Econ - Textos Variados XVII (URSS e Keynes)
João Quartim de Moraes - O mito do fracasso econômico da URSS
663 - Professor de filosofia, mas vamos lá. Cita URSS, ascensão e queda: a economia política das relações da União Soviética com o mundo capitalista, livro publicado por Luís Fernandes em 1991.
664 - Acho que seria mais vantagens ler os trabalhos em que ele se baseia do que os argumentos dele. Serguei Kara-Murza, acadêmico russo de mérito internacionalmente reconhecido, professor na URSS e na Espanha, publicou na revista Gerónimo de Uztariz o ensaio “Qué le ocurrió a la Unión Soviética?”, no qual sustenta categoricamente que não havia crise na economia soviética quando Gorbachev lançou sua malfadada “perestroika” (Kara-Murza, 1994).
665 - A taxa de investimnto não tinha caído. (Sim, e daí?)
666 - Argumentos fracos e quando apresenta dados erra na interpretação deles.
667 - Ao comentar a derrocada da URSS em entrevista com o jornalista Ignacio Ramonet, Fidel Castro mencionou os desperdícios suscitados pelos preços muito baixos dos transportes públicos e do pão. Atribuiu essas disfunções à longa estabilidade não somente dos preços dos produtos básicos, mas também do caviar, que “tinha o mesmo preço desde a época de Stalin”. O pão estava tão barato que os camponeses alimentavam frangos com ele (Ramonet, 2006, p.360-361). Mas não é fácil distinguir claramente entre os desperdícios provenientes de erros de cálculo dos planejadores e os que decorrem de abusos dos próprios consumidores. Não escapa ao senso comum que tarifas muito baixas de água e energia estimulam gastos excessivos. Mas o controle do desperdício é facilmente planificável: basta fixar um limite razoável, acima do qual as tarifas sobem mais que proporcionalmente ao consumo. O expediente é utilizado por países expressamente capitalistas em situações de penúria.
668 - Mostra tabela mostrando número de televisões, vôos, moradias e telefones crescendo mesmo nos anos finais da URSS.
669 - Afirma que antes de 1985, as rendas do Estado soviético tinham sempre superado suas despesas; donde a responsabilidade da recente alta aguda das despesas relativamente às rendas deve ser atribuída diretamente a Gorbachev.
670 - No meu entender, o texto ignora os problemas reais. Realmente a URSS não era a tragédia que diziam e poderia ter continuado década de noventa à frente. Prova é o Brasil também com produtividade estagnada e sem qualquer revolução desde 80. Porém, não deixa de ser um fracasso real. Ambos.
Juan Ramón Rallo - A Revolução Russa foi um sucesso econômico ou não
671 - A renda per capita do país subiu de US $ 1.235 em 1916 para US $ 7.112. dólares internacionais em 1989 (todos descontando a inflação); isto é, a renda per capita multiplicada por 5,7 em 73 anos, o que equivale a um crescimento médio anual de 2,4%. Nesse mesmo período, por exemplo, os EUA multiplicou sua renda per capita 4,4 vezes, ou seja, um crescimento médio anual de 2%. Com base nesses números, a revolução parece ter sido um sucesso econômico completo.
672 - Entre 1890 e 1913, os territórios que mais tarde formariam a URSS experimentaram um crescimento em sua renda per capita de 866 dólares internacionais para 1.414 dólares, ou seja, um crescimento médio anual de 2,15%. (...) Em outras palavras, o czarismo, um regime econômico quase feudal e ainda fortemente agrário (em 1913, 72% da força de trabalho russa estava ligada à agricultura ), alcançou entre 1890 e 1913 um crescimento per capita análogo ao alcançado pelo "requintado" planejamento industrial industrial da URSS. (...) É verdade que, se estendermos o intervalo de anos, o crescimento da renda per capita anterior à revolução será reduzido (entre 1885 e 1913, o crescimento foi de 1,7%). (Rallo forçando a barra. Outra coisa é: por que 2013 e não 2017?)
673 - Seu ponto é: o modelo de crescimento stalinista não apenas se beneficiou de uma relativa estagnação da população, mas também de sua capacidade de coagir a população a economizar, o que permitiu aumentar a renda per capita mesmo às custas de a perda de bem-estar de sua própria população. (...) Se sua população cresce muito rápido, seu PIB tende a crescer mais rapidamente, mas, por outro lado, sua renda per capita tende a se expandir a uma taxa mais lenta (a menos que você consiga aumentar seu nível de poupança muito rapidamente para aumentar o estoque de capital por cidadão). A razão pode ser encontrada nos retornos decrescentes do trabalho: mais trabalho com o mesmo maquinário produz mais agregado, mas é marginalmente menos produtivo do que menos trabalho com o mesmo maquinário. (Ok, mas, com planejamento e regulação, coisa que odeiam, essa poupança é possível e até saudável/indicado)
674 - Continua usando “1913” sem explicar o porquê. Por fim, diz que Grécia, Portugal, Hong Kong (quase o triplo no final) e Japão e Cingapura (o dobro) partiram do mesmo ponto de PIB PPC e chegaram bem mais longe em 1989. Comparação escolhida a dedo, massa…
675 - (Também não lembro de Cingapura ou Portugal terem sido devastados por duas guerras civis e uma mundial, mas nem tou contando isso).
676 - Continua usando “1913” e 1916” e ignorando as quedas que a Guerra gerou em 16 e 17. E mesmo na guerra civil que não foi exatamente culpa da ECONOMIA soviética, que é o que ele quer analisar.
677 - Entre 1971 e 1989, o país apenas conseguiu um aumento médio na renda per capita de 1,2%, e se tomarmos 1991 como a data final da URSS, apenas 0 6% ao ano.
