Livro: C. I. Jones - Introdução à Teoria do Crescimento Econômico - Capítulo 4

                                                                              

Livro:  Charles I. Jones - Introdução à Teoria do Crescimento Econômico (2000)



Pgs. 75-89


"CAPÍTULO 4: "A ECONOMIA DAS IDEIAS"


54 - Aqui o objetivo é suprir a deficiência dos modelos anteriores. Neste capítulo, vamos estudar questões amplas associadas à criação de um modelo econômico de tecnologia e melhoria tecnológica. (...) Na função de produção Cobb-Douglas dos capítulos anteriores, Y = Kª(AL)1-ª, o termo "A" é um índice de tecnologia.


55 - Engraçado que o exemplo usado ficou meio datado rs: As ideias melhoram a tecnologia de produção. Uma nova ideia permite  que um dado pacote de insumos gere um produto maior ou melhor. Um bom  exemplo de ideia foi apresentado por Paul Romer (1990). Os homens de Neanderthal usavam óxido de ferro como pigmento em suas pinturas nas cavernas. Hoje, "pintamos" óxido de ferro em fitas magnéticas para fazer gravações de vídeo. A "ideia" que está por trás do videocassete permite-nos usar um dado pacote de insumos para gerar um nível mais elevado de utilidade. No contexto da função de produção citada anteriormente, uma nova ideia gera um aumento no índice de tecnologia, A. Transistores e preço da iluminação, por exemplo, costumam cair continuamente com o passar dos anos e décadas. Formas mais eficientes de produzir o mesmo tanto.


56 - ...As ideias não estão, contudo, confinadas aos feitos da engenharia. A criação da abordagem varejista da rede de lojas Wal-Mart, por Sam Walton, não é menos ideia do que os avanços na tecnologia dos semicondutores.


57 - Em meados dos anos 1980, Paul Romer formalizou a relação existente entre a economia das idéias e o crescimento econômico. Essa relação pode ser expressa da seguinte maneira:



58 - Não rivais: Podem x e y usar, ao mesmo tempo, a ideia. Não há fila de espera.



59 - Cita, por cima, a tragédia dos comuns: Um exemplo moderno do problema dos campos comuns é o excesso de pesca em águas internacionais.


60 - ...Os sinais digitais de uma transmissão via satélite codificada são misturados de modo a só ter utilidade para quem possui um decodificador. Já os softwares muitas vezes "não são misturados": quem tiver um drive pode copiar o software e dar para um amigo.


61 - Os bens não-rivais que são essencialmente não-excluíveis são, com frequência, chamados de bens públicos. (...)  Bens que são rivais devem ser produzidos cada vez que são vendidos; bens não-rivais só precisam ser produzidos uma vez. Isto é, bens não-rivais como as ideias envolvem um custo fixo de produção e um custo marginal zero. Por exemplo, é muito dispendioso produzir a primeira unidade do processador de textos ou da planilha mais recente, mas as unidades subsequentes são produzidas simplesmente pela cópia da primeira unidade. Thomas Edison e seu laboratório precisaram de muita inspiração e transpiração para criar a primeira lâmpada elétrica comercialmente viável. Mas, uma vez produzida a primeira, as demais poderiam ser produzidas a um custo muito baixo.


62 - Criação de um aplicativo ou software novo (o "x" abaixo é tipo horas de trabalho):



63 - ...Os retornos crescentes também podem ser vistos quando se observa que a produtividade do trabalho, y/x, aumenta com a escala de produção.


64 - O preço alto desses produtos de custo marginal baixo é chamado por Jones de "ineficiência necessária" (do ponto de vista microeconômico). Para não ter lucro econômico negativo, a empresa precisa de um período compensando o custo fixo da sua invenção. Em níveis maiores de produção, ... custo fixo se distribui por um número cada vez maior de modo que o custo nédio diminui com a escala. (...) Em outras palavras: Com retornos crescentes à escala, o custo médio é sempre maior que o custo marginal e, portanto, a fixação do preço pelo custo marginal resulta em lucros negativos.


65 - Produtividade agrícola e Século XVIII: Somente quando ocorrem aumentos sustentados na renda per capita é que taxas de crescimento populacional sustentáveis são possíveis. Teria sido o caso da Inglaterra. Michael Kremer (1993) registra que a taxa média de crescimento populacional no período de 1 milhão a.c. ao ano 1 d.c. foi de 0,0007% ao ano. De 1 d.c. até 1700, a taxa média de crescimento populacional era ainda de apenas 0,075% ao ano. Durante o século XVIII, as taxas se aceleraram e, nos últimos quarenta anos, a população mundial cresceu a uma taxa média de cerca de 2% ao ano.



