PP - Textos Diversos XII

 

Grouxo-Marxista (PP) - O Estado e As Ocupações:

364 - Em novembro surge um movimento com o nome Contra a Terceirização com uma articulação fora das escolas, no paradigma da Frente de Luta em 2013: plenárias abertas, com direito de fala, voto e de pegar qualquer tarefa para todos os interessados, carro de som financiado por meio de vaquinha ou doação sem contrapartida, enfim, o pacote todo.

365 - Os secundaristas iniciaram sua luta em solidariedade, mas depois ganhou dinâmica própria. As primeiras ocupações levaram a UBES a entrar na história também e incentivar as demais. Os professores vacilaram na ação direta, estudantes assumiram o protagonismo. Tudo isso após algumas marchas a órgãos públicos com reivindicações não-atendidas.

366 - Os governos e gestores alinhados (inclusive alguns professores) incentivaram grupos da sociedade a criarem movimentos de “desocupa” e coisas como “pais pela educação”. (...) Essas reuniões serviam para difundir boatos sobre o iminente fechamento e militarização, caso as escolas continuassem ocupadas, e para garantir a lealdade dos poucos diretores que tinham posição mais ambígua frente ao movimento. Além de ameaçar com corte de ponto e do bônus que era dado aos professores por assiduidade.

367 - A primeira desocupação violenta: O diretor tinha se mostrado simpático ao movimento no início, conhecia os alunos mais mobilizados, sabia quem eram os apoiadores e de onde vinham e foi o principal articulador não-oficial da pressão pela desocupação.

368 - Burocratas de bairro (“lideranças”) fizeram campanhas difamatórias contra os ocupantes e cooptaram uma aluna que entregava informações e lançava boatos e brigas internas.

369 - Como apontado por Fagner Enrique aqui, as ocupações tinham muita dificuldade em envolver um número grande de secundaristas e o público proletário das escolas. Não foi por falta de vontade: várias panfletagens foram realizadas, algumas atividades abertas, protestos locais também. A comunidade, salvo raras exceções, simplesmente não comparecia e mantinha a costumeira passividade.

370 - O cuidado com o prédio e a vigilância tinham um custo em termos de tempo e energia enormes para os secundaristas. Havia momentos em que mal se conseguia realizar atividades internas, quanto mais as voltadas para a comunidade. Para aguentar o processo de ocupação também era comum som alto e barulho na madrugada, o que gerava insatisfação grande dos vizinhos. Dessa maneira, a escola ficava de fato fechada e sua utilidade social para a comunidade ficava abstratamente colocada no sucesso (possível e futuro) da luta contra as Organizações Sociais.

371 - Dias depois, esses pais se organizaram em forma de milícia com a Polícia Militar e expulsaram os ocupantes da escola ilegalmente e na base da porrada. Nem os pais desses secundaristas nem nenhum vizinho se mobilizaram para defendê-los, apesar de alguns terem comparecido a algumas atividades da ocupação. Depois disso seguiu-se uma cascata de desocupações violentas ou negociadas sob a ameaça de violência iminente.

372 - Muitos estudantes se preocupavam com o ENEM e a escola ocupada não estava apresentando solução em tal sentido. Houve escola, porém, que organizou uma resposta não-hierárquica a isso e apostou a sobrevivência da ocupação, então, na legitimação social. Apesar de ter durado pouco mais de uma semana, foi uma experiência que comprova sua importância pelo fato do Estado precisar ter mudado sua estratégia e retomar a utilização da polícia e do judiciário para destruir essas relações incipientes — não foi mais possível mobilizar secundaristas e professores contra seus colegas.

373 - Mesmo onde houve resistência forte, intimidando possíveis violências, mas não havia disposição para superar uma concepção do piquete em que nada funciona, a coisa ficou insustentável em pouco tempo.

374 - Manolo: O que achei genial no texto é que não se trata de um debate teórico, mas de lutas concretas que mostram até onde podem ir, e o que pode ocorrer quando fogem do roteiro e ultrapassam os limites previstos.

375 - Grouxo coloca que partidos de esquerda (PT) tentavam se autoproclamar como referências, o que podia gerar paternalismo na falta de alguma referência externa combativa.

376 - Humanaesfera coloca que a autogestão de serviços públicos, para ser vitoriosa, precisa se expandir em nível mundial e para os ramos da economia, já que, do contrário, apenas economizamos dinheiro (do Estado) que o capital vai usar para se autovalorizar. Continuarão impondo impostos, extrações de mais-valia e etc.

 

Grupo Interinstitucional e Interdisciplinar de Estudos em Epistemologia (PP) - Que Polarização Nos Interessa:

377 - Crise de governo nem sempre é crise política ou muito menos de modelo de desenvolvimento. Veja-se o impeachment de Collor, por exemplo, que salvo engano não significou nenhuma barreira para a expansão do dito “neoliberalismo” no país.

378 - Diz que os anos PT foram até bons para os lucros do grande capital, não havendo tantos motivos assim para a saída do poder do partido. Aliás, até agosto do ano passado o dono do Itaú (Roberto Setúbal) afirmava publicamente não haver motivos para a saída da presidenta Dilma e o representante do Bradesco participou ativamente do governo até dezembro de 2015.

379 - Se o desgaste político do governo não fosse tão grande, a ponto de o mesmo conseguir passar as reformas demandadas pelo capital (Previdência, CLT, etc.), haveria esta polarização? (...) Lembremos que nem mesmo o “modelo de desenvolvimento” está em jogo na atual “polarização”, pois o governo PT aprofundou as tendências à reprimarização da economia que nos cabe dentro da atual divisão internacional do trabalho.

380 - A ideologia de que o problema do Brasil é a “corrupção” foi reforçada por todos os lados – tanto pelo oligopólio da grande mídia, quanto pelas entidades sindicais petistas – e, portanto, não pode ser estranho que seus efeitos apareçam nas últimas manifestações a favor do impeachment.

381 - Em recente estudo[i], pesquisadores da Universidade de Brasília, cruzando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e das Declarações de Imposto de Renda de Pessoas Físicas (DIRPF), demonstraram que a desigualdade social no Brasil se encontra estável e que o país continua sendo extremamente desigual. As curvas de Lorenz de cada ano se mostraram praticamente sobrepostas.

382 - Segundo dados do MEC-INEP, o número de matrículas no ensino superior nas universidades públicas (federais, estaduais e municipais) brasileiras passaram de 1.176.174 em 2003, para 1.897.376 em 2012. O que significa um aumento de 61%. Por outro lado, o número de matrículas nas universidades privadas no mesmo período passou de 2.760.759 para 5.140.312, o que significa um aumento de 86%, demonstrando que ocorreu um aumento maior da rede privada.

383 - Por outro lado, com relação à chamada democratização de acesso ao ensino superior, segundo dados do Ministério da Educação, em 1997 o percentual de jovens negros, entre 18 e 24 anos, que cursavam ou haviam concluído o ensino superior era de 1,8% e o de pardos, 2,2%. Em 2013 esses percentuais já haviam subido para 8,8% e 11%, respectivamente. Poucas verbas para a assistência estudantil (500 milhões por ano) e abuso de FIES, EBSERH e etc.

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