Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulo 22 ("PARTE B")

               

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



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Pgs. 557-577


"CAPÍTULO 22: "Países em desenvolvimento: crescimento, crise e reforma"


538 - O México introduziu um programa de reforma e estabilização ampla em 1987, combinando uma redução agressiva da dívida e dos déficits públicos com as diretrizes de direcionamento e salários‑preços de taxa de câmbio negociadas com os representantes da indústria e dos sindicatos de trabalhadores. Já visava o NAFTA ao que lembro. Em tese, o peso mexicano flutuaria em sistema de crawling, mas... Apesar dessa flexibilidade potencial, as autoridades mexicanas mantiveram a taxa de câmbio perto de seu teto de valorização. O peso, portanto, nitidamente subiu de preço em termos reais, e surgiu um grande déficit da conta‑corrente. Reservas caíram muito. 


539 - ...Nem a desvalorização do peso conteve os especuladores e o México apenas foi "salvo" por US$ 50 bi (EUA e FMI) emprestados emergencialmente. Com o peso apanhando, inflação começou a querer dar as caras. A produção nacional do México recuou mais de 6% em 1995. Juros altos e desemprego. Depois tudo deu "certo". Veio a recuperação.


540 - Sobre o modelo asiático, colocam que nem todos os países de sucesso tiveram Estado com política industrial atuante (citam, por exemplo, Hong Kong e Taiwan como exceções). Outras diferenças: Algumas economias, como as de Taiwan e Singapura, dependiam fortemente da criação de subsidiárias locais de empresas multinacionais. Outras, como Coreia do Sul e Hong Kong, dependiam principalmente de empresários nacionais.


541 - A necessidade de reservas por parte dos países emergentes a fim de impedir ataques especulativos e ausência de crédito vem não somente da meta de garantir importações por um tempo "x". "O que importa é o valor das reservas em relação ao potencial de venda de ativos pelos especuladores, mesmo se as condições econômicas fundamentais do país não exigirem uma deterioração da moeda”. 



542 - ...Conforme você pode observar na Figura 22.2, os países em desenvolvimento geralmente gastaram algumas reservas para se proteger durante a crise de 2007–2009. Compensar o aperto de liquidez do breve período.


543 - Modelo asiático segundo Krugman e demais: O que as economias de crescimento alto tinham em comum eram as taxas elevadas de poupança e investimento; melhoria rápida dos níveis educacionais entre a força de trabalho; taxas de inflação relativamente moderadas; e se não livre comércio, pelo menos, um elevado grau de abertura e integração com os mercados mundiais.


544 - ...Anos noventa marcam o interesse dos investidores estrangeiros pelos tigres asiáticos. Poupança externa choveu. Alguns economistas se preocuparam se esses déficits poderiam elevar o risco de uma crise semelhante à que atingiu o México no final de 1994, mas a maioria dos observadores avaliou os grandes fluxos de capital para as economias de crescimento tão rápido e estáveis do ponto de vista macroeconômico como justificados pela rentabilidade esperada das oportunidades de investimento.



545 - Outro ingrediente importante foi uma forte ênfase na educação. Mesmo em 1965, quando as EAADs ainda eram muito pobres, tinham taxas altas de inscrição na educação básica: em essência, todas as crianças receberam escolaridade básica em Hong Kong, Singapura e Coreia do Sul, e até mesmo a extremamente pobre Indonésia teve uma taxa de matrículas de 70%. Em 1987, taxas de matrícula no ensino secundário no Leste Asiático foram bem superiores às de países latino‑americanos, como o Brasil.


546 - Crise asiática e o mix perigoso de desregulamentação financeira e capitalismo de compadrio: Alguns analistas sugeriram que empréstimos excessivos, conduzidos pelo risco moral, ajudaram a criar um boom insustentável nas economias asiáticas — especialmente no setor imobiliário — que ocultou temporariamente a má qualidade de muitos dos investimentos; e o fim inevitável desse boom causou uma espiral descendente de diminuição dos preços e a falência dos bancos.


547 - Mencionam outra suposta fragilidade do modelo: Nas economias asiáticas ... a legislação falimentar era fraca, em parte porque o crescimento surpreendente das economias tinha tornado as falências corporativas um evento raro. Quando as coisas realmente ficaram ruins, desenvolveu‑se um impasse destrutivo. As empresas em dificuldades simplesmente deixavam de pagar suas dívidas.


548 - Tailândia foi a primeira a cair. Bolha imobiliária e acionária havia sido criada. Como no México, a desvalorização moderada só causou mais especulação e fuga de capitais. Especuladores começaram a atacar as demais economias com características parecidas. A lentidão do crescimento japonês em nada ajudava o cenário da época.


