Fagner Enrique (PP) - Ainda Sobre a Centralidade da Tática
Fagner Enrique (PP) -
Ainda Sobre a Centralidade da Tática:
264 - Há ações que surgem
da espontaneidade do fato, mas algumas são planejadas. A existência de
planejadores não é, em si, um problema: Se
os militantes não se afirmam como gestores perante a base, há participação, não
direção.
265 - Crê também que um
grupo “de fora” pode somar a grupos que já estejam se organizando por dentro.
Isso só é um problema a depender da forma com que se faz. Se o objetivo do grupo político não é produzir novos militantes
subtraindo lutadores – ou fazer de uma mobilização que mal começa a dar os
primeiros passos uma nova organização, fonte de novos militantes e/ou de novos
eleitores – a coisa toda pode correr bem.
266 - Um dos equívocos relativos à noção de
“trabalho de base” é o de não se levar em conta que muitos trabalhadores
acompanham, mesmo que de longe, os êxitos e fracassos dos grupos políticos. Um
tipo de luta que não atinge seus objetivos ou sequer apresenta objetivos e os
meios de alcançá-los não é nem um pouco atrativo. A radicalidade, a violência,
por exemplo, não sendo empregue racionalmente será pouco atrativa, servirá para
afastar os trabalhadores ao invés de agregá-los, algo que já foi discutido
noutros artigos publicados neste site.
267 - Critica o MPL por
supostamente pregar o espontâneo no lugar do organizado. Haveria ânsia de
destruir sem ímpeto por recriar. (...) o
MPL sequer foi capaz de se afirmar como movimento reformista, afinal a tarifa
zero ainda está longe de ser implementada. Ele é reformista nas propostas, mas
na prática política mostrou-se incapaz de pressionar os capitalistas e o Estado
a ponto de ver atendida sua reivindicação central.
268 - Há várias críticas
ao texto nos comentários. A radicalidade
do MPL nunca esteve na bandeira. Concorda, porém, que a pauta é reformista
e chega a dizer, este mesmo primeiro comentador, que a pauta é boa para os
capitalistas modernos.
269 - Outro comentador
aprofunda a questão: Por mais que a luta
pelos transportes possa parecer reformista e até capitalista – ora, fomentar o
acesso a cidade fomenta o consumo – há a questão do empoderamento urbano e isso
é temível, capaz de criar uma resistência até de um capitalismo contra o
próprio capitalismo, abstendo do fluxo do consumo e tal.
270 - Detalhe: tarifa nos
países europeus é altamente subsidiada. E na Estônia é tudo free.
271 - Fagner continua
pedindo coisas “simples” ao MPL: o MPL,
não apenas em São Paulo, não consegue transformar a massa em revolta em
militantes, justamente a única coisa que poderia impedir sua burocratização ou
sua desagregação. Foi justamente esse tipo de burocratização que possibilitou
que o MPL-SP – mas será somente ele? – fosse hegemonizado pela política
identitária. Os defensores da política identitária aproveitaram-se da
incapacidade de massificação do movimento, porque se o movimento se tivesse
massificado as pautas identitárias não encontrariam terreno fértil.
272 - Caio ex-MPL diz que
o movimento é sim propositivo. Ora, o MPL não surgiu da cabeça de algum
doido, surgiu de um movimento real da classe trabalhadora: das repetidas lutas
contra o aumento da tarifa que explodiram em cidades de todo país entre 2003 e
2013. (...) faltou ao MPL um
horizonte da transformação revolucionária de toda sociedade (não se trata da
falta de uma “estratégia para a luta do transporte”, como me parece que você às
vezes diz no texto, pois isso é “tática”). … Sob essa ótica, hoje compreendo melhor o que estava de fato em jogo
quando, no dia-a-dia do MPL, os militantes divergiam entre dar prioridade à
coleta de assinaturas para o projeto de iniciativa popular da Tarifa Zero ou ao
trabalho em escolas e bairros visando preparar as bases para as próximas lutas
contra o aumento.
273 - Do que Fagner
sentiu falta no Tarifa Zero: … Mas daí
para a elaboração de uma estratégia nacional de luta pela tarifa zero,
programada passo a passo, estudando as condições concretas de cada cidade,
articulando cada luta local com uma luta mais ampla, nacional (e sabe-se lá,
até internacional), há uma grande diferença. Estudar o inimigo, quem é,
como derrubá-lo e etc.
274 - Caio lembra o
seguinte: a organização de base não é
antídoto à burocratização. (...) Com as bases bem organizadas, o controle dos
gestores sobre os trabalhadores pode ser ainda maior.
275 - Fagner: Se o PT, o MST e a CUT, entre outros,
tivessem funcionado dessa forma, “propositiva” mas ao mesmo tempo horizontal,
eles não se teriam burocratizado. Um movimento ou partido de massas pode se
burocratizar e dar lugar a um controle dos gestores ainda maior sobre os
trabalhadores? Sim, PT e cia. estão aí para provar, mas isso não tem nada a ver
com o que eu defendo. No PT e cia., há bases organizadas? Sim, mas organizadas
por quem? Quem é que traça as diretrizes? Enfim: para que a sociedade comunista
seja planejada e auto-organizada, a luta deve ser também planejada e
auto-organizada.
276 - Em
parte, continuo pensando assim. O que atrai efetivamente, não todas as pessoas
mas algumas pessoas (eu colocaria hoje) para a luta são as ações concretas das
mobilizações e organizações, os choques com os capitalistas, na medida em que
essas pessoas percebem que tais ações, sejam espontâneas ou não, estão de
acordo com os seus interesses. Mas depois de atraídas, essas pessoas precisam
saber qual rumo tomar.
.
Comentários
Postar um comentário