Trechos e Textos sobre Educação e outros temas - Parte III

Anarquismo e Pedagogia Libertária:

209 – Praticamente um livro de artigos.

210 - “A Conquista do Pão” de Kropotkin é considerada a obra anarquista mais lida entre os militantes, segundo o texto.

211 - Anarquistas defendem que o governo hoje parece necessário como parecia a escravidão mesmo aos que já nasciam escravos.

212 - Para os anarquistas, mesmo um camponês poderia fazer a revolução. Não haveria a classe predestinada. Bastava ser explorado ou excluido.

213 - Bakunin e os anarquistas foram expulsos da AIT em 1872 (entraram em 1868 e a fundação da AIT foi em 1864) por se recusarem a seguir as decisões da maioria socialista.

214 - Escolas racionalistas de Ferrer. O espanhol acabou aprisionado e morto pelo Estado em 1909.

215 - Em 1917, havia o Libertário F. C., em Santos, que disputava o campeonato paulista. Interessante.

216 - Para alguns anarquistas, como Malatesta, era fundamental participar dos sindicatos, mas não era o único lugar importante. O objetivo era transformar greves parciais em insurreições contra o Estado.

217 - Enquanto alguns anarquistas eram contrários às organizações sindicais, outros a viam como potenciais instituições da nova sociedade. “Neste caso, obviamente, estes anarquistas participavam das eleições internas necessárias à organização do sindicato, muitas vezes recebendo um salário como presidentes ou conselheiros das ligas de ofício. Embora criticados por outros anarquistas, eles achavam que os libertários deveriam conquistar os sindicatos para liderá-los segundo os princípios da anarquia e da greve geral, em contraposição aos socialistas, que lideravam na Europa e no mundo a maioria das confederações sindicais.”

218 - A fase “terrorista” do anarquismo (1880-1900) consistiu em matar chefes de estado, generais e afins. O texto coloca como uma fase bastante influenciada pelas ideias de Stirner (1806-1856).

219 - Vejo poucas referências a anarquistas/comunistas mulheres no século XIX. Logo, quando vale destacar quando aparecem: “na França, a professora Louise Michel (1830- 1905), que participou ativamente da Comuna de Paris“.

220 - “Todavia, o movimento anarquista teve uma certa expansão também entre os trabalhadores dos Estados Unidos. Neste país, os anarquistas contaram com muitos militantes, entre os quais lembramos os Mártires de Chicago, condenados a morte em 1887 por terem participado de uma greve na qual alguns policias foram mortos (este greve, que foi feita no dia Primeiro de Maio, deu origem ao dia do trabalhador, para lembrar sempre dos que morreram, como os anarquistas mortos em 1887, para a obtenção de condições de vida e de trabalho mais dignas).”

221 - Interessante:

Portanto, foi no Estado de São Paulo, que mais se espalhou o movimento anarquista no Brasil, graças à grande presença de artesãos e operários de origem italiana e espanhola, e parcialmente portuguesa. Os italianos, em particular, constituíam cerca de 70% dos filiados aos vários grupos anarquistas que surgiram entre 1895 e 1920 nas várias cidades paulistas, a partir obviamente da capital. Os anarquistas italianos de São Paulo, inclusive, conseguiram editar um semanário libertário ininterruptamente de 1904 a 1914, com uma tiragem que chegou em alguns períodos a 5.000 cópias semanais: este jornal era o La Battaglia.” (...) “Havia inclusive um grupo formado somente por mulheres o Grupo das Jovens Idealistas, que tiveram um papel importante durante a grande greve geral de 1917”.

222 - “Todos os grupos anarquistas organizavam festas, bailes, encenações de teatro e piqueniques populares, com o fim de arrecadar dinheiro para os grupos e jornais de propaganda, além de permitir aos afiliados e aos simpatizantes de se socializarem nos bairros populares das cidades paulistas.”

223 - Começa outro texto. O “Anarquismo Hoje”. Entende que a causa do declínio do anarquismo como alternativa não tem a ver, como pensa Hobsbawn e os comunistas, com a associação entre anarquismo e campesinato ou classes “não-operárias”, que teriam perdido prestígio com a industrialização. Coloca que o problema foi a ilusão que se criou de que o Estado poderia mudar radicalmente sua feição - paizão dos velhos, enfermos e crianças a serem educadas.

224 - Ademais,. “o acesso ao consumo tornou-se assim o antídoto contra a revolta e foi um fator primordial para a adesão dos trabalhadores à lógica normativa do capitalismo.“ A tática radical dos confrontos de classe passou a ser mediada/inviabilizada pelo Estado e seus “ministério do trabalho”... “justiça do trabalho”, etc. Gerou a própria burocratização sindical (advogados, contadores) para negociar. A lei passou a dizer o que o trabalhador podia fazer. Não pode, por exemplo, greve de solidariedade.

