Econ - Fernando Dall'Acqua - Crescimento e Estabilização na Coréia do Sul 1950-86 II

 (continuação...)

522 - Particularmente na década de 70, para induzir o relutante setor privado a investir nas indústrias química e de maquinaria pesada, o governo ampliou o controle sobre o sistema bancário para conceder empréstimos preferenciais e incentivos, através de taxas de juros favorecidas. Em outras palavras, o governo selecionava empresas para empreender novos projetos nas áreas prioritárias e garantia crédito subsidiado para viabilizar os investimentos. (...) Dessa forma, ajudava a criar enormes conglomerados (chaebols) e uma estrutura industrial altamente concentrada.

523 - Diferença com o Japão: enquanto "no Japão se preservou a prática de subcontratação pela qual as pequenas empresas desempenham um importante papel no suprimento de componentes e materiais às grandes empresas, na Coréia a industrialização foi acompanhada pela integração vertical para se alcançar as vantagens associadas às economias de escala".

524 - O quarto plano qüinqüenal de desenvolvimento econômico, cobrindo o período 1977-81, enfatiza (1) a inovação tecnológica; (2) melhora da eficiência administrativa; e, mais uma vez, (3) geração de superávit comercial, visando a reduzir a dependência ao capital externo.

525 - A alta do preço do petróleo provocara um salto da taxa de inflação de 13,4% em 1973 para 29,5% em 1974. Para conter a aceleração inflacionária, as autoridades econômicas adotaram políticas contracionistas. O efeito recessivo dessas políticas, somado ao clima de instabilidade política causado pelo assassinato do Presidente Park, provocou uma firme desaceleração econômica (Kim, 1989). A taxa média de crescimento econômico caiu de 10% para 5,5%, da primeira para a segunda metade da década de 70 (tabela 1).

526 - O choque do petróleo e afins impossibilitava que se largasse de mão o câmbio, sob pena de perder total controle sobre a espiral inflacionária. Porém, vale dizer: A utilização da política cambial como instrumento de controle inflacionário só foi possível na medida em que as agências financeiras externas dispuseram-se a financiar os crescentes déficits no balanço de pagamentos. (...) quando se tem uma estrutura de exportação fortemente dependente de importações, uma política cambial agressiva não facilita necessariamente as exportações, mas, sim, pressiona a inflação doméstica, além de agravar o desequilíbrio fiscal. (...) Daí, a expansão das exportações deve centrar-se principalmente em incentivos indiretos e no estímulo ao incremento da produtividade

527 - Brasil vinha como a Coréia, mas fez o contrário. Usou política cambial em vez de incentivos: No caso do Brasil, o esforço para aumentar as exportações foi centrado no sinal de preços, praticando-se uma política cambial ativa que resultou em um aumento da taxa de câmbio real, sobretudo no final da década de 70. (...) o Brasil adotava uma política cambiai ativa, com o objetivo de reequilibrar o balanço de pagamentos. Gráficos do texto mostram. Assim: o Brasil até se manteve aquecido e com exportações crescentes até 80. Porém, se deu mal com a inflação, como sabemos. Dessa forma, os salários reais não foram contidos, nem foram adotadas medidas monetárias e fiscais restritivas, o que era coerente com a estratégia de não bloquear o crescimento econômico. Para aumentar o superávit comercial, promoveu-se uma maxidesvalorização do câmbio de 30%. (...) No Brasil, a estratégia de ajustamento com crescimento falhou. Inicialmente, a economia seguiu uma trajetória de crescimento, o que foi precipitadamente aclamado como acerto da política do Ministro Delfim Neto. Logo a seguir, apareceram os custos, através do agravamento dos desequilíbrios interno e externo.

528 - No final dos anos 70, tal como ocorreu com outros países em desenvolvimento, a economia coreana enfrentou uma grave crise econômica, provocada por choques externos e internos, que agravaram os desequilíbrios estruturais existentes. Pelo lado externo, a alta da taxa de juros elevou os serviços da dívida externa ao mesmo tempo em que o segundo choque do petróleo pressionava as importações e a inflação doméstica. Pelo lado interno, agravavam-se os problemas de desequilíbrio e ineficiência industrial, associados ao investimento excessivo nas indústrias pesada e química. A essas dificuldades estruturais somavam-se outras de natureza conjuntural.

529 - A Coréia fez um passo atrás (fim dos anos 70) para dar dois na frente. Políticas recessivas. Reduziu e adiou gastos. O câmbio chegou a apreciar para domar a inflação. Aceitaram o agravamento do desequilíbrio externo.

(continua...)

Comentários