Filosofia - Textos Diversos XXIV - A Superação do Niilismo (Francisco Fuchs)

 

 

Francisco Fuchs - A Superação do Niilismo:

388 - O niilismo passivo é o terceiro estágio do niilismo (negativo e reativo são os anteriores): Nem mesmo basta dizer que os ideais divinos e humanos foram ultrapassados; deixou-se para trás a própria noção de ideal.

389 - Tanto na perspectiva do niilismo negativo quanto na do niilismo reativo, a vida parece possuir um sentido e uma finalidade dados de antemão. Sentido e finalidade foram evidentemente inventados e fundamentados em mitos ou razões, mas parecem ter estado aí desde sempre e são assumidos em tanto que valores estabelecidos: fardos que a humanidade carrega em direção ao deserto. No niilismo negativo, sentido e finalidade são dados por valores superiores à própria vida. No niilismo reativo, todos os valores superiores são negados, mas o ideal ascético persiste, apresentando agora uma face propriamente humana; o sonho do Paraíso na Terra – seja ele coletivo ou individual – substitui o delírio de uma Jerusalém Celeste. Sentido e finalidade possuem nesses contextos uma função essencial : eles justificam o sofrimento. Sofre-se, mas o sofrimento não é em vão.

390 - E esse niilista passivo segue a direção oposta a do niilista ativo: ao invés de quebrar as tábuas de valores, ele se deixa quebrar pela ausência de valores. Porém, o texto defende que só assim se pode criar novos valores. Após essa limpeza de terreno... Aí viria o niilismo ativo, ao que entendi. Assim falou Zaratustra (trecho): Os valores conhecidos até aqui são os valores do passado e do presente; os valores conhecíveis são valores meramente possíveis, e possíveis precisamente no contexto do niilismo – mas nesse contexto, todo “novo” valor já nasce velho. Por isso não basta criar novos valores; é necessária uma alteração radical (transvaloração) naquilo de que depende o valor dos próprios valores (vontade de potência). Assim, criar valores efetivamente novos, significa avaliar novamente o peso de todas as coisas (pensar) a partir da transvaloração.

391 - O eterno retorno parodia Kant: Seja lá o que tu queiras, queira-o a tal ponto que tu queiras também o seu eterno retorno. A aplicação dessa regra teria como conseqüência eliminar todos os estados moderados do querer. O problema disso, diz o texto, é que as forças reativas também voltam. Logo, a máxima não é suficiente.

392 - O niilismo ativo é destruição e autodestruição (trata-se de destruir as forças de conservação, as reativas) ativas. Ele nega as forças reativas.

393 - A força reativa é aquele que obedece. Força reativa é também aquela que separa uma outra força (precisamente a força ativa) daquilo que ela pode. Aí está seu poder. Assim que esse homem dissesse: Eu posso (ou : Eu verei se posso ou não, só experimentando saberei se posso ou não), logo surgiria de alguma parte uma força reativa para dizer-lhe : “não, tu não podes, tu não conseguirás, não deves fazê-lo e nem mesmo tentar fazê-lo.”

394 - Antes morrer que viver uma vida diminuida, assim é para Nietzsche. Mas ok, então que fazer? Tentar ser seletivo para quando vier o eterno retorno.

395 - O bom jogador não conta com a causalidade, ele quer expulsar as consequências indesejáveis quase que como numa prece. (Acho que é tipo bater o pênalti sem pensar para obter bons resultados). Não há finalidade, então o bom jogador não está ligando para as consequências. É como jogar dados.

396 - O mau jogador e o bom jogador: Num caso, a repetição diz respeito às intenções e expectativas da consciência, e acarreta tensão e angústia (pois há defrontação entre a finalidade do sujeito e uma causalidade que o ultrapassa); no outro, ela é repetição do devir e do próprio lance de dados para além de qualquer finalidade, e acarreta o gozo da fatalidade (amor fati), que vem duplicar ou autenticar o gozo primeiro da afirmação do acaso.

397 - Niilismo ativo é fodam-se os riscos. Não retrocede e nem olha para trás. É importante perceber que isso não se passa no âmbito da consciência e de uma decisão consciente, mas remete a forças de outra natureza. A consciência, eminentemente reativa, jamais arrisca nada. Ao contrário, ela mesma é negada nesse processo, em proveito de outras forças, desconhecidas até o momento.

398 - Nietzsche citava exemplo de homens em perigo iminente que tomam decisões rápidas e se salvam e de outros que, ao pensarem no que é prudente, perdem o “timing” e são levados.

399 - A negação se torna uma força ativa. A vontade de nada vira pura afirmação. É a transvaloração. O acaso é afirmado. O acaso é necessário.

400 - O texto defende que o amor ao risco não seja inconsequente com os demais. Não sei se é uma ressalva de Nietzsche ou do autor do texto. Ademais, como amar o acaso sem ser inconsequente, pergunto.

401 - Numa nova hierarquia, as forças reativas finalmente assumiriam o papel que lhes cabe : assegurar a conservação, sim, mas em obediência às forças ativas. Não sei se é o autor do texto propondo isso pra corrigir excessos do pensamento de Nietzsche ou se vem do próprio. Comer, sim, dormir também, mas apenas o mínimo necessário para em seguida retomar a experimentação e o risco, na vida como no pensamento.

 .

Comentários