Fagner Enrique (PP) - Mário Pedrosa e o Golpe de 1964 III

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312 - Durante o “milagre econômico”, segundo um historiador, “construiu-se um ‘modelo econômico’ com forte investimento do Estado em setores não lucrativos ou de baixa lucratividade inicial, mas imprescindíveis ao crescimento (energia, estradas, siderurgia, telecomunicações) e garantidores de alta lucratividade para o grande capital, assim como a maior abertura possível do país ao capital estrangeiro (com a inevitável desnacionalização da economia).

313 - Oposição nos EUA às políticas de Roosevelt:  Muitas das empresas americanas com grandes capitais na América Latina, “pelos seus homens mais representativos”, chegaram a dar mostras de que o seu objetivo era “uma simples volta ao big stick” ou algo como “uma série de sanções econômicas em represália às ações confiscatórias de vários governantes latino-americanos, a fim de obrigá-los a devolverem as propriedades norte-americanas aos antigos donos”.

314 - O Estado norte-americano reclamava dos trustes formados por suas companhias privadas: Assim, na contramão da estratégia prosseguida pelo Estado americano desde a última década do século XIX, voltada para a quebra dos vínculos dos países latino-americanos com qualquer potência europeia, associam-se, durante a guerra, grandes corporações privadas americanas e os ditos cartéis alemães instrumentalizados por Hitler, tendo em vista a partilha dos mercados da América do Sul. (...) a preeminência alemã nos mercados sul-americanos foi possível somente porque as organizações americanas concordaram em não competir naquela área…

315 - Algumas companhias queriam limitar a expansão de produção de aço e esperar o preço subir com a guerra, o que era indesejável às pretensões militares e poderia prejudicar o combate.

316 - Truman embora tivesse uma política externa que pregasse a livre-iniciativa e o anticomunismo, era acusado de não ser liberal pelos homens de negócio do seu tempo, que queria, retomar as rédeas do Estado de forma mais orgânica e direta e menos representativa (usam até essas palavras numa análise). O parlamento não bastava. Leo Welch, tesoureiro da Standard Oil of New Jersey, é explícito nessa intenção.

317 - Mais tarde: No que se refere ao estabelecimento de um clima mais hospitaleiro ao investimento privado no Brasil, Pedrosa faz menção, por exemplo, a uma medida concreta do Governo Castelo Branco: a revisão da lei de remessas de lucros.

318 - Truman: “viam nele um remanescente da época reformista do New Deal e mesmo do War Deal rooseveltiano que se fazia necessário acabar: havia pelos gabinetes e repartições da Casa Branca muitos ‘dirigentes sindicais, políticos liberais e propagandistas de esquerda’”.

319 - Plano Marshall: Estado americano relega, de novo, os interesses imediatos dos “homens de negócios” americanos para o segundo plano, por mais que Truman afirmasse, por exemplo, em Junho de 1946, desejar “ardentemente […] a volta de nosso comércio exterior e de nossos investimentos à iniciativa privada”: “a iniciativa governamental não era ditada por interesses econômico-financeiros mas por motivos de alta política de defesa da ordem social no âmbito do Ocidente”.

320 - A América Latina ficava atrás agora de uma série de países e regiões (Europa e Coreia, por exemplo) nos financiamentos estadunidenses. Secretário de Estado, de forma arrogante, mandou esperar. Ensaiou-se reaproximação com ameaça cubana, mas nem rolou muito.

321 -  Plano Marshall:  Isso não significa, no entanto, que a iniciativa privada estivesse sendo excluída do processo, pois os capitalistas americanos, a partir dos primeiros êxitos do Plano Marshall, “viram chegar o tão esperado momento de investir seus próprios capitais na cobiçada península eurásica e se apoderaram de quanta indústria de produção em massa pudessem”, de modo que “agora […] os capitalistas europeus temem ser desalojados de seus próprios mercados pela força expansiva do capitalismo americano”.

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