Econ - Fernando Dall'Acqua - Crescimento e Estabilização na Coréia do Sul 1950-86 III

 (continuação...)

530 - A desvalorização do câmbio só ocorreu no início de 1980, quando as medidas contracionistas já estavam reduzindo a absorção doméstica. A Coréia beneficiou-se, assim, por ter iniciado o ajustamento econômico em 1979, antes que os empréstimos externos voluntários cessassem com a crise da dívida externa de 1982.

531 - O ajuste no Brasil chegou tarde: O objetivo prioritário era equacionar rapidamente o desequilíbrio externo, o que forçou uma brutal mudança de preços relativos e uma dramática compressão da demanda doméstica que liberasse recursos para exportação.

532 - A Coréia seguiu uma trajetória econômica inversa. Inicialmente, o programa resultou em uma forte recessão. Em 1980, o PIB declinou 5,2%, o primeiro resultado negativo de toda a história moderna da Coréia, ao mesmo tempo em que o déficit em transações correntes alcançava o recorde de 8,7% do PIB. Logo a seguir, a economia iniciou uma firme recuperação. A produção aumentou 6,2% em 1981 e 5,6% em 1982, estimulada por uma gradual flexibilização da política fiscal e monetária iniciada no fmal de 1980. O déficit em transações correntes também diminui de quase 9% do PIB em 1980 para cerca de 4% em 1982, sem que isto significasse aumento das pressões inflacionárias. A taxa de inflação, que havia atingido 34,6% em 1980, cai para cerca de 12% em 1981 e 5% em 1982.

533 - Década de 80: Finalmente, à diferença de outros devedores do Terceiro Mundo, a Coréia conseguiu gerar superávits comerciais suficientes não apenas para honrar os serviços, como também para reduzir o estoque da dívida.

534 - Quinto plano quinquenal: “prioridade às chamadas Intensive Tecllnology Industries, tais como maquinaria de precisão, eletrônica sofisticada (TV, VTR, microondas), comunicações e informática. “

535 - A desigualdade (Gini) no campo cresceu entre 65 e 80. No setor urbano, os indicadores acima apresentam alguma melhora, o que sugere que o modelo exportador de base essencialmente industrial não tem, na realidade, um forte componente concentrador da renda.

536 - Segundo a Federação das Indústrias Coreanas (FKI), os 30 maiores chaebols controlam atualmente cerca de 40% do produto nacional bruto. (1991 o texto)

537 - Críticas: Segundo Yul Rbee, "com uma razão débito/haveres de aproximadamente 4,5:1 em 1983 (contra 3,6:1 para o conjunto do setor manufatureiro), os chaebols são incluídos entre as corporações de pior estrutura financeira no mundo" (1989, p. 204).

538 - Em 1986, reformas prevêem intervenções mais limitadas e eficientes: foi aprovada uma nova legislação industrial que restringe a intervenção do governo a: 1) segmentos industriais onde a competitividade internacional, embora vital para a economia, não pode ser alcançada de imediato; 2) segmentos industriais em declínio, para aliviar o impacto da liquidação.

539 - Atenuaram-se as restrições quantitativas às importações e promoveu-se uma gradual diminuição da tarifa média nominal de 24% em 1983 para 13% em 1988. Em relação ao investimento estrangeiro, aboliram-se restrições à repatriação de capital e à participação estrangeira em empreendimentos domésticos. Isto estimulou um aumento do investimento estrangeiro direto de uma média de US$ 130 milhões durante 1980-83 para US$ 665 milhões entre 1986-88. Enfim… “o liberalismo recente não foi modelado dentro da estratégia de implementação da industrialização "para fora", nem foi promovida em resposta à crise da dívida externa.”

540 - De 1981 a 1984 a poupança externa foi sendo cada vez menos responsável pelo total da taxa de investimento. Já antes… : Nos anos 70, por exemplo, o déficit em conta corrente representou quase 30% do investimento fixo total. (...) Entre 1980-81, a poupança externa alcançou cerca de 7% do PIB, o que permitiu sustentar uma taxa de investimento, apesar de uma dramática queda na poupança doméstica. Dessa forma, a Coréia beneficiava-se por ter iniciado seu ajustamento econômico antes que os empréstimos externos voluntários cessassem com a crise financeira internacional de 1982.

541 - O uso dessa poupança externa em 79-80-81 (desequilíbrio externo) fez com que a dívida chegasse a 53% do PIB e ameaçasse o modelo (já que não poderia continuar crescendo sem, limite o endividamento externo). Aparentemente, só havia uma maneira de vencer esse desafio: Sustentar uma alta taxa de crescimento ao mesmo tempo em que se reduz a demanda por capital externo implica, no entanto, aumentar a poupança doméstica para garantir uma taxa adequada de investimento. Foi o que se fez.

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