Econ - Textos Variados XVI
Francisco Primeiro (Medium) - Tarifa e crescimento do EUA na segunda metade do século XIX:
558 - Argumentos baseados em um “paper”: (i) o crescimento do EUA na segunda metade do século XIX se deve mais à expansão populacional e acúmulo de capital do que o crescimento da produtividade; (ii) tarifas desencorajaram o acúmulo de capital ao aumentar os preços de bens de capital importados; (iii) o crescimento da produtividade foi maior em setores não-comercializados (como serviços e utilitários) onde a performance não foi diretamente relacionada com a tarifa.
559 - De fato existe uma correlação com altas tarifas e o crescimento econômico na segunda metade do século XIX, mas correlação não implica causalidade.
560 - A tabela 1 apresenta uma simples comparação da performance econômica do EUA e da U.K (a.k.a, Grã-Bretanha), durante 1870 até 1913, usando dados de Maddison. Nesses 43 anos o PIB real cresceu muito mais rápido no EUA que no U.K. Bairoch (1993) argumenta que “os fatos constituem um paradoxo para os defensores do livre-comércio”. Mas… Pelo mesmo gráfico usado se percebe que: O ritmo do acúmulo de capital no EUA excede o do U.K em um fator maior que 3 nesse período. Depois de contar o acúmulo de capital, o PTF (produtividade total dos fatores) residual aparece, a surpresa é que ele é comparável nas duas economias. Em outras palavras, a razão do crescimento da produtividade medindo as mudanças na eficiência que as duas economias usavam seus recursos é praticamente o mesmo nas duas economias.
561 - Então o autor compara o crescimento dos EUA de 1950 a 1992 e conclui que o período do “livre-comércio” o crescimento da PTF foi muito maior.
562 - Depois o argumento para negar que protecionismo gera acúmulo de capital (eu poderia adicionar mantendo a produtividade PTF? Já que UK deu no mesmo) é desenvolvido a meu ver de maneira pobre, ou seja, tratando dos efeitos negativos do protecionismo (que são óbvios e consensuais) sem mencionar o que ele tem em si de possibilidade de gerar acúmulo de capital! Que é justamente o que ele queria negar. Mais bens de capital seriam importados?! Decerto! Porém, e os efeitos negativos da competição de indústrias já desenvolvidas e de maior escala de outros países? E o algum incentivo à exportação e as benesses da mesma? Nenhuma linha.
563 - Sobre o argumento de que as tarifas deslocavam mão-de-obra dos setores menos produtivos (agricultura, que crescia a PTF a 0,8% nas décadas) para a indústria (que crescia a 1,2% a PTF), diz que o impacto matemático disso não é muito grande (desconfio da conta que o paper fez, por sinal) e diz que não tem como provar que essa transferência é quem gera a alta taxa de 1,2% (ganhos de escala talvez? “Poderia o nível da produtividade depender da tarifa?” As especulações pró-protecionismo são sempre descartadas como impróprias arbitrariamente...)
564 - A seguir, outro argumento do tipo é descartado com a mesma lógica pobre: indústrias falharam, indústrias floresceram. Vários motivos para tanto. Quando deu certo, contra-argumenta que outros fatores concorrem para tal. Quando falhou, bota a culpa exclusivamente no fator protecionismo. Falta demonstrar. É como se pedisse para acreditarmos. O florescimento, para o autor, nada tem a ver com um protecionismo anterior, apenas com alguma mudança (que realmente ocorreu) do preço externo. Essa mudança adiantaria se não tivesse uma indústria nascente protegida? Passa por cima dessa reflexão.
565 - Em suma, muita da correlação entre tarifas e produtividade são elusivas. Para cada argumento especulativo que as tarifas promoveram uma produtividade maior por diferentes meios, tem um contra-argumento igualmente forte. As tarifas podem até ter promovido um aumento da produtividade no setor manufatureiro, mas também pode danificar a eficiência por blindar empresas ineficientes da competição estrangeira. (Aqui o texto me parece mais sensato, mas também seria um equívoco considerar que ele prova que o protecionismo foi ruim)
566 - GDP dos EUA ultrapassou UK já na virada do Século. (Por sinal, em 1860 já eram quase iguais). Francisco conclui que “as tarifas dificultaram o acúmulo de capital no EUA, e setores não-comercializados como utilitários, e outros serviços, que acumularam capital mais rapidamente que o setor manufatureiro, promoveram o crescimento da produtividade americana, o que ajudou o EUA a ultrapassar o U.K em renda per capita. Esses setores não-comercializados foram a chave do crescimento econômico no EUA”. (Aqui volta a audácia. E tais setores são totalmente independentes do que ocorre com o primeiro? Mais superficialidade).
Francisco Primeiro (Medium) - Uma análise da economia soviética:
567 - Krugman e URSS: expansão do emprego, aumentos no nível de educação [capital humano também influencia na produção], e, acima de tudo, investimentos massivos em capital fixo. […] o rápido crescimento da economia soviética foi baseado inteiramente em um atributo: a sua disposição para poupar, para sacrificar o consumo atual para a produção futura.[…] A taxa de eficiência econômica não era somente irrelevante, ela era, de fato, por algumas estimativas, virtualmente inexistente.
