Econ - Hjalmar Schacht e a Economia Alemã (1920-1950) - Discussão Monetária IV

 (continuação...)

612 - A mágica da recuperação keynesiana foi criar uma sociedade anônima baseada no prestígio de quatro grandes empresas alemãs (Siemens, Krupp) para captar empréstimos externos (governo bagunçado estava sem moral) e usar em obras públicas para eliminar o desemprego (e depois em armamento).  Essa empresa privada emitiria títulos (Saques Mefo), garantidos pelo governo, e que poderiam ser descontados na rede bancária alemã, depois de determinado prazo. Os bancos, por sua vez, poderiam trocar os Saques Mefo por marcos diretamente no caixa do Reichsbank, respeitando também certos prazos. Os títulos pagariam juros de 4% ao ano. O governo alemão, de posse desses títulos, passou a pagar suas despesas com as empresas fornecedoras por meio dos Saques Mefo, sem emitir papel-moeda. As empresas, entretanto, preferiram não descontar os títulos, pois rendiam juros anuais significativos para uma economia estabilizada. (...) Como os saques davam 4% de juros e podiam ser trocados a qualquer momento pelo Reichsbank, substituíam, por assim dizer, o caixa em espécie, que de resto era mantido, e além disso ofereciam o lucro dos juros. Esse sistema tornou possível que cerca de seis milhões de marcos em saques Mefo, cuja circulação total em quatro anos aos poucos subiu para 12 milhões de marcos, fossem absorvidos pelo mercado, não indo portanto para o Reichsbank. Com isso evitou-se qualquer efeito inflacionário do financiamento da geração de empregos e qualquer desvalorização monetária.

613 - Sua instituição de crédito num país que tinha pequeno capital líquido e quase nenhuma reserva financeira, foi obra de gênio ou, como alguns dizem, de manobras de mestre. 

614 - Em 34 Hitler usou a morte do presidente para unificar os cargos e deu o Ministério das Finanças para Schacht. (...) “Hitler me concedeu no Ministério a mesma liberdade e autonomia que tinha no Reichsbank. Não entendia absolutamente nada de economia. Contanto que eu mantivesse a balança comercial em ordem e providenciasse as divisas necessárias, não se preocupava como eu conseguia fazê-lo. Até o outono de 1936, Hitler não tolerou nenhuma medida que me atingisse em meu trabalho. Depois houve o chamado ‘segundo Plano Quadrienal’, que provocou rapidamente minha saída do Ministério da Economia” .

615 - Afirma que repudiava a política antissemita e belicista do nazismo. Sei não. Dizem que foi mentira pra se livrar de Nuremberg: Shirer (1964a, p. 386-387) afirma com convicção, baseado em documentos oficiais escritos por Schacht, que o presidente do Reichsbank teve papel fundamental no rearmamento alemão para a guerra. Destacou trechos onde este se gaba de estar montando a economia de guerra inclusive a partir do capital de judeus expropriados. 

616 - Schacht continuou em outro ministério só para manter aparências e evitar reação externa e interna à sua saída. Diante da impossibilidade de lançar novos empréstimos ao público, Hitler sugeriu a Schacht a emissão de moeda para cobrir os gastos com armamento. A resposta da direção do Reichsbank foi dada por escrito, em 7 de janeiro de 1939: A moeda vem sendo ameaçada substancialmente pelos gastos desmedidos do setor público. O aumento desenfreado dos gastos públicos aniquila qualquer tentativa de um orçamento equilibrado, leva as finanças públicas à beira da falência, apesar do aumento imenso da carga tributária, e arruína com isso o banco de emissão e a moeda. Não existe receita, por mais genial e refinada, nem sistema de técnica financeira e monetária, nem organização e nem medidas de controle que sejam suficientemente eficientes para deter os efeitos arrasadores, sobre a moeda, de uma administração de despesas descontrolada. Nenhum banco de emissão é capaz de manter a moeda, contra uma política de gastos inflacionária por parte do Estado.

617 - Segundo Franco (1999, p. 30), o mundo inteiro acostumou a ver Schacht como o “czar econômico do nazismo e um dos mais poderosos e influentes homens do Führer”

618 - Schacht pediu demissão de seu “ministério sem pasta” em fevereiro de 1942. Sua demissão, novamente, não foi aceita por Hitler. Passado quase um ano desse episódio, Schacht escreveu uma carta a Göring, criticando seu projeto de convocar estudantes de 15 anos para o serviço militar. Tomando conhecimento da carta, Hitler decretou, finalmente, a demissão de Schacht em janeiro de 1943. Estava com 67 anos. (...) Descontente com a situação da Alemanha durante a guerra, participou de um plano para assassinar Hitler. O fracasso do atentado levou seus mentores para a cadeia, inclusive Schacht, em julho de 1944. 

619 - Schacht (...)  publicou “Mais dinheiro, mais capital, mais trabalho”, terminado em setembro de 1949. (...): “Um aumento da circulação monetária que se mantenha em consonância com o aumento das transações econômicas não é de nenhum modo inflacionário, e é indistinto que no transcurso de um desenvolvimento aproximadamente correlativo, um ou outro fator dê o impulso inicial. Em princípio todo crédito é inflacionário, porque produz um movimento de forças de capital maiores que as existentes”. (...) Como exemplo, lembrou os Saques Mefo que financiaram as obras públicas na Alemanha e, entre 1933 e 1935, extinguiram o desemprego de 6,5 milhões de pessoas, sem criar inflação: “Não se produziu nenhum efeito inflacionário, porque o volume de bens cresceu rapidamente de forma tal, que ofereceu um equivalente ao incremento do volume monetário” 

620 - Balanço de Schacht dos anos 34-38: O terceiro êxito foi a recuperação de uma balança comercial equilibrada através da introdução de tratados comerciais e de compensação bilaterais com os países que suplementavam a economia alemã, abandonando a política praticada até então de tratamento preferencial de nação mais favorecida, que atendia aos interesses apenas dos países economicamente fortes (...) Entretanto, esses êxitos foram sombreados por acontecimentos históricos trágicos. Minha política monetária foi frustrada pelo endividamento desenfreado dos governos de Weimar e pela chantagem das reparações de nossos inimigos. Minha política comercial e de geração de empregos foi destruída pela loucura da guerra hitlerista.

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