Econ - Samuel Pessoa - Textos Variados Com Suas Ideias Liberais Sobre Conjuntura do Brasil Atual IV
(continuação...)
281 - Lógica que ele vê no crescimento chinês: Maiores níveis de poupança estão associados a menores níveis de consumo. Quem pouco consome demanda poucos serviços. Os serviços são intensivos em trabalho. A baixa demanda por serviços resulta em baixa demanda por trabalho e, portanto, baixos salários. Estes, por sua vez, implicam elevada lucratividade das empresas, e, consequentemente, altas taxas de investimento das empresas. O crescimento se acelera.
282 - Keynesianismo (ou pós): A elevação da produção decorrente da ocupação da capacidade ociosa, o efeito multiplicador, gera a poupança macroeconômica que financia o investimento do empresário. Ou seja, a decisão de investir automaticamente cria sua poupança.
283 - A escola de pensamento neoclássica faz dois reparos a essa leitura pós-keynesiana. Primeiro, se não houver ociosidade generalizada, a demanda do empresário ao investir — isto é, ao contratar projetos, adquirir máquinas e executar obras civis - pressionará o mercado de bens e serviços da economia, elevando a inflação. Esta foi a dinâmica macroeconômica, por exemplo, do período JK. A forma de combater seria o câmbio valorizado: Segundo, se houver um regime de política econômica que combata a aceleração da inflação, a solução ocorrerá por meio de elevação da absorção de poupança externa. Isto é, o aumento do investimento ocorrerá simultaneamente ao aumento do déficit externo. Esta dinâmica descreve relativamente bem o período Lula. A taxa de investimento elevou-se de 15 para 20 pontos percentuais (p.p.) do PIB enquanto que a taxa de poupança elevou-se de 15 para 17,5 p.p. do PIB. Só que isso não é sustentável no longo prazo.
284 - Entre 2003 e 2012, o deficit de transações correntes como proporção do PIB elevou-se em 3,2 pontos percentuais. Como mostrei na semana passada, nesse período os termos de troca, isto é, o preço da pauta exportadora em unidades da pauta importadora, cresceu mais de 20%. Conta simples sugere que, se não tivesse havido a alteração dos preços em nosso favor, a variação do déficit de transações correntes entre 2003 e 2012 seria de mais de sete pontos percentuais do PIB, visto que nesse período a absorção (consumo e investimento dos setores público e privado) cresceu 60%, e o produto, 40%. (...) Ou seja, parece haver associação entre o fortíssimo crescimento do PIB do povo (renda maior da população) além do PIB dos economistas e a elevação do déficit externo, que saiu de um superávit de 1,76% do PIB em 2004 para um deficit hoje na casa de 4%. (...) a correlação entre o deficit de transações correntes e a defasagem entre os PIBs é de 75%. Desde a década de 1980, três quartos da variação do PIB do povo não explicada pela trajetória do PIB dos economistas está associada à piora das contas externas.
285 - Foram os termos de troca internacionais que fizeram o sucesso de Lula I? Samuel prova que não: Primeiro, o período de ganhos de troca excepcionais é o que se segue à crise de 2008. Até o momento, Dilma se beneficiou de termos de troca 23% maiores do que FHC, enquanto os de Lula foram somente 2% maiores aos do governo tucano. (...) O segundo fato é que, no segundo mandato de FHC e no primeiro de Lula, os termos de troca foram uns 10% menores do que no primeiro mandato de FHC e no segundo de Lula. (...) Parte da dificuldade que FHC teve em eleger José Serra e da facilidade que Lula teve de eleger Dilma deve-se, sim, à situação internacional, mas certamente ela não é toda a história.
286 - Ao longo da era Lula, a produtividade do trabalho da indústria de transformação caiu, enquanto a produtividade dos serviços elevou-se. Serviços são setores não comercializáveis internacionalmente e, portanto, menos afetados pela conjuntura econômica externa.
287 - Escreveu em maio de 2014: Há reconhecimento de que no próximo ano será necessário forte ajuste econômico, como há a mais de uma década não se vê.
288 - “Será necessário em 2015 recompormos o superávit primário para algo entre 2,5% e 3% do PIB.” Foi déficit de 1%. Acho que ninguém previu a queda.
(continua...)
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