Murray Bookchin e etc. – O Bairro, a Comuna, a Cidade... Espaços Libertários! (Livro) II

 Continuação...


b) Municipalismo e comunalismo (Boino):

 

11 – Boino estranha as críticas ao municipalismo (como se fosse um desvio reformista perigoso). Afinal, os libertários sempre investiram em comunas, autogestão dos serviços públicos, greves, ocupações etc.

12 – Afirma que a sociedade gerida por federações de comunas já está em boa parte das formulações libertárias. Ainda que combinadas com a federação de produtores (sindicatos). O problema é que alguns (só alguns) anarco-sindicalistas querem excluir as federações de comunas (ou territoriais) dessa gestão. Assim, jovens, velhos, excluídos dos sindicatos ficam sem representação. Ademais, determinados setores (sindicatos) podem impor soluções muito particulares. Boino meio que propõe o tal duplo federalismo.

13 – Esclarece que Bookchin não propõe simplesmente que libertários lancem-se candidatos. Mas que se, em seu trabalho de organização de comitês de bairro e federação de comitês locais, as pessoas decidirem que a legalidade municipal vem sendo um grande empecilho à descentralização, estes comitês indiquem/lancem candidatos – se julgarem viáveis. Prefeito, vereador...

14 – Boino diz que nem vai discutir a tentação que o poder conquistado numa eleição geraria. Se no primeiro dia, os bookchinistas, digamos, esfacelariam mesmo esse poder ou iriam inventar alguma outra “tática” que adie perigosamente o que é importante. Isso é o “de menos”. Boino tem críticas de outra ordem

15 – A questão é: que poder é esse que os membros do comitê, uma vez eleitos, vão destruir/descentralizar? Isso será tão decisivo assim para a vitória autogestionária?

16 – Ora, se a política municipal autogestionária desagrada ao Estado ou ao país, as receitas enviadas por estes (como partes de taxas e impostos), bem como outros apoios, simplesmente somem. Por outro lado, se a política se mostra anticapitalista, as empresas simplesmente se mudam para outras cidades e a receita para gastos some. Que faz? Aumenta os impostos dos pobres?

17 – Ademais, a enquadramentos legais. Matérias de competência estadual ou federal, que o município não pode mexer. E se mexer, os tribunais certamente rejeitariam.

18 – Ademais ademais, muitos serviços públicos (redes de água, de transporte etc.) implicam alianças com outra “comunas”, não necessariamente libertárias e com mesmos objetivos. De que serve a conquista e dissolução do “poder local” em tal caso?

19 – Ademais ademais ademais, várias questões ficam de fora: igualdade de gênero (vale lembrar a mídia), proteção ao meio ambiente...

20 – Afirma, também, que Bookchin pensa a revitalização do anarquismo numa sociedade pós-industrial. Boino acha meio errado, mas Bookchin pensa. Pensa que classe já estaria quase superado, daí pensar em relações de vizinhança e tudo mais – e em questões mais amplas, como meio ambiente, pra unificar a luta contra o Estado/capital. Boino diz que os proletários continuam aí (é quem só tem a força de trabalho pra viver) e sempre houve algumas diferenciações na classe – operários e contramestres p. ex. . Uns ganhando mais, outros menos. Esse crescimento da urbanização e setor terciário não reduziu as desigualdades. Nem todos viraram trabalhadores intelectuais com as suas casinhas bonitinhas e tal. Para Boino, há claras classes sócio-espaciais.

21 – Boino critica a tese da fusão de uma grande classe média. Há sim a divisão em classes. O que ocorre é que toda revolução industrial gera um novo tipo de proletário. O operário-artesão cedeu ao operário geral de indústria, que cedeu ao operário especializado e sindicalizado fordista... por aí vai. Ademais, é nos países “centrais” que o emprego na industria vem caindo. Nos “atrasados”, vem crescendo.

22 – Boino coloca algo interessante: para que se falasse em fim de classes ou sociedade pós-industrial, seria preciso que as desigualdades não estivessem relacionadas à posição de origem do indivíduo (fulano filho de beltrano), ou seja, que tudo que contasse fosse a trajetória individual bem sucedida ou não.

23 – Roupa, alimentação, linguagem, música, cinema, pronúncia, humor.. Tudo isso ainda marca bastante a nossa divisão de classe.

24 – Fala sobre a crise do sindicalismo. É relativa. O número de sindicalizados de fato vem caindo nos países “centrais”, mas as confederações sindicais continuam sendo, ao menos numericamente, as maiores representantes da classe operária – apesar de todos os seus problemas e tal.

25 – Boino crê que há de se investir, apesar das críticas a Bookchin, nos comitês de bairro como mais uma forma de luta (além dos sindicatos), até pelo motivo de que a classe trabalhadora costuma se agrupar nos mesmos bairros e tal. Ademais, há de se ter uma perspectiva de classe contra classe. Não reunir opressores e oprimidos num mesmo local. Melhor comunalismo (Comuna de Paris) que municipalismo. Os problemas da comuna podem servir para despertar o “pensar global”. Até mesmo a mera causa ecológica.

 

 

c) Spezzano Albanese: a experiência comunalista (Federação Municipal de Base)

 

26 – Spezzano Albanese era uma cidade quase agrícola italiana. 10.000 habitantes. Pouca industria. Maior parte do povo no comércio. Desemprego alto. Partido Comunista governava e em nada devia à democracia cristã em termos de corrupção e clientelismo. Ademais, reprimia manifestações na praça central.

27 – A USZ surgiu com a ajuda de um grupo anarquista que se enraizou na cidade. Utilizava os problemas locais para denunciar, em praça pública, com provas, a administração local. Desvio de verbas, violação de leis urbanísticas que visavam proteger áreas verdes, favorecendo iniciativa privada e o próprio prefeito...

28 – A Federação Municipal de Base veio a substituir a perseguida USZ. Após vinte anos de ações “anarquistas”, a população começava a reconhecer a justeza das reivindicações. Em vez de participarem das eleições, propõem um contra-poder autogestionário. A idéia era atrair mesmo pessoas que participassem das eleições mas que quisessem controlar os eleitos.

29 – A lógica da FMB não é reivindicatória. Há uniões que cuidam de assuntos territoriais (meio ambiente, urbanismo, serviços públicos...), outras que tratam do “mundo do trabalho”. Discussão em assembléias obrigatórias. Elege um comitê executivo para coordenar e executar decisões das assembléias, não podendo, no entanto, se opor. A minoria pode não executar as decisões e exprimir publicamente o desacordo, mas não pode impedir a realização das decisões.

30 –Algumas ações: criação, com desempregados, de uma cooperativa de serviços de pintura e limpeza. Ação contra os vagões de amianto, que fez a prefeitura local desistir.

31 – Defende a construção gradual do federalismo libertário aqui e agora. Contra a lógica eleitoral e até mesmo a abstencionista.

 

d) Agitação comunal ou municipalismo libertário

 

32 – Discussão sobre se o voto serve pra alguma coisa. Contra um “prefeito libertário”...

 

 FIM

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