Alex Callinicos - Capitalismo e Racismo (Livro)

 

Anotações Sobre “Capitalismo e Racismo”, de Alex Callinicos.

 

 

Apresentação à Tradução Brasileira:

1 – Cita-se a queda de 5 milhões para 200 mil índios e as disparidades nas rendas de negros e brancos.

2 – Fala-se dos grupos de extermínio de jovens negros e da possibilidade cinco vezes maior de um negro ser preso em comparação com um branco. Uma espécie de racismo institucional, presente principalmente nas forças policiais, segundo entendi, mas que permeia o conjunto da sociedade.

3 – Enfatiza-se o racismo ibérico, de origem religiosa, com os “Estatutos da pureza de sangue”, colocando os negros como seres de sangue infectado, justificando barbáries. Com a abolição disso no século XVIII, pelo Marquês de Pombal, o racismo virou científico.

 

Capítulo 1 – Introdução:

4 – Os EUA ainda mostram uma separação entre brancos e negros. Não estão estes totalmente incluídos. O liberal trata o racismo como uma questão de atitude. Apresenta a solução de educar os brancos para que se livrem de seus preconceitos. Utiliza-se do multiculturalismo como estratégia também.

               

Capítulo 2 – Marxismo, Uma Tradição Européia?:

5 – O Nacionalismo negro considera que o marxismo é tão europeu que é incapaz de compreender as aspirações das massas negras oprimidas.

6 – Callinicos explica muito mal às críticas ao suposto eurocentrismo do marxismo, tornando este capítulo quase inútil.

7 – Critica a divisão que o racismo gera nos trabalhadores e a necessidade de união destes para superar o capitalismo e, conseqüentemente, o racismo. Brancos e negros derrotariam o racismo, não somente os “segundos”.

 

Capítulo 3 – De Onde Vem o Racismo?:

8 – Segundo Callinicos, “O racismo existe onde um grupo de pessoas é discriminado com base em características que lhe seriam inerentes enquanto grupo. O racismo é freqüentemente associado a uma diferença na cor da pele dos opressores e oprimidos, mas isso não é de nenhum modo uma condição necessária para existir o racismo.” Cita o exemplo dos irlandeses discriminados pelos ingleses no Século XIX. Todos brancos.

9 – “A versão teoricamente mais articulada da ideologia racista é o que Peter Fryer chama de “mitologia pseudo-científica de raça”, que floresceu na Grã-Bretanha (e também no resto do mundo capitalista desenvolvido) entre os anos 1840 e 1940. Essa versão assumia que a humanidade estava dividida em raças, cada uma delas baseada em características biológicas distintas, e que a dominação do mundo pelo imperialismo ocidental refletia a superioridade inerente das raças brancas sobre as demais no processo de seleção natural”. Callinicos poderia utilizar citações dessas teorias porra.

10 – Diferenças raciais são inventadas. Não se explicam na Biologia. Com o Genoma então... Cabou, pai.

11 – O que havia entre os camponeses isolados pré-capitalismo industrial era uma espécie de “heterofobia”. Medo do diferente, do estrangeiro. Receio. Não propriamente o racismo moderno, que parte de uma concepção de que certos grupos são incapazes naturais de participar da ordem racional de vida do “período evoluído”, digamos.

12 – Segundo o historiador negro Frank Showden Jr, os gregos e romanos, embora em contato com outras raças, não desenvolveram teorias da superioridade branca. Houve imperador romano negro inclusive.

13 – Bernal chega a afirmar que a Grécia Antiga surgiu a partir de combinações com sociedades negras e asiáticas avançadas, citando idioma, religião e outras influências diretas, porém, Callinicos considera que isso, embora relevante, não explicas as peculiaridades marcantes da sociedade grega.

14 – A obra “História”, de Heródoto, surge como importante fonte de Bernal. O grego fala de uma dívida histórica em relação aos vizinhos asiáticos e africanos, o que denota uma falta de sentimento de superioridade racial na Grécia.

15 – Coloca-se também que a luta entre Islã e Cristandade não foi algo racial, havendo inclusive conversões e alianças pontuais para enfraquecer rivais europeus.

16 - Nas palavras de Arendt, “os judeus foram capazes de escapar do judaísmo [religioso] através da conversão; do judaísmo [racial] não houve escapatória.” É a diferença entre Europa pré-moderna e Hitler. Com este, virou biologia (raça inferior), não religião. Isso tem a ver, segundo Callinicos, com a emergência do capitalismo e suas justificações. Por isso mudou.

 

Capítulo 4 – Escravismo e Desenvolvimento Capitalista:

17 – O racismo surgiu como ideologia dos grandes plantadores nas colônias inglesas do Caribe. Era útil às plantações coloniais do novo mundo.

18 – Como reflexo da época, o grande filósofo escocês David Hume, um dos gigantes do Iluminismo do século 18, tinha declarado: “Estou apto a suspeitar que os negros, e em geral todas as outras espécies de homens (...) sejam naturalmente inferiores aos brancos.”

