Econ - IPEA - Comparação da Produtividade Agrícola Brasil - EUA 1950 a 2010

 

IPEA - Comparação da Produtividade Agrícola Brasil - EUA 1950 a 2010

647 - Para alterar a produção, as próprias políticas agrícolas, como as de crédito, muitas vezes subsidiado, tiveram a função de capitalizar mais a agricultura, promovendo ligações desta com outros setores, como o de insumos (antes da porteira) e aquele composto por agroindústrias, tradings, supermercados (depois da porteira), entre outros que podem se relacionar com a produção, definindo padrões e até mesmo promovendo financiamentos.

648 - A produtividade do trabalho, calculada por meio da fração entre o valor adicionado e a população ocupada de cada estabelecimento produtivo, é a variável referência que dimensiona a heterogeneidade estrutural (HE) nos estudos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). (...) Este estudo mostra que, embora haja convergência da produtividade agrícola do Brasil com a dos Estados Unidos nas últimas três décadas, ainda se observa significativa heterogeneidade produtiva no setor agropecuário brasileiro.

649 - No Brasil, existem culturas agrícolas que possuem padrões semelhantes de produtividade aos países que são referências mundiais. Gasques, Bastos e Bacchi (2008) descrevem que a produtividade total dos fatores, que é uma relação entre o agregado de todos os produtos e o agregado de todos os insumos, tem progredido a taxas elevadas e crescentes na agricultura brasileira. Segundos os autores, a média de crescimento anual nos últimos trinta anos no Brasil foi de 2,51%, taxa superior à observada por Ball (2006) para os Estados Unidos.

650 - PTF: A taxa de crescimento da produção (GP) pode ser definida pela soma ponderada (mensurada em um determinado instante de tempo) dos custos de cada um dos fatores produtivos - tais como área plantada (A), trabalhadores (W), serviços de mecanização (M) e fertilizantes (F) multiplicados por suas respectivas taxas de crescimento, somando-se ao valor um termo residual referente ao crescimento da produtividade total dos fatores (GPTF).

651 - Dois gráficos indicam crescimento da PTF agrícola brasileiro superior a dos EUA nas últimas décadas. Um deles demonstra empate entre Brasil e países europeus. Ficou uma apresentação confusa a meu ver. Aqui um exemplo de gráfico:



652 - Verifica-se, pelos dados apresentados, ao se fazer um recorte da evolução dos índices entre 1970-2006 e 1995-2006, que o crescimento do produto ocorre principalmente pelo crescimento da PTF.

653 - EUA. De acordo com o gráfico 2, o índice de insumos varia pouco na agricultura dos Estados Unidos, ou seja, o crescimento da PTF neste país também se dá pelo maior aumento do nível de produtos. Gasques et al. (2010) esclarecem que alguns fatores, como a pesquisa agropecuária, têm grande importância no aumento da produtividade. Dessa maneira, a melhor alocação dos recursos, como tecnologias mais modernas que diminuem perdas no uso dos insumos – por exemplo, fertilizantes com menor lixiviação, fixação biológica de nutrientes, variedades melhoradas, conhecimento acumulado e aprendizado, entre outros fatores –, permitem maior aumento da produção (output) com menor quantidade de insumos (input).

654 - A pesquisa agropecuária por parte de empresas públicas e privadas é importante para a criação de inovações tecnológicas, normalmente via novos processos de produção. Como observa Vieira Filho (2009), a própria adoção do plantio direto na palha, utilizado em larga escala no Brasil em lavouras de cereais, foi fruto desta interação de pesquisas, em que o aprendizado reveste-se de grande importância.

655 - Por um gráfico, percebi que a PTF explica quase todo o crescimento agrícola dos EUA entre 1948 e 2009.

656 - O gráfico 4 faz uma comparação da PTF entre o Brasil e os Estados Unidos, mostrando que a PTF no Brasil, após 1975, teve maior crescimento quando comparada à evolução do mesmo indicador nos Estados Unidos, verificando-se assim diminuição do gap de produtividade entre os dois países. (Bem maior). (...) Para o Brasil, desde a década de 1950, o processo de modernização foi iniciado com a importação de máquinas agrícolas. Entretanto, é a partir da década de 1970 que a produtividade brasileira aumenta em termos significativos, notadamente com o planejamento da pesquisa agropecuária.

657 - Mais: O estudo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2011) apresenta algumas estatísticas das taxas de crescimento da PTF em diversas regiões do mundo. Constatou-se que esta taxa é decrescente nas economias desenvolvidas – 1,48% ao ano (a.a.) no período 1961-2007 e 0,86% a.a. no período 2000-2007. Em contraposição, a taxa de crescimento da PTF é crescente nos países em desenvolvimento, passando de 1,35% a.a. no período 1961-2007 para 1,98% a.a. no período 2000-2007. Como observa Gasques et al. (2012), o Brasil destaca-se por apresentar uma taxa de crescimento da PTF de 3,63% a.a. no período 2000-2007, em face de uma taxa histórica de 1,87% a.a.

658 - No período analisado, de acordo com o gráfico 5, o índice de insumos permaneceu quase estável (crescimento de apenas 5%), enquanto o índice de produto aumentou 284% na produção agropecuária. A maior parte do crescimento da produção se deve às mudanças tecnológicas, revelando que se produz mais com menos recursos. Segundo os dados apresentados, de 1975 a 2010 a média anual de crescimento da PTF no Brasil foi de 3,6%, taxa esta superior à observada para os Estados Unidos (1,9%).

659 - O aumento do índice de capital se associa à criação de programas de financiamento e de investimento na agricultura brasileira a partir da segunda metade da década de 1990, primeiramente com a instituição do Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) e, depois, com a criação do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota). Estes programas foram fundamentais para a modernização e o avanço tecnológico do capital na agricultura brasileira.

660 - Nem toda nossa agricultura é moderna obviamente. Há uma heterogeneidade produtiva muito forte na agricultura brasileira.

661 - O grupo de extrema pobreza, que engloba cerca de 3,2 milhões de estabelecimentos, está à margem da produção agropecuária, bem como se mostra excluído de qualquer setor de atividade econômica, pois carece de estruturas básicas de organização produtiva (micro e macroeconômicas). O grupo de baixa renda (960 mil estabelecimentos agropecuários) deve ser assistido pelo governo com políticas de fomento e dinamização da pequena produção, normalmente de base familiar. São produtores com reduzida capacidade de absorção de conhecimento externo e baixo conteúdo tecnológico, apresentando deficiência no âmbito gerencial e microeconômico. É preciso melhorar o acesso ao crédito e estimular o uso de novas tecnologias. Cabe ao governo desenvolver assistência técnica que tenha capilaridade e pesquisa de domínio público quando não ofertada pelo mercado.

662 - Como verificado, mesmo se diminuída a lacuna de produtividade entre o Brasil e os Estados Unidos, também dentro destes países haveria muitas diferenças de produtividade. Ou seja, a HE não ocorre apenas entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas dentro de um mesmo país ou atividade.

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