Dados e Fatos (Mundo) - PP Entrevista MWR - McDonald, Lições de Luta
PP Entrevista MWR - McDonald, Lições de Luta:
639 - MWR foi o McDonald’s World Resistance. Trata-se de uma entrevista com um dos organizadores do movimento. Há algumas partes sensacionais: “Se você tem milhares de contatos mas nenhum deles é capaz de criar uma estrutura no seu lugar de trabalho, então você tem mil vezes zero”.
640 - Nasceu em Glasgow e envolveu centenas de pessoas que não conheciam (pelo Reino Unido). Baseava-se na ação direta e não-hierarquia ou discriminações.
641 - O que os motivou não necessariamente ocorre sempre ou leva sempre à revolta, mas citou fatos: “
642 - Algumas características podem ser especiais desse tipo de emprego. Não era a primeira opção de ninguém e a rotatividade era alta. Ademais, geralmente eram jovens universitários ou de baixa qualificação.
643 - Outra coisa que nos ajudou a começar foi que, antes de qualquer organização explícita, os trabalhadores no nosso restaurante tinham laços sociais fortes. Todo mundo ia ao bar no dia do pagamento e muitos de nós nos tornamos amigos ou namoramos. Então, quando alguém disse “devíamos realmente fazer algo sobre isso”, não pareceu tão louco quando poderia parecer, e a rebelião se espalhou pelo nosso pequeno mundo incestuoso como uma doença venérea.
644 - Foi possível porque os que iniciaram eram respeitados em seu local de trabalho. “Experientes” e tal. Do contrário...
645 - Sindicatos? “Eles já usaram testes poligráficos para detectar simpatias sindicais, já foram condenados por assédio ilegal de organizadores sindicais em numerosas ocasiões e já fecharam restaurantes inteiros quando trabalhadores ameaçaram se organizar. Nunca houve um McDonald’s sindicalizado com sucesso em todo o mundo anglofônico. Nós até tentamos inicialmente – coletamos quarenta assinaturas de mais ou menos 60 trabalhadores – mas a rotatividade é tão alta que essa tática não é realista.”
646 - Ademais, coloca que, por razões econômicas, não vale a pena um sindicato investir em organizar locais de alta rotatividade e baixa qualificação.
647 - Nos primeiros dois anos, quando o grupo existia em apenas um restaurante, tivemos sucesso em diminuir o ritmo do trabalho, garantir que os bônus fossem pagos, nos opor à vitimização, etc. Mas qualquer luta aberta teria como resultado que todos nós fossem imediatamente despedidos.
648 - Calcularam que para ir além disso seria necessário um novo salto organizativo de esforços sem ganhos imediatos. Ou seja, articular todos os trabalhadores (da Mc, no mínimo). Valia a pena correr esse risco? Toparam.
649 - Era um grupo clandestino e baseado no anonimato. Por motivos óbvios. Melhor dizendo, eram grupos agindo em rede: “Alguns destes grupos eram muito ativos na produção de seus próprios panfletos e sites. Houve também vários grupos na Austrália e meia dúzia na América do Norte.”
650 - Chegavam relatos por e-mail, da Austrália, por exemplo, de chefes atribuindo fatos do dia a dia, que nada tinham a ver com o MWR e sim mera incompetência individual de fulano ou cicrana, a presença de infiltrados da resistência anônima!
651 - Após seis/sete anos de trabalho na Mc cansaram. Mesmo da organização, que parecia estagnada quando cresceu muito. “Perdia”-se horas respondendo e-mails, etc. E é claro que queríamos passar o trabalho organizativo para alguns outros grupos (na verdade, havíamos tentado fazer os trabalhadores contatarem um grupo mais próximo do seu local ao invés de nós, por anos), mas muitos deles haviam declinado em 2003.
652 - A rede parecia maior do que o que era, pois nem todo mundo conseguia organizar grupos no local de trabalho. Nem todos conseguiam ir além da simpatia e solidariedade (isso me lembra o “curtir” facebookiano). “Não estou desconsiderando essas redes, elas podem ser muito úteis (e eu acho que o MWR era) mas elas são úteis apenas na medida em que estão focadas em criar estruturas autônomas entre pessoas que tenham interações cotidianas. Estruturas autônomas entre pessoas que tenham interações cotidianas, é isso.”
653 - Defende que a comunicação seja para o público mais específico possível. Agir bem localmente.
654 - Diz que demandas salariais, maiores intervalos etc. podem ser pautas reformistas, atrasadas ou revolucionárias a depender do contexto, do quanto servem para empolgar e incentivar a organização autônoma. Não é sempre bom nem sempre ruim.
655 - Não crê na possibilidade de uma estrutura funcional e administrativa dentro de um quadro de tão alta rotatividade como na Mac.
656 - Penso que a revolução vai ser feita por trabalhadores enfrentando coletivamente as relações econômicas que empobrecem nossas vidas. Isso não vai vir por mágica, vai necessitar do esforço consciente de seções radicalizadas da classe, mas também vai envolver trabalhadores que vão para a Mesquita, usam rímel, preferem Middlemarch à Marx, acreditam no misticismo new age, dizem “Graças” antes das refeições ou… coletam antiguidades.
657 - Crê ser complicado tentar centralizar grupos em consensos sobre cada ação. Acha que os grupos devem ter autonomia para tomar suas próprias decisões e atos. Parece botar muita fé na “inspiração”. Uma certa pedagogia do exemplo.
658 - As relações de poder que queremos transformar não residem em governos ou “na rua”, mas estão permeadas na sociedade em relações econômicas e sociais. Como construir as novas estruturas de interação deve ser a pergunta número um de todo revolucionario, e não o que era a URSS ou como furar um cerco policial...
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