568 - Estatais soviéticas e suas metas: Quando o plano era formulado em termos de toneladas de lâminas de aço, o aço era fabricado mais pesado. Quando era expresso em termos da área das lâminas, estas saíam mais finais. Quando a meta da fabricação de lustres era colocada em toneladas, os lustres eram tão pesados que mal conseguiam suster-se nos tetos.
569 - O sistema de preços a partir dos quais eram calculados os lucros era quase completamente desconectado com o valor de eventuais inovações ou novas tecnologias. Ao contrário das economias de mercado, os preços na URSS eram definidos pelo governo, mantendo, pois, pouca ou nenhuma relação com o valor. (Se a crítica é justa? Só estudando, mas não duvido).
570 - Em 1928, os bens de consumo compunham 60.5% da produção da indústria soviética, e os bens de capital apenas 39.5%. (...) Em 1966 chega a se tornar absurdo, bens de capital formavam 74.4% da produção industrial soviética, contra 25.6% dos bens de consumo. Isso se mantém até 1975, pelo gráfico.
571 - Durante o período de rápido crescimento econômico, o investimento subiram substancialmente, de 14% em 1950, para quase 30% em 1973. Então o crescimento dos investimentos foi maior que o crescimento do PIB no período.
572 - Usando o deslocamento da agricultura para outros setores como um guia, estima-se que a força laboral, ajustada por mudanças qualitativas, crescia-se a uma taxa de 2.8% por ano — uma taxa considerável.
573 - Por 38 anos o estoque de capital cresceu a uma taxa extraordinária de 6.5% por ano. (...) De 8% do PNB em 1927, o investimento saltou para 21% em 1937, caiu durante a guerra, depois aumentou até alcançar 31% do PNB em 1958, a um nível que se manteve estável a partir daí. (...) Depois da guerra, o acúmulo de capital na URSS foi fenomenal: em 16 anos, entre 1950 e 1966, o estoque de capital soviético quadruplicou!
574 - Um estudo de Janet Chapman da Universidade de Pittsburgh indica que o salário real do trabalhador urbano na URSS caiu depois de 1928 e não chegou ao nível de 1928 até aproximadamente 1958. A renda dos fazendeiros seguiu por um caminho similar. Assim, aparenta que somente depois da década de 1960 o trabalhador soviético foi ter algum ganho pessoal de bem-estar com o crescimento da economia como um todo.
575 - Se formos ver o quanto os fatores contribuíram para o crescimento do produto na URSS, chegamos a conclusão que esses contribuem entre 50% e 80% do crescimento soviético. Se medirmos os recursos em preços de 1928 para o período antes de 1937 e em preços de 1937 para o período a seguir, o crescimento dos fatores fica entre 3.9% e 5.1%, e a contribuição disso para o crescimento se situa entre 60% e 90%.
576 - O resultado indica que a produtividade cresceu entre 0.3% e 3.1% em um período de 38 anos. Diz, ainda, que esse “resto” aprenderam com o capitalismo. (O que quer dizer com isso eu não sei. Ele achou que algum fazer humano dispensa 100% das técnicas desenvolvidas pelo anterior? Nítida declaração de texto enviesado. Por sinal, se for 3,1% é duas ou três vezes mais que os EUA de qualquer período que analisou no texto anterior).
577 - Isso obviamente se torna insustentável, na década de 70 os líderes soviéticos identificaram o problema e tentaram mover-se de um sistema baseado intensivamente no acúmulo de capital, para tentar aumentar a eficiência (CIA, 1986). Mas isso acaba falhando (imagem abaixo). Essa falha vem da dificuldade de incorporar a inovação tecnológica na indústria, da militarização da economia, a depreciação dos trabalhadores soviéticos e o alto custo de industrialização na Sibéria.
578 - Problemas do modelo e suas transições: Substituir equipamentos e maquinarias velhas requer usualmente uma reconstrução técnica e estava associada com uma interrupção temporária do trabalho e redução da produção. Mesmo que a produção pode ter sido levado a sério no início, o aumento resultante no produto era menor no caso de construir novas capacidades ou expandir as existentes.
579 - Muita estimativa arbitrária.
Francisco Primeiro (Medium) - Uma análise do crescimento soviético:
580 - Artigo tosco e enviesado. Deu até medo de tomar os anteriores como confiáveis. Algumas comparações arbitrárias (do tipo vamos pegar o país que mais cresceu no período e comparar. É tipo eu pegar alguma banânia pra endeusar outro país na comparação) e gráficos longe de serem detalhados. Ademais, incluindo apenas o pior período de crescimento da URSS (e o melhor de Cingapura, por exemplo, inclusive pelo crescimento de fatores que ele critica ao analisar o melhor da URSS no artigo anterior. Lamentável).
581 - (Não é nem que eu ache a URSS viável como projeto transformador, ainda mais após a renda/produtividade média. Só não invente argumento besta, ainda mais quando há argumento bom).
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