678 - Sobre a preferência supostamente insustentável no longo prazo (Coréia de hoje continua apostando que não) por bens de capital e taxas altas de investimento, afirma o seguinte: Algo semelhante a isso, é claro, também acontece nas economias capitalistas, mas em muito menor grau (o peso do investimento no PIB é geralmente entre 15 e 20%, enquanto na URSS alcançou quase 35%) e, acima de tudo, por decisão voluntária de seus cidadãos: eles são aqueles que escolhem quanto querem economizar (e investir) e quanto querem consumir (não na URSS, onde essa decisão foi imposta pelo planejamento central).
679 - … Resumindo, tudo isso foi ás custas do padrão de vida: entre 1928 e 1955 (período estritamente stalinista), a renda per capita aumentou 140%, mas o consumo per capita mal cresceu 30%. (...) Um caso extremo e dramático dessa economia draconiana imposta pelo stalinismo para financiar a industrialização do país foi o Holodomor : isto é, a grande fome ucraniana que matou mais de quatro milhões de pessoas.
680 - Os preços muito baixos estabelecidos pelo Estado para comandar parte das lavouras, a forte repressão estatal contra os agricultores que resistiram ao atracamento e as más condições climáticas afundaram a produção agrícola no início dos anos 30: e, apesar das más colheitas Como viviam em todo o país e especialmente na Ucrânia , o Estado soviético decidiu continuar requisitando-os para enviá-los às cidades, mas também para continuar exportando-os para financiar a importação de máquinas. Literalmente, Stalin optou por passar fome na população soviética para acompanhar o ritmo de sua industrialização. Poupança forçada na sua expressão mais desumanizante.
681 - Outro exemplo, muito menos dramático, mas também ilustrativo dos baixos padrões de vida derivados da economia forçada soviética, é o subinvestimento em moradias . Em 1980, a URSS tinha uma renda per capita comparável à da Espanha no início dos anos 1970: no entanto, 20% das famílias urbanas dividiam um apartamento com outras famílias (em 1960, o percentual subia para 60%) e 5% deles - normalmente solteiros - moravam em dormitórios dentro de fábricas.
682 - Para criticar a industrialização sob Stálin, afirma que a japonesa, no mesmo período, foi mais eficiente. (Não me parece válida a comparação. Ele mesmo fala em problemas climáticos nos excedentes da agricultura, por exemplo, e a URSS foi o país mais devastado pela II Guerra, mesmo com as bombas sobre o Japão). Ademais, continuam as escolhas arbitrárias de melhor modelo possível. Rallo força muito).
683 - Afirma que continuar apostando tudo na adição de bens de capital começou a falhar (surgiram os retornos decrescentes ao capital) a partir de 70 em razão do esgotamento do exército industrial de reserva que vinha dos campos. “ se o número de bens de capital aumentar, mas o número de trabalhadores não, a produtividade dos novos bens de capital tenderá a cair. Por exemplo, se um funcionário mal pode operar 10 máquinas diferentes, fornecê-lo com mais máquinas não aumentará substancialmente a produção doméstica” argumenta.
684 - Dados mostram que a produtividade média do capital começou a cair na Indústria, agricultura e construção a partir de 1960 até 1985. Não mostra o período anterior.
685 - Por outro lado, se uma economia acumula muitos bens de capital, aumenta o custo anual de manutenção e substituição dessa enorme infraestrutura ( algo especialmente sério se o novo investimento apresentar retornos decrescentes). Isso é verdade.
686 - Assim, a produtividade total dos fatores (variável que mede a parte do crescimento econômico que não pode ser explicada pelo mero acúmulo de novos fatores produtivos: mudança tecnológica, economias de escala, reestruturação para setores com alto valor agregado, complementaridades entre setores, melhorias organizacionais dentro das empresas, etc.) será interrompido durante os anos oitenta. (Esse deveria ter sido o ponto do texto o tempo todo. É a crítica que faço também).
Keynes - É impossível supor que nós possamos estimular a produção e o emprego, abstendo-se de gastar
687 - Trecho dos “Collected Writing do Keynes”. Esse texto completo está no Collected Writings vol XXI pages 334 -339. A data do texto é 1934.
688 - Critica financista e ortodoxos.
689 - Nós produzimos a fim de vender. Em outras palavras, nós produzimos em resposta aos gastos. É impossível supor que nós possamos estimular a produção e o emprego, abstendo-se de gastar. (...) Se todo mundo gasta mais, todo mundo é mais rico e ninguém é mais pobre. (...) Há apenas um limite para que o rendimento de uma nação possa ser aumentado desta forma: o limite fixado pela capacidade física de produzir. Abster-se de gastos em um momento de depressão, não só falha, do ponto de vista nacional, como significa desperdício de homens disponíveis, e desperdício de máquinas disponíveis, para não falar da miséria humana. Se por algum motivo os indivíduos que compõem a nação não estão dispostos, cada um em sua capacidade privada, a gastar o suficiente para empregar os recursos com os quais a nação é dotada, então é o governo – representante coletivo de todos os indivíduos deve preencher a lacuna. (...) Quando o governo toma emprestado para gastar, indubitavelmente a nação assume uma dívida. Mas é a dívida da nação para os seus próprios cidadãos, uma coisa muito diferente da dívida de um indivíduo privado. (...) Desta forma, uma determinada taxa de despesa governamental dará lugar a quatro ou cinco vezes mais emprego que um cálculo simplório sugeriria…Ao mesmo tempo, as receitas da tributação crescem à medida que o rendimento tributável da nação aumenta, e os valores da propriedade são restabelecidos.”
690 - Interessante que é quase uma síntese de toda a raiz keynesiana.
FIM
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