19 – A Inglaterra utilizou seis milhões de escravos nas colônias. Um dos grandes crimes do capitalismo.

20 – Callinicos explica porque os servos brancos, incialmente utilizados nas “plantations” como espécie de “escravos temporários” foram substituídos: “A solução para os problemas de oferta de mão-de-obra veio com a importação, a partir dos anos 1680, de “trabalhadores africanos em número cada vez maior”, que “tornou possível manter grupos de trabalhadores suficientes nas plantations, sem criar uma carga explosiva de ingleses armados ressentidos por lhes serem negados os direitos de todos os ingleses e dispondo de recursos políticos e materiais para fazer sentir esse ressentimento”.

21 – Para justificar isso tudo, veio a teoria do africano naturalmente inferior.

22 – Passagem muito interessante de Wood: Algumas pessoas podem se surpreender ao constatar que na Grécia e Roma antigas, apesar da aceitação quase universal da escravidão, a idéia de que a escravidão fosse justificada por desigualdades naturais entre seres humanos nunca “pegou”. A única exceção notável, a concepção de Aristóteles da escravidão natural, nunca se consagrou. A visão mais comum me parece ter sido a de que a escravidão era uma convenção, embora uma convenção útil, que era justificável simplesmente sobre a base de sua utilidade. De fato, era até mesmo reconhecido que essa instituição útil era contrária à natureza. Tal visão aparece não só na filosofia grega, mas era até mesmo reconhecida pela lei romana. Tem se sugerido que a escravidão era o único caso na legislação romana em que havia um conflito reconhecido entre o ius gentium, a lei convencional das nações, e a ius naturale, a lei da natureza.

23 – A escravidão não precisava de justificação nas sociedades antigas (mesmo natural) pelo motivo de que estas, por si, eram desiguais e hierarquicamente estruturadas. Meio estamentais mesmo. Portanto, qualquer desigualdade era normal. A violência policial e judicial dos ricos não era algo anormal. Não havia qualquer noção de igualdade (mesmo formal) enquanto algo desejável. No capitalismo há a “igualdade legal”, digamos. A diferença se dá mediante economia. Porém, é importante ressaltar que isso não evitou que o capitalismo se beneficiasse “enormemente da escravidão colonial durante uma fase crítica de seu desenvolvimento”. A indústria têxtil inglesa era extremamente dependente da escravidão colonial nos EUA.

24 – A ideologia racista sobreviveu mesmo à abolição. Surgiu uma versão vulgarizada da teoria da seleção natural de Darwin. A manutenção do racismo era também importante para justificar a fase imperialista do capitalismo. E aí Callinicos cita um poema do final do Século XIX exaltando a missão civilizatória do “homem branco americano”. Ou seja, o racismo dispensava a escravidão até.

 

Capítulo 5 – O Racismo no Capitalismo Contemporâneo:

25 – E depois do colapso do colonialismo? Pra que racismo? Peter Fryer, por sinal, ligando capitalismo a racismo o tempo todo (Escravidão Colonial e Imperialismo), coloca que essa ligação hoje em dia meio que se desfez. O racismo seria, a seu ver, idéias mortas, sem base material atual, que permanece na mente de alguns ou muitos vivos, tendentes, assim, a acabar. É o que Callinicos chamou de visão liberal lá no começo das anotações, posto que “resolvível” pela educação dos brancos.

26 – “Como vimos, a idéia de que a humanidade está dividida em raças com constituições biológicas diferentes já não possui respeitabilidade científica. Além disso, é definitivamente vergonhosa moral e politicamente por causa do uso feito pelos nazistas”. Assim, coloca Callinicos que o racismo foi deslocado para a “questão cultural”. A população temeria os “imigrantes diferentes”.

27 – Callinicos cita um livro que critica o “revival” do racismo biológico mediante testes de QI.

28 – A etnia é transformada em alavanca do racismo da seguinte forma: “Embora reconhecida como um produto da história (geralmente caricaturizada), a etnia não é concebida como algo que possa ser transformado pela ação humana, pois teria se tornado afetivamente parte da natureza”. O máximo que se poderia fazer é entender essas prisões étnicas (multiculturalismo)... Alguns admitem a hipótese de “trocar de prisão” (teste do críquete).

29 – meio que voltando a outros capítulos, há o exemplo do nacionalismo imperialista, pré-primeira guerra, identificado com o racismo. As nações confundiam-se com raças superiores destinadas a vencer.

30 – Marx já, em 1870, analisando a luta entre proletários irlandeses e ingleses, colocava como o racismo poderia ser útil sempre ao capitalismo: a) competição econômica entre os trabalhadores (o imigrante que quer tirar meu empregou ou reduzir meu salário); b) mecanismos das ideologias em geral, inclusive da ideologia racista. O racismo oferece aos trabalhadores brancos o conforto de acreditarem que são parte do grupo dominante, e também provê, em tempos de crise, um bode expiatório pronto na forma do grupo oprimido. Sem contar quando há vantagens reais aos brancos pobres (dinheiro ou direitos especiais); c) este item pareceu-me mais uma síntese... É o “dividir para governar” (que vem desde Roma). Uso do racismo para dividir a classe trabalhadora. Parece com o item “a” na verdade. Faltou compreender algo? Indica um livro, num dos rodapés, que trata melhor disso. Acho que só lendo...

