Filosofia - Textos Diversos XXIII (Foucault)

 

Foucault - Sexualidade e Poder:

373 - Se propõe a uma história da sexualidade.

374 - A histeria era, em Freud, o desconhecimento sobre si mesmo, mais especificamente, sobre o seu próprio desejo.

375 - Reclama que há muito debate e conhecimento no plano geral (ocidental) sobre sexualidade (hipersaber), contrastando com o desconhecimento no plano individual. Saber coletivo sobre a sexualidade.

376 - Diz que o Oriente até produz muito sobre como dar e sentir prazer (a arte erótica), mas o Ocidente, por seu lado, preferiu produzir ciência sobre a sexualidade, não sobre o prazer. A verdade do sexo.

377 - Há a tese de que a Antiguidade não tinha proibições morais nesse campo. A repressão sexual teria começado com o cristianismo e a burguesia levou adiante por um bom tempo. Monogamia e sexo visando a reprodução. Porém, Foucault cita estudo que diz que a crítica ao desejo já era a regra no Império Romano (só os ricos safados podiam fugir delas e se comportarem como animais livres), que o que o cristianismo fez foi criar novas técnicas de controle da sexualidade. Com eles, principalmente após se tornarem a religião do Império, vem o “pastorado” em forma de imposições. Governar e comandar é mais leve que pastorar, segundo Foucault. Este poder reina sobre pessoas, não sobre um território. Conduz o rebanho. Não quer derrubar ou destruir outros, afirma. Poder individualista, não quer salvar a nação, mas sim o bem-estar de cada, sacrificando-se pelo rebanho se necessário.

378 - O pastor tem a obrigação de salvar a todos e sua autoridade sobre cada ação é imensa. À culpa jurídica se soma a culpa cristã. Ele quer conhecer não só os atos, mas o interior da alma. Vai além do “mestre da verdade” do mundo antigo. Filósofos e afins.

379 - A sexualidade pedia, então, uma repressão moderada da carne. Evitar as tentações. Não era o ascetismo radical de outras religiões. Vale perceber, porém, que o cristianismo parte de algo conhecido, as tentações da carne, para exercer seu poder. Não é como se negasse a discussão sobre a sexualidade. Um “não, isso não existe. Não precisamos disso e pronto”.

380 - Ele diz que não quer dizer onde vem esse poder, mas como ele é exercido e por onde passa. Não é o Estado. São várias instituições. A questão não é a origem primordial do poder. Resumidamente, vigiar e controlar nem sempre é proibir. Disciplinar e redirecionar pode ser mais eficaz. O exército é uma mostra dessa eficiência. Marchando e se organizando. Fala também em classe operária, que não era isso, mas foi adestrada. Essas coisas foram causadas por mecanismos de poder não essencialmente negativos. Isso pode ser ruim o catastrófico, mas não era interdição.

381 - A sexualidade, portanto, não viveu só de interdição, mas de produções no campo científico. Até porque essa obsessão sexual na nossa sociedade ocidental não podia ser estancada, ela precisava produzir e aparecer. O Ocidente organizou a sexualidade mais que proibiu. É a tese de Foucault.

 

Foucault - Verdade, Poder e Si - BPI:

382 - Entrevista de 1982. Não penso que seja necessário saber exatamente o que eu sou.

383 - Programas para o futuro, mesmo bem intencionados, viram instrumento de opressão. A Revolução Francesa serviu-se de Rousseau, um amante da liberdade, para elaborar um modelo de opressão social. O stalinismo e o leninismo aterrorizariam Marx,

384 - Todas as minhas análises vão contra a idéia de necessidades universais na existência humana. Mostram o caráter arbitrário das instituições e nos mostram qual é o espaço da liberdade que ainda dispomos e que mudanças podemos ainda efetuar.

385 - Leu Nietzsche (com paixão), Heiddeger, Marleau-Ponty, Sartre, entre outros. Diz que o Ser e o Tempo é um livro difícil, mas escritos recentes não.

386 - Crítica: Os historiadores das sociedades são censurados a escreverem à maneira das pessoas que agem sem pensar, e os historiadores das idéias, à maneira das pessoas que pensam sem agir. Todo mundo age e pensa ao mesmo tempo.

387 - Por meio de diferentes práticas – psicológica, médica, penitenciária, educativa – uma idéia, um modelo de humanidade tem tomado forma, e essa idéia de homem tem se tornado normativa, evidente e se passa por universal. É possível que o humanismo não seja universal, mas correlativa a uma situação particular. Isso que chamamos de humanismo os marxistas, liberais, nazistas e os católicos se utilizaram. Isto não significa que tenhamos de eliminar o que chamamos de “direitos do homem” ou “liberdade”, mas isso implica que não poderemos dizer que a liberdade ou direitos do homem devam ser circunscritos no interior de certas fronteiras. Por exemplo, se você perguntasse, há oitenta anos, se a virtude feminina faria parte do humanismo universal, todo mundo responderia sim.

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