549 - Em cada caso, os governos foram confrontados com dilemas complicados, decorrentes em parte da dependência de suas economias do comércio e em parte do fato de que empresas e bancos nacionais tinham grandes dívidas denominadas em dólares. Se os países apenas permitissem que suas moedas caíssem, o aumento dos preços de importação teria ameaçado produzir inflação perigosa, e o súbito aumento do valor de dívidas em moeda nacional poderia ter empurrado muitos bancos potencialmente viáveis e empresas à falência. Por outro lado, defender as moedas exigiria pelo menos altas temporárias das taxas de juros para convencer os investidores a manter seu dinheiro no país, e essas taxas de juros altas produziriam uma crise econômica e causariam falência de bancos. O pacote de ajuda do FMI trouxe medidas recessivas (contração fiscal e etc.)


550 - Alguns déficits externos consideráveis viraram superávit muito pela queda das importações. No mais, países como a Malásia resolveram imitar China e Taiwan, que passaram relativamente bem pela crise, adotando controle de capitais.


551 - Felizmente, a crise na Ásia Oriental tinha “forma de V”: depois da contração acentuada da produção em 1998, o crescimento retornou em 1999, já que as moedas depreciadas estimulavam o aumento das exportações. No entanto, nem todas as economias da região se saíram igualmente bem, e resta a controvérsia sobre a eficácia do experimento da Malásia com controles de capital. As economias que, em vez disso, dependiam da ajuda do FMI, estavam geralmente infelizes com sua gestão da crise, que viam como desajeitada e intrusiva. Esses ressentimentos provaram ser duradouros: enquanto governos podem recorrer ao FMI para financiamento condicional no caso de uma parada brusca, os países da crise asiática juraram nunca mais fazê‑lo de novo. Essa determinação tem sido um motivo importante para o “autosseguro” com grandes estoques de reservas internacionais.


552 -  É perigoso para um país em desenvolvimento fixar sua taxa de câmbio, a menos que tenha os meios e o compro‑ misso de fazê‑lo, aconteça o que acontecer. Os países do Leste Asiático descobriram que a confiança nos destinos da taxa de câmbio oficial incentivou empréstimos em moeda estrangeira. No entanto, quando a desvalorização ocorreu, muito do setor financeiro e muitas corporações tornaram‑se insolventes, como resultado de extensas dívidas denominadas em moedas estrangeiras.


553 - Ainda a regulamentação: É claramente um erro abrir a conta financeira antes de pôr em vigor salvaguardas sólidas e a supervisão das instituições financeiras domésticas. A questão é a volatilidade excessiva e confusões que ela causa. ...os países em desenvolvimento devem atrasar a abertura da conta financeira até que o sistema financeiro nacional esteja forte o suficiente para suportar o, às vezes, violento fluxo e refluxo de capitais do mundo.


554 - O mercado de capitais é, então, um perigo por si só: Nenhuma das economias asiáticas com problemas tinha graves déficits, taxas excessivas de expansão monetária, níveis preocupantes de inflação ou qualquer dos outros indicadores que tradicionalmente têm sinalizado a vulnerabilidade a ataques especulativos.


555 - Lembram que a estabilidade do câmbio em países em desenvolvimento é mais importante que nos desenvolvidos. Estão sujeitos a movimentos mais violentos. Moeda mais "duvidosa", digamos assim.


556 - Controle de capitais como solução pro trilema: Como resultado, países poderiam atrelar suas taxas de câmbio durante longos períodos — produzir estabilidade cambial —, ainda assim desvalorizando suas moedas na ocasião, que oferecia autonomia monetária considerável. O problema principal com os controles foi que impuseram restrições onerosas em transações internacionais, assim reduzindo a eficiência e contribuindo para a corrupção. (...) Diante da crise asiática, China e Índia, por exemplo, colocaram planos de liberalizar suas contas de capital em espera; alguns países que tinham liberalizado os movimentos de capitais consideraram a possibilidade de promulgar restrições (como a Malásia de fato fez).


557 - Trazem soluções paliativas: mais transparência na situação e potencial das devedoras; bancos mais fortes (regulação rigorosa), linhas de crédito especial, como se fosse um emprestador de última instância (Tais linhas de crédito poderiam ser fornecidas por bancos privados, ou por organismos públicos, como o FMI.) etc. Algumas soluções nem dependem exatamente dos emergentes: Aumento influxos de capital de patrimônio em relação a influxos de dívida. A não ser que seja um pleito por privatizar o que ainda há de estatal.


558 - Alguns críticos conservadores acreditam que o FMI deve simplesmente ser abolido, argumentando que sua existência incentiva empréstimos irresponsáveis, ao fazer os mutuários e credores acreditarem que sempre serão salvos das consequências de suas ações — uma versão do argumento do risco moral já descrito.


