Dados e Fatos (Mundo) - PP - O Embrião de Um Exército Anarquista (Parte II)
573 - Os comitês superiores da FAI-CNT não estavam muito satisfeitas com essa pulverização. Por isso mesmo, julho teve outros eventos: “A Plenária do dia 26 confirmou, por unanimidade, que a CNT seguiria sustentando a mesma posição, aprovada em 21 de julho, de participar deste novo organismo de colaboração de classes denominado CCMA”.
574 - Financiados da Generalidad: “Em 11 de agosto de 1936 se formaram as patrulhas de controle, como polícia revolucionária dependente do Comitê Central de Milícias Antifascistas (CCMA). (...) Só aproximadamente a metade dos patrulheiros tinha a caderneta da CNT ou era da FAI; a outra metade estava filiada às demais organizações componentes do CCMA: POUM, Esquerda Republicana Catalã (ERC) e o PSUC, fundamentalmente. Só quatro delegados de seção, dentre os onze existentes, eram da CNT: os de Pueblo Nuevo, Sants, San Andrés (Armonía) e Clot; outros quatros eram da ERC, três do PSUC e nenhum do POUM.” PSUC era o stalinismo.
575 - Com o governo da Generalidad, em 26 de setembro, a ideia era dissolver todos os comitês locais e formar as novas câmaras municipais. Cenetistas nisso: “Os dirigentes anarco-sindicalistas estavam submetidos a uma dupla pressão: por um lado a militância que resistia a suas ordens e por outro a acusação por parte das demais forças antifascistas de que era necessário cumprir a risca os decretos do governo, enquadrando os “incontrolados”.”
576 - Outro pecado da CCMA segundo o entrevistado: “a transformação das expropriações e o controle operário das fábricas em uma economia centralizada, controlada e dirigida pela Generalidad”.
577 - O governo da Generalidad passou a fazer propaganda contra os “incontrolados” devido à contundente resistência da militância confederal. A Coluna Durruti, após um tempo, se irritou e abandonou a frente, retornando à retaguarda.
578 - Resistência que, na primavera de 1937, cristalizou-se em um grande mal-estar, ao que se somou o descontentamento pelos desdobramentos da guerra, a inflação e a penúria de produtos de primeira necessidade, para desembocar então em uma crítica generalizada da militância de base cenetista à participação nos comitês superiores da CNT-FAI no governo, e a política antifascista e colaboracionista de seus dirigentes, os quais eram acusados pela perda das “conquistas revolucionárias do 19 de julho”.
579 - As colunas cabaram cedendo à militarização para defender a república, isto porque foram ameaçadas de ficar sem suprimentos.
580 - Antes, tentaram que os comitês de defesa se submetessem a mero anexo armado dos sindicatos, sem as tarefas organizativas que desempenhava.
581 - Crise de abastecimento de dezembro de 36: “Comorera atribuía a carência e o aumento no preço de alimentos à existência dos comitês de defesa, não ao açambarcamento e especulação dos varejistas”. Comorera defendia o livre comércio.
582 - Acusa a PSUC de querer quebrar a popularidade dos comitês de defesa e seus refeitórios populares: “Além disso, o PSUC encorajou a especulação por parte dos comerciantes, que implantaram uma autêntica ditadura sobre o preço de todos os alimentos, enriquecendo-se com a fome dos trabalhadores.”
583 - Em abril de 37, o “racha” com o governo da ‘Generalidad’ se intensificou. A plenária decidiu: “Retirar todos os homens que atualmente ocupam postos nos níveis antifascistas de governo. Construir um Comitê revolucionário antifascista para coordenar a luta armada contra o fascismo. Socializar imediatamente a indústria, o comércio e a agricultura.”
584 - Os comitês superiores da CNT/FAI não gostaram muito.
585 - A fome nos bairros populares de Barcelona continuava em abril e levou a saques e protestos.
586 - Em maio os stalinistas e afins começaram a tentar tomar pontos comandados pelos comitês. “Era uma luta inevitável entre o aparato estatal republicano, que reclamava o domínio absoluto sobre todas as competências que lhe eram “próprias”, e a defesa das “conquistas” do 19 de julho por parte dos cenetistas”. Resultado? Barricadas em Barcelona.
587 - A luta nas ruas foi impulsionada e realizada a partir dos comitês de defesa dos bairros (e só parcial e secundariamente por algum setor das patrulhas de controle). Embora não existisse uma ordem dos comitês superiores da CNT, que exerciam o posto de ministros em Valência e Barcelona, ou de qualquer outra organização, para mobilizar-se, levantando barricadas por toda a cidade, não significava que estas fossem puramente espontâneas, mas sim que foram o resultado das consignas lançadas pelos comitês de defesa.
588 - Os Amigos de Durruti não iniciaram a insurreição, mas foram os combatentes mais ativos nas barricadas. Queriam subtituir o governo por uma Junta Revolucionária.
589 - Em junho, a “Generalidad” conseguiu tomar as sedes dos comitês e punir muita gente. “Em que pese o decreto que exigia a desaparição de todos os grupos armados, a maioria resistiu até setembro de 1937”. Foram assaltados e dissolvidos um a um, com metralhadoras, tanques e granadas.
590 - Daí em diante, os stalinistas já eram tranquilamente predominantes no exército e Estado. “Em 1938 os revolucionários já estavam mortos, no cárcere, ou na mais absoluta clandestinidade. Não foi a ditadura de Franco, mas sim a República de Negrín quem sepultou a Revolução”.
591 - (Como é uma entrevista, a história toda ficou com várias lacunas explicativas. Creio que o ideal é complementar com outras leituras sobre o período).
592 - Nos comentários, há uma frase de Durruti que as revoluções devem ser totalitárias - política, econômica e social - se não quiserem ser derrotadas. Ou seja, há que se, no mínimo, destruir o Estado. Não basta coletivizar a produção.
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