Econ - Samuel Pessoa - Textos Variados Com Suas Ideias Liberais Sobre Conjuntura do Brasil Atual III
(continuação...)
272 - Juros reais baixos no mundo desenvolvido vieram para ficar? O argumento de Summers é que, ao longo da primeira década do século 21, o juro real foi de 1,5%. Nesse período, houve forte bolha especulativa no mercado de imóveis, o que ajudou a manter o consumo das famílias crescendo mais do que seria normal. Mesmo assim, a inflação ficou em 2,2% ao ano. (...) O endividamento das famílias cresceu quatro pontos percentuais do PIB por ano. (...) Summers considera o seguinte exercício contrafactual: qual teria sido a taxa real de juros de equilíbrio –isto é, que mantém a inflação em 2% ao ano e a economia em pleno emprego– se não tivesse havido a bolha imobiliária? Certamente abaixo de 1,5% ao ano. (...) Dado que os EUA são uma das economias financeiramente mais integradas com o resto do mundo, além de emitirem a principal moeda, que funciona como reserva internacional de valor, a taxa básica de juro americana é, de fato, a taxa básica da economia mundial.
273 - Coloca que a elevação da poupança no Leste Asiático tem compensado a queda da poupança nos países desenvolvidos. De fato, essa taxa tem caído. Por exemplo, a taxa de poupança no Japão reduziu-se nas últimas décadas. O que não estava previsto é que o envelhecimento da população também reduz as oportunidades de investimento. Em uma sociedade que envelhece, a taxa de crescimento populacional se reduz. Se o crescimento da população é menor, há menor necessidade de investir em infraestrutura urbana, moradias, estradas, portos etc. (...) Outro fator que pressiona para baixo a taxa de juros na economia mundial é a possível redução da taxa de crescimento de longo prazo da produtividade do trabalho nas economias centrais. (...) Se o crescimento da produtividade do trabalho é menor, as possibilidades de investimento também são menores, (...) a demanda por crédito também será menor
274 - Samuel sonhando em 2014: Para conseguirmos elevar nosso crescimento para o patamar anual de 5,8%, será necessário elevar a taxa de investimento dos atuais 18% do PIB para algo próximo de 25%. (...) Adicionalmente, a taxa de crescimento da produtividade sistêmica da economia, que no período Lula avançou 1,5% ao ano e no período Dilma apresentará expansão nula, terá de ir para algo próximo a 2,5% ao ano. Duas estatísticas – taxa de investimento e produtividade sistêmica– e duas agendas distintas.
275 - Colocava que a produtividade crescente poderia ser restaurada ao menos ao nível do governo Lula (1,5% a.a.) com a reversão da nova matriz. Pois bem, não foi bem isso que aconteceu entre 2015 e 2019 (nem conto 2020). Aqui eu gostaria de saber como Samuel explica sua falha.
276 - Sobre captar recurso para investir: Dado que já estamos absorvendo poupança externa na casa de 3,7% do PIB, o crescimento da poupança em sete pontos percentuais do PIB para financiar o aumento da taxa de investimento terá que ser na poupança doméstica. Logo, afirma que só através de mudança no pacto social.
277 - Segundo a mais recente divulgação das contas nacionais trimestrais do IBGE, a taxa de poupança doméstica foi de 13,6% do PIB para os quatro trimestres findos em março de 2014. É um nível muito baixo. (...) Países asiáticos nos períodos de rápido desenvolvimento apresentam taxas de poupança na casa dos 35% do PIB. A China chega aos excessivos 55% do PIB. Nossos pares da América Latina poupam acima dos 22% do PIB.
278 - O que exatamente significa taxa doméstica de poupança? A poupança é a parcela da renda dos brasileiros, gerada ao longo de um determinado período de tempo, que não foi consumida. Ela pode ter se transformado em investimento, público ou privado, ou ainda ter sido empregada na forma de exportação de poupança, que ocorre quando temos um superavit externo.
279 - … A leitura pós-keynesiana a enxerga como um fenômeno eminentemente macroeconômico. A poupança é baixa porque os erros de política econômica produzem baixo crescimento e baixas taxas de investimento.
280 - Para a visão neoclássica, a taxa de poupança de uma economia resulta dos incentivos microeconômicos. A poupança é em última instância um fenômeno institucional. De acordo com esta leitura, a diferença entre a baixíssima poupança do Brasil e a elevadíssima poupança da China, por exemplo, resulta, entre outros motivos, de a China não ter um Estado de Bem-Estar Social que garanta aos seus cidadãos aposentadoria e saúde pública, entre outros seguros sociais.
(Sei não. Fui pesquisar como está o gasto social na China. Saúde é 3% do PIB contra 3,9% nosso. E a poupança lá ainda é 44 contra 15. Previdência estatal também tem crescido lá. E outros gastos. A poupança caiu, mas muito pouco. A favor da tese de Samuel tenho a seguinte conclusão de um artigo recente:
“Apesar do avanço conquistado com a universalização da cobertura dos seguros de saúde e dos nove anos de educação básica compulsória e gratuita, a China ainda precisa superar diversos problemas para que sua população desfrute de um sistema de proteção social robusto. A desigualdade do nível de generosidade dos programas de saúde implica em um universo de atendimento de saúde radicalmente distinto para populações com diferentes registros de moradia e distintas posições no mercado de trabalho. Na educação, a desmercantilização é apenas parcial, e a pré-escola e a universidade vão se consolidando como espaços pagos, além de o ensino médio assistir a uma disseminação de instrumentos paralelos privados ou de pagamento de taxas extras para facilitar o acesso às escolas de ponta.)
(continua...)
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