Anarquistas - Textos Diversos XIII - O Bakuninismo (Anarco-Coletivismo) - Parte I

 

Coletivo Pró-Organização Anarquista em Goiás - O Bakuninismo (Anarco-Coletivismo):

242 - O “coletivismo anarquista”: surge no século XIX, tomando a sua forma a partir da década de 60, quando é formada a Fraternidade Internacional Revolucionária e, posteriormente, a Aliança da Democracia Socialista. Trata-se da primeira forma política do anarquismo, um primeiro agrupamento de anarquistas.

243 - A década de 40 teve anos de depressão profunda. As safras falharam e várias populações enfrentaram grande fome.

244 - Pensamento de Bakunin: “Trata-se antes de uma expressão da organização e luta dos trabalhadores de sua época que ele foi capaz de compreender, participar e formular como poucos. Consideramos importante dizer isto, porque para Bakunin não há pensamento puro. Todo o pensamento moderno encontra os seus elementos na vida real do povo, da multidão, da massa dos trabalhadores

245 - O materialismo do russo colocava o homem não como um movimento da consciência pura - como muito idealista gostaria. Dizia: a base real do homem, isto é, a condição de existência de todas as outras faculdades humanas, está assentada em duas necessidades fundamentais: a necessidade de garantir os meios de sua existência e a necessidade de reproduzi-la.

246 - Chega a afirmar que (depois é Marx que é economicista…) “toda a história intelectual e moral política e social da humanidade é um reflexo de sua história econômica”. Em outros trechos o mesmo Bakunin denunciará o “economicismo” de Marx pelo alemão supostamente não notar que o Estado reproduz e conserva a miséria econômica como condição para continuar existindo. Ou seja, há dialética entre economia e as outras esferas da vida. (Falando assim, o texto parece até acusar Marx de mecanicista grosseiro, materialista vulgar, ou sei lá o quê)

247 - Bakunin também traz a centralidade do trabalho, deixando claro que é coletivo: “O homem só se emancipa da pressão tirânica, que sobre todos exerce a natureza exterior, pelo trabalho coletivo; isto porque o trabalho individual, impotente e estéril, nunca poderia vencer a natureza”.

248 - A luta de classes também aparece como algo central para ele.

249 - Vem com a ideia de que a ignorância é necessariamente escravidão. Liberdade “limitada” é escravidão. Liberdade sem meios… “Esta é para Bakunin a condição positiva da liberdade, a de que ela só pode ocorrer quando todos os homens tenham não só o direito, mas os meios reais para desenvolver suas faculdades materiais, intelectuais e políticas. “ Assim, liberdade só é realmente liberdade quando a de “x” estende a de “y e todo mundo” ao infinito. Nas palavras dele: “A liberdade dos indivíduos não é absolutamente um fato individual, é um fato, um produto, coletivo. Nenhum homem poderia ser livre fora e sem o concurso de toda a sociedade humana”.

250 - Igualdade é eliminação da diversidade (chamada por Bakunin de “riqueza da humanidade?)? É o nivelamento das fortunas? Nada disso. Nas palavras dele: “A igualdade e a justiça reclamam unicamente: uma tal organização da sociedade que todo indivíduo humano encontre ao nascer, embora isto dependa não da natureza mas da sociedade, meios iguais para o desenvolvimento de sua infância e de sua adolescência até a idade de sua virilidade. Meios iguais primeiro para a sua educação e sua instrução, e mais tarde para o exercício das forças diferentes com que a natureza terá agraciado a cada um para o trabalho.”

251 - As associações operárias irão assumir as terra e os instrumentos de trabalho coletivos. Essa era a proposta. Proudhon é que considerava que deveria existir alguma forma de propriedade familiar. Bakunin não.

252 - As federações entre as associações surgiriam normalmente para regular oferta e procura entre as diversas localidades, regiões etc.

253 - Essas associações produtivas funcionam como a união de trabalhadores que realizam determinado trabalho. A associação será livre. O trabalhador se quiser desenvolver seu trabalho sozinho poderá. Porém, Bakunin acreditava que com exceção dos trabalhos em que a criatividade individual fosse importante, o homem tenderia a se associar, pois desta maneira trabalharia menos e ganharia mais.

254 - Herança é abolida. Até porque se alguém ficar muito rico pode querer e poder restaurar a exploração e a propriedade privada. Porém, os frutos do trabalho são garantidos a cada trabalhador em vida.

255 - Ir na contramão da ultraespecialização: “Quando o homem de ciência trabalhar e o trabalhador pensar, o trabalho inteligente e livre será considerado como o mais belo título de glória para a humanidade”.

256 - Nenhuma autoridade se petrifica. Porém, certa autoridade continuaria a existir. De qual tipo?: “Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta pela minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes uma parte muito pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez. Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e sobretudo voluntárias. “

257 - Os coletivistas não são espontaneistas. Crêem que o federalismo deve substituir o Estado como organização. É algo de baixo para cima, não o contrário.

258 - Os indivíduos se associam de igual para igual formando uma associação, as associações se associam livremente formando uma Comuna, uma Comuna se federa formando uma Nação, uma Nação se associa com outras Nações formando uma Comunidade Internacional. Bakunin, naquela época, chegou a colocar o “estados unidos da Europa” como ‘intermediário’ entre nações e comunidade internacional.

259 - Voltando à necessidade de “revolução intelectual”: “Mesmo que haja igualdade econômica, a minoria inteligente tenderá a encontrar meios de explorar a maioria ignorante.” É uma simplificação, mas dá pra entender o que Bakunin quer dizer.

260 - Como o trabalhador sem tempo/dinheiro alcançaria o nível de instrução dos capitalistas? Pergunta “xeque-mate” aos reformistas.

261 - Para Bakunin, é natural que logo após a revolução social, este progresso técnico tenda a diminuir. Entretanto, a longo prazo, com uma educação integral, a sociedade socialista alargaria o número de pessoas produzindo saber, e um saber não mais voltado para interesses supérfluos de uma classe luxuosa, possibilitando um crescimento tecnológico universal.

262 - Em Bakunin, somente a igualdade ao nascer pode levar à valorização da diversidade. Do contrário, o potencial do indivíduo fica limitado pelas barreiras criadas por sua condição de classe.

263 - Haveria tanto o ensino científico como industrial, ou seja, ainda na ideia de que trabalho manual e intelectual deve valer para todos. Tanto um quanto o outro devem ter dois períodos bem definidos. O geral, pra quando se é mais jovem, e o especial: “Este aprofundamento se dá na parte especial. Nesta, o jovem escolhe livremente o seu trabalho manual e sob a orientação de professores terá uma aprendizagem mais profunda sobre o trabalho que pretende desenvolver, ao mesmo tempo, o jovem escolhe a faculdade em que estudará, aprofundando a ciência a que pretende se dedicar. “

(continua...)

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