Will (PP) - Teoria dos Privilégios

 

Will (PP) - Teoria dos Privilégios:

1191 - Torna-se muito difícil avaliar objetivamente se o olhar de um homem branco objetifica uma pessoa por causa da cor da sua pele; se um homem branco gritando com uma pessoa de cor deve-se à raça ou se isto é uma reação, desvinculada de raça e gênero, a diferenças políticas; ou se um homem branco está tomando muito espaço devido aos seus privilégios ou porque ele precisa falar, porque ele simplesmente tem algo válido/importante a dizer.

1192 - Se um grupo se volta a discutir só esse tipo de coisa, vira um “grupo de conscientização”: Numa época em que o Departamento de Polícia de Nova York está matando negros e latinos com impunidade, escolas estão sendo fechadas em bairros de pessoas de cor, a propaganda anti-islâmica é imensa e imigrantes são deportados todos os dias, pouca gente vai se integrar a um grupo que foca somente nas relações interpessoais. A chave é entender as tensões e achar um balanceamento correto.

1193 - É verdade que geralmente a maior parte dos militantes brancos surta. Por um lado, os militantes brancos compreendem a seriedade da acusação, mas, por outro lado, em sua defesa, eles falham em atribuir reconhecimento ao modo como outra pessoa – de cor – percebeu um episódio.

1194 - Ele falando como racismo está mais sutil hoje e não é aberto me lembrou o excelente vídeo do “Contrapoints” no youtube sobre como reconhecer um fascista (extrema-direita, algo assim o título): ... o racismo ainda existe. Na mídia, por exemplo, falar de crime ou pobreza é a palavra-chave para negros ou latinos preguiçosos que arruínam o paraíso dos grandes cidadãos brancos trabalhadores da América. Exatamente como o racismo funciona no movimento, codificado na língua e no comportamento, é algo que ainda precisa ser investigado.

1195 - Afirma que Fanon no “Peles negras, máscaras brancas” não legitima, ao contrário do que dizem, uma teoria dos privilégios. Muito pelo contrário, quer ir muito além disso. (Eu teria que ler para julgar).

1196 - A Teoria dos Privilégios põe peso demais na consciência e na educação. Termina criando uma política de culpa por nascimento. Ao mesmo tempo, não há dúvida de que é necessário mais educação sobre a história do racismo nos Estados Unidos e num nível global.

1197 - O texto critica o reformismo da teoria, que aparece como algo intrínseco a ela (não sei se com justiça ou não): De acordo com os seus argumentos, os mais oprimidos não deveriam lutar através dos métodos mais radicais porque eles não têm o acesso privilegiado ao pagamento de fianças, bons advogados, e sem falar no seu status racial que certamente garantirá punição extra.

1198 - Nos Estados Unidos, as gerações de militantes, desde as derrotas de 1968 até o presente, desenvolveram pouca teoria e organização revolucionária, e menos ainda experiências de movimentos de massa. Isso significou políticas extremamente pouco desenvolvidas. (...) Teóricos dos Privilégios não construíram as escolas que o Partido Comunista construiu em 1930 ou os Panteras Negras construíram no final de 1960.

1199 - Eles dizem que agir de maneira militante ou teorizar constitui um luxo dos privilegiados. Isso não deixa nenhuma solução para a liberdade dos oprimidos.

1200 - A Teoria dos Privilégios só veio a dominar o movimento nos últimos vinte anos, se muito. Nos EUA, o período dos últimos quarenta anos foi de um recuo massivo na militância e política revolucionárias. A ascensão da Teoria dos Privilégios não pode ser dissociada da devastação dos movimentos de massa. Foi nesse contexto que a Teoria dos Privilégios cresceu. (...) Ironicamente, esses teóricos dos Privilégios clamam ser os representantes simbólicos dos desprivilegiados e trivializam as lutas do passado. Citam as lutas passadas somente para dizer que as condições são diferentes hoje. Não conseguem admitir que o velho argumento de que “as condições não são favoráveis para luta” existe há centenas de anos, lembrando constantemente os oprimidos a adiarem a revolução e a luta de massas.

1201 - Participação do autor no “People of Color”: Outro problema no Grupo de Trabalho POC foi que, se havia alguém, eram poucos os que tinham uma pedagogia revolucionária para ensinar outras pessoas sobre a relação da opressão Queer com a opressão negra. As tentativas de lidar com a questão foram deixadas às acusações de que algumas pessoas não estavam reconhecendo seu privilégio como cisgênero, ou discussões informais com pouco debate histórico ou teórico das questões.

1202 - Por fim, Will traz como apêndice uma lista de conselhos que um(a) ex-Pantera teria dado a ele: Segundo, o(a) Pantera disse que você deve simplesmente mandar que “eles se fodam” quando problemas raciais acontecerem. Tem a ver com lembrar que pessoas que te fazem sentir assim não merecem seu respeito e atenção – então que “se fodam eles”. Isso também pode ser lido como simplesmente ter casca grossa. (...) Terceiro, o(a) Pantera disse que ninguém deveria se focar em coisas pequenas. O objetivo da política é conseguir coisas grandes: greves gerais, acabar com o Estado, se livrar da polícia, acabar com o patriarcado etc. Talvez o(a) Pantera estivesse também dizendo para organizar essas pessoas. Torne as pequenas coisas irrelevantes por suas habilidades organizacionais.

1203 - Uma comentadora diz que coisas pequenas não devem ser ignoradas para que se foque nas grandes. Diz que o texto defende isso. Outro diz que o texto não defende isso.

1204 - Manolo comenta: Lembro de um dos episódios mais comentados da vida de Malcolm X. Ainda em sua fase de liderança da Nação do Islã, uma jovem branca universitária o procurou, ansiosa por saber como poderia ajudar na luta, se havia algum meio de contribuir. A resposta de Malcolm X foi seca: “não, você não pode ajudar”. Ele ainda considerava que brancos não poderiam contribuir em nada com a luta dos negros. Anos depois, tocado pela convivência com muçulmanos de várias procedências em sua peregrinação a Meca, Malcolm X se diria arrependido de não ter acolhido aquela jovem, de não ter transformado aquele desejo em ação.

 

 

FIM

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