João Bernardo – As raízes ideológicas do Brasil Potência (Parte III)

 Continuação...


 

c) A viagem do Brasil da periferia para o centro – o roteiro

 

27 – JB fala, entre outras coisas, de como as convulsões políticas do Brasil recente não alteram o rumo econômico geral. Segundo ele, “O Brasil conta-se entre aqueles poucos países onde o Estado continua a ter, ou a poder ter, uma intervenção de peso na estratégia económica, mas isto não ocorre na face pública das instituições políticas. Formou-se uma tecnoburocracia que circula entre as administrações das empresas, as universidades e as assessorias dos ministérios e que forma o núcleo mais sólido das classes dominantes. Foi esta tecnoburocracia quem, através dos ziguezagues da política, assegurou à economia brasileira uma dinâmica de crescimento”.

28 – JB fala que os recursos naturais do Brasil ajudam, mas mesmo o Japão conseguiu rápida industrialização sem estes. Outros países conseguiram das suas colônias (ou da própria metrópole) a “preços” irrisórios. Ou seja, mais facilidades (em relação ao Japão).

29 – Também diz que a questão demográfica brasileira é interessante por permitir produção industrial em alta escala (alta demanda, devido ao grande mercado interno). Uma ilha pequena tende a dificultar isso...

30 – Estratégia de substituição de importações peculiar. Entregue ao estrangeiro.

31 – No regime militar, isso aumentou. Segundo JB, “se permitiu às filiais das companhias transnacionais o acesso directo ao mercado internacional de capitais, o que estava vedado às empresas brasileiras. Isto estimulou, no interior do país, o crescimento e a difusão das filiais de companhias estrangeiras”.

32 – JB anota que (e é um raciocínio meio novo pra mim): “Uma empresa estatal pode internacionalizar-se e, assim, não ficar inteiramente isolada das redes mundiais de tecnologia, mas não se pode transnacionalizar, o que a impede de assimilar as inovações mais avançadas. Separadas do Estado, que é necessariamente nacional, as empresas privatizadas puderam entrar numa relação mais estreita com as cadeias tecnológicas globais, incluindo tanto a aceitação de investimentos directos como a realização desses investimentos no estrangeiro por parte daquelas empresas.”

33 – Diz mais: “o que Fernando Henrique Cardoso pretendia acima de tudo com as privatizações era assegurar o acesso mais fácil dessas empresas às redes mundiais de inovação e de transferência de tecnologia, sem as quais a produtividade estagna. A privatização correspondia, afinal, à criação de condições jurídicas necessárias para aumentar a produtividade”. Não sei não...

34 – Outra conclusão: “O proteccionismo permitiu que empresas brasileiras prosperassem e se consolidassem no mercado interno, mas o facto de mesmo aqui elas estarem sujeitas à concorrência das filiais de transnacionais constituiu um estímulo permanente à produtividade”. JB chama de processo gradual de internacionalização. Nos anos 90, as barreiras protecionistas foram caindo. JB parece entender ter sido uma necessidade. Para ele, o protecionismo exacerbado (certo “isolacionismo”) seria fatal. Não há transferência de tecnologia. “o facto de no Brasil o proteccionismo se ter conjugado com a internacionalização, a ponto de a estratégia de substituição das importações ter adoptado a forma de importação de investimentos directos, facilitou depois a plena integração nas redes tecnológicas mais avançada”.

35 – Assessores do BNDES de Lula defenderam em livro a necessidade de apoiar a transnacionalização – multinacionais brasileiras. Isso para aumentar os negócios e ganhar competitividade. O que ajuda a manter o mercado interno inclusive.

36 – MUITO INTERESSANTE: JB tenta colocar o Bolsa-Família e Política de Elevação do Salário Mínimo (tudo forçando os sindicatos a barganharem maiores aumentos) no seguinte contexto: “A integração nas redes tecnológicas mundiais é uma condição necessária, mas, se não existir do lado da força de trabalho uma pressão para que os empresários aumentem a produtividade, a mundialização tecnológica pode estrangular a produtividade de um país em vez de desenvolvê-la. O único mecanismo que estimula de maneira firme e duradoura o desenvolvimento da produtividade é a pressão para o aumento dos salários e para a melhoria das condições de trabalho”. Será que a retomada do crescimento na Era Lula deve-se mais a isso ou à elevação de preço dos produtos agrícolas exportados pelo Brasil?

 

37 – JB diz inclusive que muito empresário chia, na verdade, por isso. Não consegue mais competir com novas exigências salariais. Assim, capitalistas mais competentes impulsionam a concentração. Tem patrão brasileiro reclamando que não tem como competir, pois na China o trabalho custa 1,4 dolar a hora. Aqui custa 8,3.

38 – JB acredita que se o objetivo é mesmo gerir o capitalismo, o PT tem feito muito bem isso. Segundo ele, o Brasil está se deslocando para o “centro”.

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