Thomas Kenny - Lições da NEP Soviética Para a China

 

Thomas Kenny - Lições da NEP Soviética Para a China:


359 - Texto de 2008 sobre a “Economia Socialista de Mercado” para falar da China.

360 - Um destacado economista chinês pró-mercado, o falecido Xue Mukiao, enfatizou a dissemelhança entre a NEP e a ESM. O texto é a favor. Xue parece pensar que o apoio anterior a 1949 dos camponeses chineses à revolução – tornando desnecessária qualquer NEP pós-revolucionária para restaurar a aliança dos operários com o campesinato – torna a China diferente da Rússia. Os camponeses chineses já estavam ganhos para a causa das cooperativas. Kenny diz que isso é pouco pra diferenciar, meio que não argumenta muito.

361 - Ele cita uma fonte - site - dessa informação: É bem sabido que Deng Xiaoping se mostrou profundamente interessado em aprender tudo o que podia acerca da NEP através do industrial dos EUA, Armand Hammer, que a conheceu em primeira-mão. (...) em 1978 a China havia perdido anos preciosos de desenvolvimento devido a políticas precipitadas, ultra-esquerdistas, aventureiras.

362 - Boa descrição da NEP: Em Março de 1921, após a rebelião do Kronstadt contra as políticas bolcheviques, o X Congresso do Partido Comunista Russo reuniu-se e ouviu Lénine argumentar em favor de um novo rumo na política soviética. Lénine argumentou a favor do que denominou «capitalismo de Estado», que deveria realizar-se nas seguintes formas: 1) joint-ventures com o estrangeiro e mesmo propriedade estrangeira de empresas («concessões»); 2) cooperativas baseadas nos princípios de mercado; 3) utilização de comerciantes capitalistas, bem como administradores económicos e especialistas técnicos treinados em métodos capitalistas de gestão e organização; e 4) o arrendamento de empresas de propriedade estatal e de recursos naturais tanto a capitalistas estrangeiros como nacionais. As empresas estatais, que controlavam os «níveis de comando», eram auto-suficientes e operavam segundo o princípio dos lucros e perdas, abastecendo-se elas próprias dos seus activos circulantes (Sargis, 2004).

363 - Algumas diferenças relevantes, para além do contexto: A China Popular abraçou todas as novas doutrinas do desenvolvimento, alongando a transição para o socialismo. Quarto, a Rússia Soviética cercada tinha o mundo externo hostil a pouco distância, interagindo com ele meramente através de acordos de paz e acordos comerciais. O Estado soviético permaneceu em grande medida economicamente autónomo. Em contraste, a China procurou a integração impetuosa na economia capitalista mundial. Quinto, na Rússia da NEP, o Partido mantinha uma vigilância estrita sobre a economia. As autoridades em Pequim, talvez porque o fenómeno de uma grande crise só amadureceu mais tarde, até recentemente transferiam grande parte da supervisão da economia para organismos regionais e locais.

364 - Já na década de 1930, o socialdemocrata austríaco Otto Bauer exprimiu a esperança de que a experiência da NEP poderia eventualmente suavizar o bolchevismo e conduzi-lo de volta à corrente principal do socialreformismo europeu. Em 1956, comunistas revisionistas húngaros, sob Imre Nagy, promoveram esta mesma imagem da NEP, tal como o fez mais tarde Ota Sik, conselheiro principal do revisionista checoslovaco Alexander Dubcek, em 1967-68. Afirma que entusiastas de Gorbachev também viam a experiência da NEP com bons olhos. Cita também “neo-bukharinistas, que fazem eco Com Hayek e Mises. Os mercados «livres», apregoam esses neo-bukharinistas, são superiores ao planeamento central pelo menos no presente estado da ciência.

365 - Crise da NEP: A maior parte dos historiadores está bem consciente das contradições que acabaram por levar à crise da NEP no fim da década de 1920» (Boffa, 1982, 178). Primeiro, o mercado criou instabilidade, como por exemplo a crise das «tesouras» de 1922-23, na qual a acentuada flutuação dos preços dos cereais provocaram escassez alimentar e desemprego entre trabalhadores, prejudicando camponeses pobres e muitos camponeses médios, mas beneficiando camponeses ricos, isto é, kulaks. Segundo, os sovietes perceberam que as políticas da NEP condenavam a União Soviética a um período prolongado de atraso industrial, uma perspectiva inaceitável face aos boicotes e provável invasão por países ocidentais – sem mencionar o objectivo supremo de uma sociedade socialista próspera apenas possível na base da moderna indústria pesada. Terceiro, em 1927-28 a ideia de que os mecanismos de mercado, por si só, seriam suficientes para alimentar as cidades foi completamente destroçada quando, face à descida dos preços, os provocadores kulaks açambarcaram os cereais deixando as cidades confrontadas com a fome. A NEP também engendrou crescentes contradições políticas internas, como o crescimento de um nacionalismo pernicioso. Quando a situação internacional se agravou, as crises da NEP revelaram-se ingovernáveis. (...) Diminuíram as possibilidades de crescimento rápido da indústria pesada socialista.

366 - Outro problema: «Durante a NEP, a burocracia, os administradores, os técnicos e a intelligentsia – o corpo dirigente da nova sociedade – era predominantemente, quase exclusivamente, constituído por elementos estranhos ao regime» (Carr, 1958, 116). A obra em vários volumes de Carr, A History of Soviet Russia, talvez seja o relato mais pormenorizado da NEP disponível em inglês. (Indicação de leitura)

367 - Entre 1921-28, o imperialismo utilizou a NEP, no quadro das relações externas, para se ingerir nos assuntos soviéticos. Exemplifica com um acordo comercial URSS-Inglaterra no qual a primeira deveria se abster de fazer propaganda anti-inglesa.

368 - O fortalecimento económico da pequena burguesia levou ao crescimento do nacionalismo pequeno-burguês, que assumiu duas formas: o chauvinismo grão-russo e o separatismo nacionalista nas antigas nações subjugadas.

369 - Decidiram que era preciso enfrentar os kulaks antes que eles os enfrentassem.

370 - Para se por termo à NEP na União Soviética, em 1928-29, foi necessária uma luta demasiado sangrenta no campo, «uma terceira revolução», nas palavras de Bukhárine. Não será razoável pensar que a reversão do curso na China, se for adiada por «uma centena de anos», irá também exigir um preço demasiado alto? (...) Quais são as prováveis consequências da ESM na esfera da ideologia? Nos meados da década de 1920 os líderes soviéticos notaram a ascensão do nacionalismo pequeno-burguês. Poderá alguém avaliar o impacto ideológico regressivo da descolectivização e do retorno à propriedade privada em milhões de camponeses chineses?

371 - «A China encontra-se e permanecerá por um longo período de tempo na fase primária do socialismo, etapa histórica inevitável na modernização socialista de um país atrasado do ponto de vista económico e cultural, que se prolongará por uma centena de anos» (Estatutos do Partido Comunista da China, parcialmente revistos no XVII Congresso Nacional do PCC e aprovados em 21 de Outubro de 2007, http://news.xinhuanet.com/english/2007-10/25/content_6944738.htm)

 

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