Leandro Konder - O Que é Dialética (Livro) - 1ª Metade

 

Anotações Sobre “O Que é Dialética”, de Leandro Konder.

 

 

Parte 1 – Origens da Dialética:

1 – Na Grécia Antiga, dialética era a arte do diálogo. Aos poucos, não só dialogar, como demonstrar uma “tese” a partir de argumentos racionais e conceitos claros e tal. Fundada por Zênon ou Sócrates, que combateu a idéia de que a filosofia era inútil.

2 - Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: “é o modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação.” Neste caso, Heráclito era “o cara”. “Tudo existe em constante mudança”. Não havia estabilidade no ser.

3 – A metafísica de Parmênides prevaleceu sobre a dialética de Heráclito. A idéia de uma essência imutável e do “movimento” como fenômeno de superfície.

4 – A metafísica era mais adequada a idéia de estabilidade das classes dominantes.

5 – “Com seus conceitos de ato e potência, Aristóteles conseguiu impedir que o movimento fosse considerado apenas uma ilusão desprezível, um aspecto superficial da realidade; graças a ele, os filósofos não abandonaram completamente o estudo do lado dinâmico e mutável do real.” Ari e a sobrevivência da Dialética (embora menos radical).

6 – Idade Média: sociedade estamental, pouca circulação de mercadorias e idéias. Assim, espaço ainda menor para a filosofia dialética.

7 – Konder faz toda uma análise das idéias filosóficas sobre o movimento a partir das mudanças sociais (para quem acabou de ler “O que é Ideologia” de Chauí, não estou surpreso com isso...). A Revolução Comercial trouxe de volta o estudo do movimento. Vide Copérnico e a Terra. Também Descartes demonstrando que a condição natural do corpo era o movimento e não o estado de repouso.

8 - Pico de Ia Mirandola (1463-1494) sustentou que o fato de o homem ser "inacabado" e, portanto, poder evoluir lhe conferia uma dignidade especial (...).

9 – Para Giambattista Vico, conservador, a realidade histórica é obra humana, portanto, podendo ser compreendida pelos homens, ao contrário da Natureza, obra de Deus.

10 – Konder considera Diderot o maior dos iluministas: “Sou como sou" - escreveu ele - "porque foi preciso que eu me tornasse assim. Se mudarem o todo, necessariamente eu também serei modificado." E acrescentou: "O todo está sempre mudando". Ainda Diderot: “Desconfiem de quem quer impor a ordem”.

11 – Rousseau: “não tinha confiança na razão humana: preferia confiar mais fia natureza. Segundo ele, os homens nasciam livres, a natureza lhes dava a vida com liberdade, mas a organização da sociedade lhes tolhia o exercício da liberdade natural”. Propunha uma profunda democratização da sociedade, não se contentando com critérios formais como “vontade de todos”. Sabia que a mudança compromete a paz, mas não se submetia à “ideologia da ordem”, para ele, conservadora.

 

Parte 2 – O Trabalho:

12 – Kant: talvez o maior dos pensadores metafísicos. Antes de saber o que é a realidade, há de se saber o que é conhecimento. A razão pura. Ela mesma cheia de “antinomias” impassíveis de expulsão pela lógica. Para Hegel, mais anterior ainda é a questão do ser. Na pergunta “O que é conhecimento”, há o “O que é o ser?” (ou que é o “é” do “é conhecimento”?)

13 – Hegel, com seus dezenove anos, se entusiasmou com a Revolução Francesa. O homem lhe pareceu onipotente. Capaz de mudar a realidade com facilidade. Depois, ficou decepcionado com o andamento das coisas...

14 – “Lukács mostrou, em seu livro sobre O Jovem Hegel, que na base do pensamento de Hegel está não só uma reflexão aprofundada sobre a Revolução Francesa como também uma reflexão radical sobre a chamada revolução industrial, que vinha se realizando na Inglaterra. Hegel percebe que o trabalho é a mola que impulsiona o desenvolvimento humano; é no trabalho que o homem se produz a si mesmo; o trabalho é o núcleo a partir do qual podem ser compreendidas as formas complicadas da atividade criadora do sujeito humano. No trabalho se acha tanto a resistência do objeto (que nunca pode ser ignorada) como o poder do sujeito, a capacidade que o sujeito tem de encaminhar, com habilidade e persistência, uma superação dessa resistência”.

15 – “Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto”.

16 – Superação dialética hegeliana. Suspender. Negar uma parte, conservar outra e originar uma terceira coisa, nova. Matéria-prima: trigo que vira pão mediante trabalho.

17 – Crítica de Marx: "O único trabalho que Hegel conhece e reconhece" observou Marx em 1844 - "é o trabalho abstrato do espírito”.

 

Parte 3 – A Alienação:

18 – Divisão do trabalho e propriedade privada como “lados da mesma moeda”. Surge o trabalho alienado. Para outrem. A escravidão etc.

19 – Marxistas não acreditam em conselhos, “moralismos”, para formar uma consciência e “desalienar” o trabalho (como querem inclusive alguns cristãos).

20 – “Luta de Classes” como motor das transformações: Antes de Marx, diversos autores já tinham enxergado a questão. James Madison, ex-Presidente dos Estados Unidos, por exemplo, escreveu, em 1787: "Proprietários e não proprietários sempre formaram interesses diversos dentro da sociedade".

21 – Parágrafo muito interessante: “Nunca tinha sido criada na história da humanidade, antes do capitalismo, uma situação como essa: pela primeira vez existe uma classe social - o proletariado moderno - que não lidera um movimento destinado a substituir um modo de produção baseado numa forma de propriedade privada por outro modo de produção baseado em outra forma de propriedade privada. Pela primeira vez os anseios e ideais igualitários, coletivistas, socialistas, comunistas, dispõem de um portador material capaz de colocá-los em prática, através de uma prolongada luta política. A superação da divisão social do trabalho deixou de ser um sonho: passou a ser um programa que - em princípio - pode ser executado.”

 

Parte 4 – A Totalidade:

22 – Para a dialética marxista, o conhecimento é totalizante e a atividade humana, em geral, é o processo de totalização, que nunca alcança uma etapa definitiva e acabada.

23 – Hegel: “A verdade é o todo.” Se prestamos muita atenção numa parte apenas, podemos atribuir valor exagerado a uma verdade limitada, gerando uma mentira.

24 – A realidade é sempre mais rica que o conhecimento que temos dela. Algo sempre escapa da síntese.

25 – Total é maior que a soma das partes.

26 – Mesmo no cotidiano, estamos sempre, implicitamente ou não, trabalhando com totalidades mais ou menos abrangentes.

27 – A totalidade é um momento do processo de totalização, sendo que este nunca acaba.

28 – Há a lei dialética da transformação da quantidade em qualidade.

29 – Cada totalidade tem sua maneira diferente de mudar (e ritmo, diria eu). Exemplo: totalidade político-jurídica brasileira (“redemocratização”); totalidade socioeconômica (“alguma mudança”); e totalidade do modo de produção (“sem abalos”).

 

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