Econ - Samuel Pessoa - Textos Variados Com Suas Ideias Liberais Sobre Conjuntura do Brasil Atual VI (Último)

 (continuação...)

299 - Como funciona o mecanismo de aumento das reservas internacionais? (Compra os dólares que entram): Primeiro, dado que o setor público não tem poupança, para acumular reservas sem aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, o que pressionaria a inflação, o Banco Central é obrigado a emitir dívida interna para "enxugar" o aumento de dinheiro que ocorre quando ele compra as reservas cambiais. Ou seja, o BC compra divisas pagando com dinheiro e, em seguida, recompra o dinheiro pagando com dívida pública.

300 - Outro motivo na época: Analogamente, a taxa de juros pela qual o Tesouro brasileiro é remunerado pelo Tesouro americano pelo carregamento das reservas internacionais (a maior parte das quais está em títulos públicos dos EUA) é muito mais baixa do que os juros que nosso Tesouro paga ao setor privado nacional. (...) Para termos uma ideia dos volumes, os créditos do Tesouro contra os bancos públicos estão na casa de 10% do PIB, e as reservas internacionais, na casa de 20% do PIB. Para uma dívida líquida de 35% do PIB, segue dívida bruta de 65%. Há diferença de juros. .... o custo de carregamento dessas duas políticas é de 1,5% do PIB. Ele compõe o gasto de 5% do PIB em juros. 

301 - Câmbio: Há um problema lógico no argumento cepalino. A perda de termos de troca para o país, em razão da redução do preço dos bens primários, produzirá, em um regime de câmbio flutuante, desvalorização cambial. Esta, por sua vez, funciona como proteção natural à atividade produtiva local. (E se o governo evitar essa flutuação, para evitar inflação, como parece que foi feito sistematicamente desde o Plano Real, Pessoa? Primarização, não? Como não ser refém do externo?)

302 - Dois motivos justificam a importância da indústria. Primeiro, a indústria de transformação é capaz de gerar ganhos tecnológicos que transbordam para os demais setores. Essa característica justifica o papel de liderança do setor. (...) Segundo, a indústria de transformação gera empregos de melhor qualidade. (...) Diferentemente dos serviços, que geram empregos com baixíssimos salários, ou do setor de bens primários, que produz estrutura muito concentrada de rendimentos – alguns poucos empregos com salários elevadíssimos e os demais empregos precários– , a indústria cria majoritariamente empregos com bons salários.

303 - Falhas de mercado que Samuel vê: As exceções mencionadas no parágrafo anterior referem-se à atividade de inovação tecnológica e ao investimento educacional. No primeiro caso, o ganho privado de inovar é claramente inferior ao ganho para a sociedade. A criação de um novo produto ou processo ou a adaptação de produtos e processos desenvolvidos alhures —quando bem-sucedidas— geram a possibilidade de muitos outros participantes entrarem nesses mercados. Quando malsucedida, o custo será incorrido somente pelo inovador.

304 - A questão do câmbio desvalorizado. Há divergência em vários testes empíricos. No artigo, Rodrik apresenta um farto conjunto que evidencia correlação entre câmbio e crescimento. … Texto de trabalho do FMI de dezembro de 2010 (nº 270), escrito por Nicolás Magud e Sebastián Sosa, avalia a evidência que temos a partir de um sumário de 60 trabalhos que investigaram o tema nas últimas duas décadas, incluindo, evidentemente, o trabalho de Rodrik. (...) Há, de fato, evidência contundente de que câmbio valorizado correlaciona-se negativamente com crescimento: 24 trabalhos chegaram a esse resultado, ante 3 que obtiveram resultado oposto. Com relação a câmbio desvalorizado, o resultado é cinza. De 20 trabalhos, 11 sugerem que câmbio desvalorizado reduz o crescimento, e 9, que não reduz.

305 - Em outras palavras, é possível que uma terceira variável, a capacidade de poupança do país, altere simultaneamente tanto o câmbio quanto o crescimento. Esse é, no meu entender, o verdadeiro canal causal, a chave do problema. (Rode seu modelo aí, mestre. Como diz o povo).

306 - Brasil pode imitar a China? Samuel crê que não. Nos estágios iniciais, é possível queimar muitas etapas absorvendo tecnologias desenvolvidas nas economias líderes. O investimento estrangeiro direto (IED) é um canal importantíssimo de absorção de novas tecnologias. Uma sociedade que poupa muito não precisa de capital. Assim, pode se dar ao luxo de negociar condições muito favoráveis em termos de transferência de tecnologia, como é o caso da China. Países mais esfomeados por capital externo têm menos poder de barganha.

307 - No Brasil, as taxas de poupança das famílias, empresas e governo são de, respectivamente, 5%, 15% e -4% do PIB. Para a China, os mesmos números são da ordem de 22,5%, 22,5% e 5% sobre o PIB. (...) Exercício que fiz com Silvia Matos e Regis Bonelli sugere que, se a taxa de poupança doméstica do Brasil fosse igual à da China, a participação da indústria seria nove pontos percentuais do PIB mais elevada.

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