crime organizado e outra (me parece menor, mas o texto não diz) foi parar nas mãos dos administradores em conluio com dirigentes sindicais, que prometeram, com isso, reduzir o número de demissões.

9 - Países avançados e atrasados e as greves: “Nestes casos, em vez de pretenderem a recuperação dos conflitos e a assimilação dos dirigentes operários, que constitui o mecanismo básico da mais-valia relativa, os patrões recorrem à repressão pura e simples, no quadro da qual o capitalismo nunca poderá ultrapassar a situação de mais-valia absoluta, reproduzindo-se o ciclo vicioso das acções repressivas.”

10 - Mais uma verdade o comentário acima. Não poderia o governo sair dessa minha greve atual criando um plano que combinasse salário meramente “repositor da inflação”, digamos, e racionalização dos custos (o que tem de custo absurdo na universidade não é brincadeira - as compras de tablet… o excesso de pessoal em alguns setores… a possibilidade que há de tudo ser informatizado...). Preferiu mandar os sindicatos amigos aceitarem a proposta rebaixada. Pior que vai dar certo.

11 - Uma burocracia - no sentido de dirigente que se diferencia da base - nem sempre é passiva, cooptada ou oportunista. Podem ser inclusive extremamente combatentes (e permanecem como burocratas porém).

12 - Mais um fataço que boa parte da esquerda parece que não entendeu: “...desde que superou a crise de 1974, o capitalismo necessita de estimular - e ao mesmo tempo condicionar - a actividade intelectual dos trabalhadores, para melhor poder aproveitá-la através da electrónica e da informática. O trabalhador unidimensional já não é mais rentável para o capitalismo evoluído, que tem de explorar a pluridimensionalidade de que a pessoa humana é capaz. Sob o ponto de vista económico, a mais-valia relativa progrediu assim enormemente, inaugurando-se um novo ciclo ampliado de valorização do capital

13 - João relaciona o fato anterior com as “greves selvagens” dos anos 60. A estimulação intelectual tornou dispensável em certa medida a burocracia: “A crise dos sindicatos, que tantos julgam hoje ter sido motivada pela difusão do neoliberalismo, começou na realidade bastante antes e deveu-se ao movimento autonómico. A classe trabalhadora mostrou ter atingido um estágio de formação que dispensava uma direcção estritamente burocratizada.”

14 - Aí já não sei bem se foi isso. Gostaria de mais elementos.

15 - O capitalismo aprendeu a lição e começou a explorar, além da actividade muscular e cerebral dos trabalhadores, a sua capacidade de gestão e até de solidariedade. As formas de administração de empresa que é hoje corrente englobar sob a denominação genérica de toyotismo não são mais do que a recuperação capitalista da actividade intelectual e da capacidade de decisão colectiva que os trabalhadores demonstraram na prática durante a vaga de lutas autonómicas.

16 - Intensidade e complexidade do trabalho e versatilidade do trabalhador. São mecanismos dos quais se nutre a mais valia relativa.

17 - Outro trecho sensacional: “Ora, uma força de trabalho capaz de uma actividade mais intensa, em operações mais complexas e com uma versatilidade crescente requer qualificações cada vez maiores, que só pode obter fora das horas de laboração. Exige também um maior tempo de repouso, que lhe permita reconstituir as capacidades de trabalho. Ambas estas necessidades fazem com que os ócios, ao mesmo tempo que aumentam, se integrem completamente no quadro do capitalismo.”

18 - Da lista “obviedades que a esquerda esquece”: “Em primeiro lugar, as novas máquinas não se limitam a dispensar força de trabalho, porque a mão-de-obra tornada desnecessária nos antigos ramos de actividade é lançada para abrir ramos novos. Nos nossos dias isto sucede sobretudo no sector dos serviços, onde a automatização é ainda incipiente.”

19 - “A lição custou caro, mas a General Motors acabou por aprender que o seu bem mais importante e mais valioso não eram os robots, mas a sua própria força de trabalho.” Traduzo estas palavras de The Economist de 10 de Agosto de 1991, uma revista de pedigree insuspeito e impecáveis credenciais capitalistas. Na década de 80, a GM jogou no lixo dezesseis bilhões em prejuízos por automatizar a produção sem qualificar suficientemente os trabalhadores para comandá-la. O trabalho não é mais importante… Sei...

20 - Dei risada aqui: “Há mesmo quem apresente essa situação como uma emancipação do homem relativamente ao trabalho. Que isto possa ser repetidamente escrito, com aparente sucesso, e afirmado perante o regozijo de plateias académicas só mostra até que ponto chegou a impudência desses meios. É pena que não profiram tais palestras num auditório repleto de desempregados.

21 - Em termos simples, trata-se de um aspecto do processo mediante o qual o capitalismo, quando progride para estágios superiores da mais-valia relativa, destaca camadas de trabalhadores e forma com eles sectores anexos de mais-valia absoluta. São os subcontratados e os que laboram na economia paralela as vítimas preferenciais da deterioração das condições de trabalho e da sua precaridade, do emprego a tempo parcial e, finalmente, do desemprego verdadeiro.

22 - Fracasso maior é contra as multinacionais: “Os sectores dinâmicos da economia encontram-se hoje inteiramente transnacionalizados, enquanto os sindicatos continuam a funcionar em perspectivas estritamente corporativas e se congregam em organizações que não ultrapassam os limites nacionais. As federações sindicais internacionais são meras agências burocráticas que nunca coordenaram qualquer luta, nem sequer uma acção reivindicativa, visando a totalidade de uma companhia multinacional, matriz e filiais. “

23 - Trata da falta de qualquer esforço sindical em usar sua estrutura para organizar os terceirizados, precarizados e desempregados - devido a incerteza da condição destes, rotatividade e tal, o que pode gerar “investimento” perdido -, aprofundando a divisão na classe trabalhadora.

24 - No serviço público, as opções seriam rejeitar o Estado como patrão, o que não acontece, pois se prefere o diálogo, pra conseguir poucos por centos, ao confronto, e a colaboração fraterna com organismos de usuários.

30 - Atacar as questões de raça e de gênero é importante não “apenas” pela opressão em si, mas pelo possibilidade de reforçar laços de solidariedade entre os trabalhadores. Outro trecho importantíssimo.

31 - Um membro da Comuna de Paris, em 1869, já escrevia sobre o círculo vicioso das greves. Aumento salarial - inflação - aumento salarial. “Em todas as greves o que nos preocupa não é tanto o insignificante aumento salarial, a pequena melhoria das condições de trabalho. Tudo isso é apenas secundário. [...] O supremo objectivo dos nossos esforços é o agrupamento dos trabalhadores e a sua solidariedade”. Ao que João Bernardo concluiu: “Gerir as lutas é o único treino para gerir, mais tarde, a sociedade e a economia. Sem isso os trabalhadores limitar-se-ão a substituir uns patrões por outros, uns administradores por outros, renovando as classes dominantes e reforçando, portanto, o capital. “

32 - Ele propõe (propunha) que “os próprios trabalhadores devem dispor livremente dos seus instrumentos de trabalho, possui-los, com a condição de trocarem os seus produtos ao preço de custo, para que exista reciprocidade de serviços entre os trabalhadores das diferentes especialidades.”

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