Anarquistas - Textos Diversos XIV - O Bakuninismo (Anarco-Coletivismo) - Parte II
(continuação...)
264 - E a autoridade do professor? Serviria para estimular um “processo em que a própria criança possa protagonizar a sua própria vida, decidindo o seu trabalho, os seus estudos e a sua forma de agir sobre o mundo”.
265 - A revolução deverá adquirir o caráter local no sentido de que não deverá começar por uma grande concentração de todas as forças revolucionárias de um país em um único ponto; nem adquirir jamais o caráter romanesco e burguês de uma expedição revolucionária, mas, surgindo ao mesmo tempo em todos os pontos de um país, terá o caráter de uma verdadeira revolução popular na qual tomarão igualmente parte mulheres, velhos, crianças e que, por isso mesmo, será invencível.
266 - Em 1961 começou a montar a Fraternidade Revolucionária Internacional. Clandestina, era como um pequeno partido de militantes que tinham extrema confiança política uns nos outros. Anos depois virou a “Aliança” e, em 1968, resolveram entrar na AIT, fundada em 1964, sob forte influência dos proudhonianos.
267 - Bakunin acreditava que os operários “aburguesados”, que se deixaram levar pelos altos salários, eram causa perdida. A “ralé” é que tinha potencial revolucionário.
268 - Para “chegar ao proletário”: “é preciso começar por lhe falar, não dos males gerais de todo o proletariado internacional, nem das causas gerais que lhe dão nascença, mas dos seus males particulares, quotidianos, privados. É preciso lhe falar de sua profissão e das condições do seu trabalho precisamente na localidade em que habita”.
269 - (Inclusive já li essa parte num “microtexto” anterior daqui. Vou aproveitar e pular árias outras que estou vendo aqui neste texto!).
270 - Em Bakunin, a aliança é para dar uma “direção revolucionária” às massas. É um complemento da Internacional. Não deve, porém, impor aos trabalhadores qualquer forma de organização. Deve, sim, influenciar (de forma natural, nunca oficial) os indivíduos mais influentes e inteligentes de cada localidade para que adotem os princípios da Aliança, digamos. (o argumento é que isso não se confunde com imposição)
271 - Chega a falar em “dirigir” a revolução. Tarefa da Aliança. O importante era “não ter poder de mando”. Pra não dar em merda. Trata-se de manter a organização horizontal - “mantendo o debate constante, e, sempre estimulados em cada ação a pensar qual é o meio mais correto e mais profundo, tratarão de construir um programa político vivo, de acordo com os seus próprios interesses, não fruto das cabeças brilhantes de alguns gênios, mas do movimento vivo e real das massas”.
272 - Nenhuma teoria filosófica ou política deve entrar, como fundamento essencial, e como condição oficial obrigatória, no programa da Internacional... Mas isto não implica que não possam e não devam ser livremente discutidas na Internacional todas as questões políticas e filosóficas. Pelo contrário, a existência de uma teoria oficial é que mataria, tornando-a absolutamente inútil, a discussão viva.
273 - A aliança era necessariamente uma minoria ativa. Os mais sinceros comprometidos com a revolução, dispostos a doar a vida. È como se fosse um partido diferente do “de massas”. Este tem programa menos amplo e mais coeso; altos níveis de exigência quanto aos membros e recrutamentos lentos.
274 - O partido de massas serve mais para arrecadar muito dinheiro e para fazer propaganda. Há pouco aprofundamento (por vezes se é reformista) e pouca unidade de ação, por abrigar correntes mais variadas. Os membros são pouco confiáveis, até pelo recrutamento rápido, o que dificulta/impossibilita planejar e executar ações revolucionárias. Disciplina… Responsabilidade coletiva… Tudo isso tem pouco aqui.
275 - A divisão de papéis não deve ser fixa, embora se deva levar em conta as habilidades de cada um nela. Importante: “Não deve existir nenhuma autoridade fixa e infalível, mas uma autoridade natural, em que todos mandam e todos obedecem”.
276 - Bakunin sobre a unidade de ação da Aliança: “Existirá uma perfeita solidariedade entre todos os membros aliados, de tal maneira que os acordos decididos pela maioria dos aliados serão obrigatórios para todos os demais, sacrificando-se sempre em benefício da unidade de ação, as apreciações particulares que puderem existir entre os membros”.
277 - Invoca dever de honra e engajamento voluntario para defender a necessidade de rígida disciplina. Seria necessária inclusive para proteger a segurança do companheiro.
278 - Recrutamento: Para a admissão de novos associados, se procederá, por sugestão de algum membro antigo, a nomeação de uma comissão encarregada de examinar detidamente o caráter e a situação do aspirante, que poderá ser admitido através dos votos da maioria dos associados, depois destes ouvirem o parecer da comissão examinadora.
279 - Enfim, importante separar os níveis. Senão se acaba botando programa “não-amplo” no nível social, o que levaria à “não-atração” de qualquer trabalhador.
280 - Da mesma forma, se uma organização anarquista não tenha uma clareza ideológica, um programa político coeso e claro, criamos não uma organização anarquista, mas um conjunto de indivíduos que não saberão como estimular o movimento social para além de suas lutas concretas. Caímos no reformismo e esquecemos que enquanto houver propriedade privada e Estado, a dominação e a exploração cairão sobre nós e sobre todos os trabalhadores e explorados.
281 - Preocupando-se muito mais com a organização econômica dos trabalhadores do que em divulgar as idéias libertárias, os coletivistas foram acusados de desmerecer um nível importante de atuação: a propaganda e a conscientização.
282 - Apesar de ser anarquista, o coletivo visualiza a necessidade de um período de transição, não só pela ideologia individualista ainda presente: “as forças produtivas de uma sociedade tendem a diminuir logo após a derrubada do poder da burguesia. Afinal, uma revolução geralmente passa por um período de guerra civil prolongado e a reorientação socialista da produção acaba por eliminar grande parte das forças produtivas acumuladas na sociedade capitalista.”
283 - A transição já teria o federalismo e a propriedade coletiva. Porém, não detalha o que entende por transição (afinal isso tudo também estará presente após a transição). Apenas no aspecto econômico. Deixa claro que a crítica que o “anarco-comunismo” faz ao bakuninismo (anarquismo coletivista) está correta apenas após a transição: “achamos que num primeiro momento, a proposta coletivista de dividir os produtos de acordo com o trabalho se torna mais viável, devendo ela sempre estar orientada para o avanço da consciência e das forças produtivas para que o socialismo anarco-comunista seja consolidado no futuro.”
284 - Bakunin antes de qualquer experiência socialista estatal: “a federação de todas as associações operárias de um país apenas não bastam para criar um poder capaz de lutar contra a coligação internacional de todos os capitais exploradores, do trabalho na Europa; a ciência demonstrou, por outro lado, que a questão da emancipação do trabalho não se trata de uma questão nacional; que nenhum país, mesmo que seja grande, poderoso, rico, pode, sem se arruinar e sem condenar todos os seus habitantes à miséria, empreender nenhuma transformação radical das relações do capital e do trabalho (...)”
285 - Discordam de Bakunin quanto à importância dos trabalhadores qualificados. Diz que, pela posição que ocupam, são fundamentais para abalar a economia com uma greve. O trabalhador precarizado tem “pouca bala”. Portanto, ambos são importantes.
286 - O coletivo crê que hoje em dia a clandestinidade (segredo da Aliança) pode ser flexibilizada, havendo inclusive algum espaço para propaganda, a fim de atrair sinceros decepcionados com o reformismo.
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