559 - Abordam a lenta valorização controlada da moeda chinesa



560 - Dilema cambial chinês à época: Por essa razão, os grandes aumentos de reserva associados com a indexação da moeda da China causaram pressões inflacionárias na economia. As reservas cambiais têm crescido rapidamente, não só por causa do excedente da conta‑corrente da China, mas também por causa de influxos especulativos de dinheiro apostando em uma revalorização substancial da moeda. Para evitar atrair mais fluxos financeiros através de seus controles de capital porosos, a China tem hesitado em aumentar as taxas de juros e sufocar a inflação. No passado, no entanto, a inflação alta na China causou agitação social significativa.


561 - A solução - e acho que a seguiram nos últimos dez anos - para o que a China quer - estabilidade social, com desemprego e inflação controladas, sem causar recessão - seria aumentar o consumo em geral das famílias e governo (a "absorção"):



562 - Por que as teorias de que os fluxos de capitais iriam para os emergentes não tem se confirmado? Na verdade, os riscos de investir em vários dos países em desenvolvimento limitam sua atratividade para os investidores, tanto estrangeiros quanto nacionais; e esses riscos são intimamente relacionados com os desempenhos de baixo crescimento econômico dos países. (...) Em geral, os países em desenvolvimento não produtores de petróleo não tiveram os grandes déficits de conta‑corrente previstos pelas teorias de desenvolvimento simples. No início do século XXI, os desequilíbrios de conta‑corrente global expandiram‑se drasticamente, mas os países ricos ficaram com os déficits:



563 - A teoria só funcionou em alguns casos. O século XIX viu um boom em investimentos ultramarinos europeus, durante o qual Grã ‑Bretanha, o principal credor global, investiu cerca de 4% de sua renda no exterior anualmente pelas cinco décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial. Nurkse alegou que as condições do comodato presente foram muito especiais e improváveis de serem replica‑ das após a Segunda Guerra Mundial. A maioria do investimento, observou ele, fluiu para muito poucos países de “colonização recente”, financiando a infraestrutura (como estradas de ferro) necessária para as ondas de imigrantes europeus que acompanharam o fluxo de capital. Esses imigrantes transplantaram know‑how europeu, bem como instituições de governança que tornaram mais provável a utilização eficaz dos recursos de investimento. Não surpreendentemente, a maioria dos países beneficiários - notadamente Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos - são ricos, enquanto a maioria das economias mais pobres “extrativas”, que recebeu uma parcela muito menor de investimento estrangeiro antes de 1914, permanece pobre até hoje.


564 - Acemoglu e a explicação institucional completam esse quadro, retrocendendo alguns séculos antes: Primeiro, eles argumentam que o nível de mortalidade dos colonos determinou as instituições posteriores que regem os direitos de propriedade. (Esse é mais um caso da geografia influenciando o rendi‑ mento por meio de seu efeito sobre as instituições.) Em áreas com altas taxas de mortalidade (como o antigo Congo Belga, na África), os europeus não puderam se fixar com êxito. Muitas dessas áreas eram densamente povoadas antes de os europeus chegarem, e o objetivo dos colonizadores era saquear as riquezas o mais eficazmente possível, oprimindo os povos nativos no processo. As instituições criadas pelos europeus, portanto, foram direcionadas para o objetivo da extração de recursos, em vez de para a proteção dos direitos de propriedade, e essas instituições exploradoras foram dominadas por novas elites dominantes indígenas quando as antigas colônias alcançaram a independência. Em contrapartida, os próprios europeus se estabeleceram em regiões escassamente povoadas e de baixa mortalidade, como América do Norte e Austrália, e exigiram instituições que protegessem os direitos políticos e econômicos, salvaguardando a propriedade privada contra ataques arbitrários.


565 - Pior para a teoria: os países que cresceram mais rápido são os que têm invocado mais poupança interna e têm déficits menores em conta‑corrente (e muitas vezes, excedentes).


566 - Krugman e etc. colocam que há quem conteste, ainda, a vitória econométrica (dá detalhes lá) da teoria institucionalista sobre a suposta desimportância da geografia. De toda forma... Em um estudo recente, um grupo de economistas argumenta que a principal influência sobre as instituições é o capital humano, ou seja, as competências acumuladas e a educação da população. Mesmo uma ditadura autoritária pode estabelecer democracia e direitos de propriedade conforme seus cidadãos tornam‑ ‑se mais instruídos. Esses autores afirmam que a Coreia do Sul fez exatamente isso e sugerem que, talvez, o capital humano dos colonizadores europeus, não sua transplantação de instituições, foi o que impulsionou o crescimento.


567 - Os "pós-escritos" parecem mero adorno matemático. Então nem passei olho.


568 - Enfim... Livro chato, mas importante.




FIM!


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