66 - A tese de Douglass North e de vários outros historiadores econômicos é que o desenvolvimento dos direitos de propriedade intelectual, um processo cumulativo que ocorreu durante séculos, é o responsável pelo crescimento econômico moderno. As inovações persistentes só ocorreram a partir do momento em que as pessoas foram incentivadas por uma perspectiva confiável de grandes retornos por meio do mercado.


67 - ...Resumo do seu pensamento: [N]o passado o homem desenvolveu continuamente novas técnicas, mas a um ritmo lento e intermitente. A principal razão estava no caráter esporádico dos incentivos aos desenvolvimento de novas técnicas. Em geral, as inovações podiam ser copiadas sem qualquer custo e sem qualquer remuneração para o inventor ou inovador. O não-desenvolvimento, até bem recentemente, de uma sistemática de direitos de propriedade sobre a inovação foi a principal causa do lento ritmo da mudança tecnológica (North, 1981, p. 164).


68 - ...Um exemplo fascinante e esclarecedor dessa tese é oferecido pela história da navegação. Talvez o principal obstáculo ao progresso da navegação oceânica, do comércio internacional e da exploração do mundo tenha sido o problema da localização da embarcação em alto-mar. A latitude era facilmente verificada pelo ângulo da estrela do Norte acima do horizonte. Contudo, a determinação da longitude da posição da embarcação - sua localização na dimensão leste-oeste - foi um problema de grande importância que permaneceu sem solução por vários séculos. Quando Colombo desembarcou nas Américas, pensava ter descoberto uma nova rota para as Índias porque não tinha ideia da longitude a que se encontrava. (...) Vários observatórios astronômicos construídos na Europa ocidental durante os séculos XVII e XVIII foram patrocinados por governos com a finalidade declarada de resolver o problema da longitude. Os governantes da Espanha, Holanda e Grã-Bretanha ofereceram vultosos prémios em dinheiro para a solução. Finalmente, o problema foi solucionado em meados do século XVIII, às vésperas da Revolução Industrial, por um relojoeiro pouco instruído mas muito habilidoso chamado John Harrison. Harrison dedicou sua vida a construir e aperfeiçoar um relógio mecânico, o cronômetro, cuja precisão podia ser mantida em meio a mudanças climáticas turbulentas e frequentes durante uma viagem oceânica que poderia durar meses. Esse cronômetro, e não qualquer observação astronômica, forneceu a primeira solução prática para a determinação da longitude.


69 - A demora na solução seria culpa dos incentivos baixos: Na verdade, os principais incentivos financeiros parecem ter sido os prémios oferecidos pelo governo. Embora o Estatuto dos Monopólios de 1624 já estabelecesse uma legislação de patentes na Grã-Bretanha e instituições destinadas a garantir os direitos de propriedade já estivessem bem consolidadas em fins do século XVIII, eles ainda não eram suficientes para suprir os incentivos financeiros para o investimento privado na solução do problema da longitude.


70 - Medindo as ideias...: ...Muitas ideias não são nem patenteadas nem geradas pelo uso de recursos que são rotulados oficialmente como P &D. O manual de operações do Wal-Mart e os cinemas multiplex são bons exemplos. Além disso, uma simples contagem do número de patentes concedidas em qualquer ano dado não informa o valor econômico dessas patentes. Entre os milhares de patentes concedidas a cada ano, apenas uma pode ser a do transistor ou do laser. Coloca que o monopólio ao inventor de uma patente costuma durar cerca de 17 a 20 anos.



71 - ...Primeiro, quase metade de todas as patentes concedidas em 1991 foi de origem estrangeira. Segundo, quase todo o aumento de patentes no último século reflete um aumento das patentes estrangeiras; o número de patentes concedidas nos Estados Unidos a residentes no país foi de cerca de 40 mil em 1915, 1950 e 1988. Será que isto quer dizer que o número de novas ideias gerado dentro dos EUA foi relativamente constante de 1915 até hoje? Provavelmente, não. É possível que o valor das patentes tenha aumentado ou que menos ideias novas estejam sendo patenteadas.


72 - Tentando medir P & D:



73 - ...O número de cientistas e engenheiros envolvidos com P&D subiu, nos EUA, de 0,25% da força de trabalho em 1950 para cerca de 0,75% em 1990. Os números são semelhantes para o Japão, a França, a Alemanha Ocidental e o Reino Unido. Por exemplo, a participação no Japão aumentou de 0,2% em 1965 para cerca de. 0,8% em 1990.


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