31 – Talvez eu esteja sendo muito bonzinho com os capitalistas, mas, pra mim, ainda não é tão evidente a necessidade material do racismo para a prosperidade do capitalismo atual e mesmo se ele, de fato, é tão utilizado pelas classes dominantes atuais.

 

Capítulo 6 – Trabalhadores Negros e Brancos:

32 – Parte do movimento negro coloca a “radical identidade negra” como verdadeiro fator de libertação contra o capitalismo, substituindo a luta de classes e etc. Inclusive, alguns colocam que como o trabalhador branco (premissa meio equivocada segundo Callinicos) se dá bem com o racismo, não teria interesse em lutar contra o racismo. Seria quase uma “aristocracia operária”. Falando assim, parece-me uma espécie de “sub-explorador”, sei lá.

33 – Callinicos é contra “a idéia de que toda a classe trabalhadora ocidental forma agora uma aristocracia operária tende a ser suportado pela teoria de que há um processo de 'troca desigual' entre o Norte e o Sul: o resultado é que os trabalhadores ocidentais viveriam dos recursos extraídos dos povos do Terceiro Mundo.” Pra mim, isso é verdadeiro em parte, entretanto, eu não entendo a explicação dele sobre fluxo de capitais.

34 – Callinicos cita estudos (que podem ser interessantes) mostrando que quanto maior a discriminação menor é o salário dos trabalhadores brancos já que a desunião da classe ajuda aos patrões mantê-los baixos. A idéia é mostrar que o racismo, no fundo, não é algo bom para os trabalhadores brancos. Vale pensar sobre isso. Talvez sim, talvez não. Acho que depende de fatores.

 

Capítulo 7 – Comunidade e Classe:

35 – O “nacionalismo negro” enfatiza a história comum de luta e realizações para gerar uma cultura de solidariedade capaz de se opor à lógica da exploração e opressão. Callinicos considera isso bom desde que não exclua a união com os trabalhadores brancos (inclusive são maioria nos países europeus e nos EUA), afirmando que os Panteras Negras falharam nessa missão. Permitiu-se que a classe dominante isolasse e destruísse os “radicais negros”.

36 – Outra falha seria esconder os antagonismos de classe dentro da própria comunidade negra. A emergência da classe média negra leva à ideia de harmonia entre classes sociais.

37 – Perigo três: Fragmentação em grupos étnicos. A classe trabalhadora passa a agir sem unidade. Os trabalhadores asiáticos não se enxergam na “comunidade negra” e por isso não se unem.

 

Capítulo 8 – Los Angeles, Rebelião de Classe, não revolta Racial:

38 – As revoltas teriam sido multirraciais apesar do estopim “negro” (julgamento injusto de caso racial). Veja-se, por exemplo, as etnias presas.

39 – Foi no contexto de arrocho salarial do governo Reagan. Opôs classe política negra (e policial em parte) e os manifestantes.

40 – É citado o caso dos lojistas coreanos, destinatários da fúria dos jovens negros de Los Angeles. Callinicos coloca que isso foi um equívoco. Ainda que existam reclamações justas, os sul-coreanos eram meros intermediários, também trabalhadores (só que imigraram em melhor situação). O conflito não pode ser étnico para funcionar, mas de classe. É mais ou menos essa a conclusão.

 

Capítulo 9 – Racismo e Luta de Classes:

41 – Segundo Callinicos, “há uma relação inversa entre o nível de luta de classe e a intensidade de racismo. O fator crucial que está por trás desta relação é a autoconfiança dos trabalhadores.” Cita uma série de exemplos históricos de acirramento da luta de classes em que negros e brancos agiram em conjunto. Quando os patrões avançam, a situação de miséria do trabalhador precisa de um bode expiatório. Deste modo, fica mais fácil apregoar o racismo contra minorias e se sentir menos explorado que estas. Quando o trabalhador avança (luta de classes), os brancos enxergam o potencial de ações coletivas e tendem a abarcar (ser abarcado pelo) o trabalhador negro.

 

Capítulo 10 e Último – Revolução Socialista e Libertação Negra:

42 – O racismo atrai os trabalhadores brancos a partir do momento em que fornece uma solução imaginária a seus problemas reais. Se “a religião é o ópio do povo”, o racismo não fica atrás...

43 – Callinicos coloca a revolução socialista como primeiro passo para o fim do racismo, ou seja, não é algo automático, mas seria o golpe fatal, restaria “limpar as manchas” ou algo assim. É a conclusão dele.                                                                                                                                              FIM!

 

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