Econ - Hjalmar Schacht e a Economia Alemã (1920-1950) - Discussão Monetária II

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593 - No sul, Hitler fazia agitações. O governo comunista/social-democrata de Zeigner, na Saxônia, deu rédea solta ao terror vermelho. Em Hamburgo aconteceram lutas furiosas nas ruas durante dias, tendo sido mortos quinze policiais e 65 civis. ‘O país arrebentava em todas as suas fendas’, escreveu um observador. A inflação levava todos ao desespero. O perigo de uma revolução comunista era ameaçador.

594 - É aí que Schacht assume, com medo do comunismo. Chegou-se à conclusão de que o plano teria a introdução de uma nova moeda chamada de rentenmark, idéia formulada originalmente pelo professor e deputado Karl Helfferich (com o nome de roggenmark, ou seja, marco-centeio).

595 - A impressão das notas de rentenmark levou cerca de um mês para ficar pronta. Assim, no início, o rentenmark funcionou apenas como um indexador. Para Schacht, a aceitação da nova moeda pelo povo foi extraordinária. A demanda foi muito alta, sendo que filas se formavam para a aquisição do rentenmark, principalmente pelo fato de sua indexação ao dólar. (...) O segundo passo para o sucesso da estabilização foi o congelamento da taxa de câmbio, em 20 de novembro de 1923, dia histórico da estabilização monetária alemã. Nesse dia, 1 dólar alcançou a cotação de 4,2 trilhões de marcos, e 1 rentenmark foi cotado a 1 trilhão de marcos. Dessa forma, 1 rentenmark seria igual a 4,2 dólares.

596 - Gustavo Franco elaborou um resumo do pensamento de alguns economistas sobre o rentenmark: Sargent dizia que “embora tenha se atribuído um extraordinário efeito psicológico a essa mudança de unidade, é difícil atribuir qualquer efeito substancial ao que nada mais era que uma medida cosmética”; Angell referiu-se ao rentenmark como um truque de expectativas; Stolper definia como um artifício psicológico; e Graham como “nada mais que um novo tipo de papel inconversível”.

597 - Outro segredo do sucesso do rentenmark, segundo Franco (1995), foram a emissão limitada da nova moeda e o nível de reservas internacionais existentes em novembro de 1923, que garantia a cobertura de cerca de 70% da demanda por moeda estimada. Ainda segundo Franco (1995), outro importante fator para a estabilização foi a reforma fiscal da economia, que resultou no saneamento do déficit público. (...) Em 30 de agosto de 1924, foi promulgada a lei que introduzia o reichsmark como moeda oficial alemã a partir de 11 de outubro de 1924. Sua relação de paridade seria de 1 reichsmark para cada 1 rentenmark. O processo de substituição do rentenmark pelo reichsmark se deu de forma lenta, tendo sido fixado um limite máximo de dez anos para a retirada completa do rentenmark. Até 23 de agosto de 1926, o reichsmark manteve a paridade cambial como forma de garantir a equivalência com o dólar. A partir dessa data, esse sistema de âncora cambial foi abandonado e a taxa cambial passou a flutuar de acordo com as condições de mercado (Bresciani-Turroni, 1989). 

 598 - O presidente do Banco da Inglaterra ajudou no passo seguinte: Norman concordou com a idéia de Schacht sobre o novo banco e aprovou o empréstimo, equivalente a 100 milhões de marcos em moeda estrangeira. Os juros cobrados seriam de 5% ao ano, metade dos juros internos cobrados na Alemanha. Os outros 100 milhões de marcos foram facilmente conseguidos dentro da própria Alemanha. O Golddiskontbank foi oficialmente criado em 13 de março de 1924, e sua direção estava nas mãos do Reichsbank: “Até a derrota no ano de 1945, o banco contribuiria com sucesso, como um instrumento do Reichsbank, para o apoio da moeda e para o fomento da exportação alemã” 

599 - Conferência de Dawes deu uma aliviada na coisa: O Plano Dawes foi assinado por ambas as partes em agosto de 1924, porém o total das reparações não foi fixado. O relatório final do Plano tinha os seguintes pontos principais: a) reforma monetária para estabilizar o marco (já realizada por Schacht - chegou a cessar crédito bancário para conter especulação cambial, sob protestos dos agentes econômicos - “Uma carta de Mr. Bates (secretário do Plano Dawes) a Owen D. Young nos mostra a situação vivida na época: “Desde janeiro deste ano, Schacht foi um baluarte em Berlim no pleno sentido da palavra (...) Para evitar uma nova inflação recusou-se a conceder crédito a tal ponto que alguns ramos da economia alemã fracassaram. Apesar de cartas de ameaça, crítica aberta e oposição política provou, sem pestanejar, uma coragem extraordinária); b) criação de novos impostos, para sanear o déficit público; c) revisão dos valores das reparações (o montante a ser pago anualmente seria de 1 bilhão de marcos-ouro nos quatro primeiros anos, e depois 2,5 bilhões pelos anos seguintes); d) empréstimos oferecidos pelos Estados Unidos; e) a França retiraria parte de suas tropas da Alemanha; f) reestruturação do Reichsbank, com a introdução de um grêmio fiscalizador (Schacht, 1999; Bubholz e Dasista, 2002).

600 -  O Plano Dawes e o respeito que o Reichsbank adquiriu sob o comando de Schacht recolocavam a Alemanha de volta ao mercado internacional de créditos.

601 - De toda forma, o estrangulamento permanecia (o pagamento sequer era real mesmo): “A Alemanha pagava as reparações com “(...) dinheiro emprestado e não com os excedentes de exportação. Era só questão de tempo, até que a Alemanha não tivesse mais condições de efetuar pagamento em moeda estrangeira”. (...) A dívida externa aumentou sem cessar até a crise de 1931: “Todos os seis anos de meu primeiro mandato na presidência do banco foram utilizados para a luta pelo controle de nossa dívida externa” 

(continua...)

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