224 - Trata também da inteligente contra-tática do capital de fazer pequenas concessões aos sindicatos confiáveis, para que esses se legitimassem na base, e perseguir os sindicatos radicais.

225 - O autor também tem a tese de que o período de declínio coincide com o aparecimento de várias ditaduras terroristas que impediam materialmente qualquer tática dos anarquistas. E, por fim, coloca que a Revolução Russa gerou a ilusão de que se tinha descoberto o caminho efetivo para o socialismo.

226 - Denuncia também uma infiltração leninista coordenada visando a cisão dos sindicatos então anarcossindicalistas. Seria uma estrategia internacional do COMITERN.

227 - Explicando a hegemonia comunista que se consolidou ao fim dos anos 40 nos sindicatos: “Soma-se a isso a maleabilidade tática que os levava a não desprezar a luta pelas pequenas reivindicações e a integrar conceitos conservadores e nacionalistas em seu discurso, o que se adequava a um movimento social em que se expandia o reformismo.

228 - “Nenhum materialismo vulgar poderá explicar Miguel Angiolillo. Um operário italiano refugiado em Londres, que depois de conhecer os depoimentos de anarquistas espanhóis vítimas de prisão e tortura, decide em 1896, calma e pacientemente procurar o primeiro ministro de um país estranho e o assassinar, morrendo no garrote após realizar o que para si era imperativo pessoal de solidariedade.

229 - O terceiro texto é de Silvio Gallo, sobre educação e ideologia. Parte da subjetividade enquanto buraco negro do ser. A ideologia seria uma forma de dar uma composição, heteronomamente (sei lá se é assim), a esse buraco. Uma falsa territorialização da subjetividade que o ser aceita para não cair no buraco negro, no vazio, que é o risco que teria de enfrentar se partisse da construção autonoma da subjetividade, encarando papéis que não lhe são esperados pela sociedade.

230 - “A função da ideologia é não permitir a emergência destas "subjetividades desterritorializadas", garantindo a territorialização no âmbito daquela lógica social.

231 - Passeron e Bourdieu colocam que o fato da escola se apresentar “pairando sobre” as questões políticas e econômicas, faz com que tal instituição não seja percebida como legitimadora da divisão de classes. Porém, Gallo acrescenta porém a função de “cooptação” para a “máquina de produção social” que a escola possui.

232 - … “A escola é produtora de células sociais, transformando cada indivíduo, cada possibilidade de uma subjetividade singular numa célula reprodutora da ideologia da máquina de produção. Podemos afirmar, assim, que mais fundamental e mais importante que as funções de camuflagem ou justificação/legitimação que a ideologia escolar sem dúvida tem, é a sua função material, produtora de indivíduos corretamente programados para o perfeito funcionamento social.”

233 - O medo da repressão; o respeito à autoridade… Tudo isso vem da forma com que se ensina. Tudo isso prepara os alunos para a “sociedade”.

234 - Gallo coloca que a “escola nova” - que enfatiza a capacidade de aprender do aluno e não o exemplo do íntegro e respeitável professor - floresce também pela necessidade de educar o self made man, o empreendeor. Ou mesmo dirigentes em geral. Para esses, escola nova. Para os de baixo, a educação tradicional pautada no respeito à autoridade.

235 - Essa transformação do ser em um reprodutor da sociedade a que ele aderiu, preenchendo sua subjetividade, nem sempre se dá ao nível da consciência, observa Gallo.

236 - Mesmo a “escola moderna, de Ferrer, é um aparelho ideológico, já que visa produzir indivíduos com tais e tais características - neste caso, voltados para a transformação social. Ideologia serve para fornecer uma identidade fácil e falsa.

237 - Logo, construir uma escola contra-ideológica num panorama de capitalismo é tarefa quase impossível, já que a pedagogia não-diretiva fará com que a máquina de produção social seja o referencial externo buscado pelo aluno na produção de sua subjetividade. Não vive numa ilha libertária. Bom, é isso. Tarefa ainda a realizar a criação dessa escola que permite a formação autônoma da subjetividade.

238 - Quarto texto, ao tratar da imprensa anarquista no Brasil: “...a maioria dos operários havia trocado a escola pela fábrica e pela oficina aos seis e sete anos de idade, para ajudar seus pais a sustentar a prole. Por isso, os mais ilustrados, tinham que ler os jornais e prospectos em voz alta, em grupo, nos locais de trabalho, às horas do ‘almoço’ ou nas sedes das associações para que a maioria de analfabetos pudessem ouvir, compreender as idéias, os métodos de luta, memorizá-los, assimilá-los!"

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