Anarquistas - Textos Diversos VIII - Socialismo de Estado e Anarquismo (Tucker)

 

Benjamin R. Tucker - Socialismo de Estado e Anarquismo:

153 - Pessoal do anarquismo individualista americano. Texto de 1888. Era defensor de (das ideias de) Proudhon também.

154 - Acreditava que após a vitória dos trabalhadores haveria uma batalha final entre os socialistas (chama “socialistas de Estado”, cultuadores da autoridade) e anarquistas, estes defendendo a liberdade.

155 - Afirma que o “americano” Warren - o avô dele (ou algo assim) foi combatente da independência dos EUA - percebeu, antes até de Marx e Proudhon, que Smith deixara de tocar na consequência do valor-trabalho. Qual? O capitalista rouba o trabalhador através da trindade da usura “lucro, juros e aluguel” já que o justo seria o trabalhador ter (nem que fosse comprando) o que produziu, cobrando-se apenas o “custo” no preço.

156 - Trindade da usura: “são simplesmente diferentes métodos de arrecadar tributos pelo uso do capital”.

157 - Segundo o autor, para Marx, a pá e a máquina de costura, por exemplo, são da coletividade, representada pelo Estado. O produto e o capital são coisas essencialmente diferentes; o primeiro pertence ao indivíduo, o último à sociedade.

158 - Para Tucker, o Estado assumir o controle de tudo é o mesmo que desestimular a responsabilidade individual. O povo se torna mero destinatário dos planos do Estado.

159 - Afirma que corre-se o risco de transformar tudo numa religião de Estado, se metendo em todos os assuntos (cita higiene, nutrição, planejamento familiar…) baseado em decisões de maiorias.

160 - Warren e Proudhon tinham outro caminho: “Eles viam na competição o grande nivelador de preços ao custo de produção do trabalho”.

161 - Por que os preços não caíam ao custo do trabalho? (...) A resposta era encontrada na presente competição unilateral. Foi descoberto que o capital tinha manipulado a legislação de modo que a competição ilimitada só era permitida na oferta de trabalho produtivo, assim mantendo os salários abaixo do ponto da fome, ou tão perto dele quanto possível; que uma grande porção de competição é permitida na oferta de trabalho distributivo, ou no trabalho das classes mercantis, assim mantendo, não os preços dos bens, mas os lucros dos mercadores sobre eles abaixo do ponto em que salários eqüitativos se aproximam do trabalho dos mercadores; mas que quase nenhuma competição é permitida na oferta de capital, da ajuda do qual tanto o trabalho produtivo quanto o distributivo dependem para seus completar suas realizações, assim mantendo a taxa de juros sobre o direito e sobre os aluguéis de residências e de terras num ponto tão alto quanto as necessidades das pessoas podem suportar. (Porém, o quanto seria possível ser de outro jeito no capitalismo? Afinal, há vantagens da economia de escala e etc. … Pra pensar)

162 - Proudhon e Warren teriam como solução, como já deu pra perceber, o absoluto livre comércio. Em vez de quebrar os monopólios com um grande monopólio estatal (Marx), pregaram a eliminação de privilégios. Tratava-se de abolir “o monopólio da moeda, da terra, das tarifas e das patentes. O primeiro em importância de sua influência nefasta eles consideravam o monopólio da moeda, que consiste num privilégio dado pelo governo a certos indivíduos, ou a indivíduos possuidores de certos tipos de propriedade, de emitir meios circulantes”. (De certa forma, a hierarquia faz sentido já que os bancos - no Brasil, o “Copom” é quase 100% a vontade deles - determinam os juros e os aluguéis, já que este precisam ser mais rentáveis que vender o prédio e “aplicar em juros”)

163 - Por isso, o “banco do povo” era uma grande aposta de Proudhon. Forçar os juros a caírem. (Não vejo como, eis que não serão muitos a emprestar muito dinheiro a preço de custo, logo a oferta ficaria esmagadoramente abaixo da demanda, tendo uns 99% desta que se deslocar para os grandes bancos...).

164 - … Queria criar com isso um ciclo virtuoso. Juros baixos ou inexistentes levam a mais e mais negócios, que aumentam demanda por trabalho, o que eleva os salários. (a não ser quando o detentor do capital tomado não tem expectativa de melhora na economia real, aí ele parte simplesmente para o investimento especulativo, fazendo subir preços de ativos - terra, por exemplo - e embolsando enquanto tem a vantagem de comprar barato)

165 - Quanto ao terceiro passo, fim dos monopólios das tarifas - e aqui se trata das alfandegárias -, há importante ressalva: “Proudhon insistia que o livre comércio de moeda em casa, tornando o dinheiro e o trabalho abundantes, era uma condição anterior ao livre comércio de bens com países estrangeiros.” Do contrário, um país não-protecionista vai ser inundado de importações mandando dinheiro para fora e deixando desprotegidos os trabalhadores da indústria local.

166 - Anarquismo não é a ausência de ordem, mas a de domínio.

167 - Polícia? Fora. A defesa será feita por “associações voluntárias e por cooperações de auto-defesa”. Ademais, crê que a pobreza e crime estarão praticamente abolidos com as mudanças na economia.

168 - Educação? Para os Warren da vida: “Os mentores e professores, assim como os médicos e pastores, precisam ser selecionados voluntariamente, e seus serviços precisam ser pagos por aqueles que os apadrinham”.

169 - Não vê com bons os que querem chegar ao anarquismo por métodos “coletivos” (ao menos foi o que entendi), eis que estes fogem à essência da anarquia - para Tucker, individualista. Ademais, sua vontade é que todos sejam proprietários (não ninguém).

170 - Em 1926 reviu suas teses. Quarenta anos antes acreditava que o remédio era aplicável. E agora? : “Enquanto o grupo da Standard Oil só controlava cinqüenta milhões de dólares, a instituição da livre competição o teria mutilado sem piedade; ele precisava do monopólio de moeda para sua sustentação e seu crescimento. Agora que ele controla, direta e indiretamente, talvez dez bilhões, ele vê no monopólio de moeda uma conveniência, para ser claro, mas não mais uma necessidade. Ele pode se sustentar sem isso. Se todas as restrições bancárias fossem removidas, o capital concentrado lidaria com sucesso com a nova situação sacrificando anualmente uma soma que removeria todo competidor do mercado.”

171 - Agora só forças políticas/revolucionárias podem combater isso. Porém, continua achando que não se deve educar para a guerra ou socialismo de Estado. Deve-se sim esclarecer a todos que tudo é culpa da “ausência de competição” para que possam pacificamente derrubar o sistema. (Enfim, esquisito.)

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