Anton Pannekoek - As Tarefas dos Conselhos Operários (Livro) III
(continua...)
32 - Capítulo 5: Objecções. Ideias do capital são implantadas pela educação, pela propaganda emitida pela escola, pela igreja, pela imprensa, pela literatura, pela rádio, pelo cinema.
33 - O capitalista acha que só a coação faz alguém trabalhar. Porque se odeia o trabalho no capitalismo, crê que os homens só trabalham se forem de alguma forma subordinados a alguém. Tudo isso exceto uma minoria iluminada, dinâmica e rica.
34 - Durante toda a história, nunca os que dominavam foram capazes de compreender aquilo de que uma nova classe era capaz; estavam convencidos de que essa classe fracassaria inevitavelmente quando tentasse dirigir os assuntos públicos, sociais e políticos.
35 - A falta de confiança em si própria, principal ponto fraco da classe operária dos nossos dias, não pode desaparecer totalmente no seio deste regime, o capitalismo, que segrega factores de degradação e de esgotamento.
36 - O argumento dos socialistas (estatais): O principal argumento afirma que, nos nossos dias, a produção já não consiste no manejar de utensílios simples que cada um podia facilmente dominar, como nos tempos idos dos nossos antepassados, mas sim na aplicação das ciências mais abstractas, acessíveis unicamente a cérebros capazes e bem instruídos. Não há aptidão nem interesse do povo em assumir tão grande responsabilidade.
37 - O socialismo de Estado pode também ser apelidado de capitalismo de Estado.
38 - Profundamente antirreformista: Todos sentem que o capitalismo sairá reforçado, uma vez que as reformas apaziguam os trabalhadores e os ligam mais estreitamente ao sistema existente.
39 - Insiste no quanto é necessário que a classe trabalhadora confie na própria força. Nenhum patrão, nem o Estado. Só a luta dos trabalhadores pode constituir uma real mudança.
40 - É que aos trabalhadores, exactamente devido aos seus sucessos, virá juntar-se um grande número de reformistas, cheios de preocupações sociais, que se apresentarão como amigos, como aliados de peso que irão pôr as suas capacidades ao serviço da classe ascendente, mas que exigirão, podemos estar certos, lugares importantes, a fim de poderem agir e, finalmente, conduzir o movimento segundo as suas ideias. Se os trabalhadores os levarem ao poder, se instalarem ou apoiar um governo socialista, então a poderosa máquina do Estado passará a estar disponível para atingir este objectivo novo; poderá como pretenderão ases reformistas, ser utilizada para abolir a exploração capitalista e instaurar o reino da liberdade, unicamente através da votação de leis apropriadas. Não será este modo de actuação mais atraente que essa luta de classe? Certamente que sim. O único inconveniente é que deste modo acabar-se-á por conhecer o mesmo destino que o movimento revolucionário do século XIX: as massas, que haviam derrubado os antigos regimes através das suas lutas na rua, foram em seguida convidadas a regressar ao trabalho e a confiar nos governos provisórios que se auto-designaram e que, de há muito, estavam preparados para tomar as coisas em mãos.
41 - E quanto aos que nasceram para comandar? Papo machista de Aristóteles inclusive. A aristocracia fundiária do passado fazia já a defesa da sua posição de privilégio vangloriando-se de descender duma raça nobre de conquistadores, que teria subjugado a raça inferior das pessoas vulgares.
42 - Contra a pretensão à superioridade inata dos intelectuais. Não é certo que, referindo-se ao século XVIII, o historiador Travelyan falava da «riqueza de imaginação, da profundidade emocional, do vigor e variedade da inteligência entre os pobres... uma vez despertos os seus espirito»?
43 - O fato de a elevação do espírito humano ter a ver com a capacidade de idear e planejar não implica que uns tenham que comandar e outros obedecer. A oposição manual-intelectual não existe na natureza: é um produto da sociedade. Diz que até os trabalhadores agora intelectuais teriam a ganhar algo, já que o “manual” também tem sua importância (saúde etc.).
44 - E os gênios? Deveriam ser igualados aos demais? (o que me lembra as tosquices de Rand) Mesmo o mais simples estudo atento duma descoberta científica, técnica, ou outra qualquer, surpreende pela quantidade de nomes que a ela se encontram associados. Mas nas obras populares, nos manuais de textos históricos, fontes de tantas ideias falsas, apenas alguns grandes nomes são conservados e glorificados, como se essa fosse a única realidade válida.
45 - Ademais, nem todos os gênios tiveram qualquer incentivo do reconhecimento. Só fizeram sucesso depois.
46 - Capítulo 6: Dificuldades. O pequeno burguês: As duas funções de director técnico e de capitalista ávido de lucro não existem separadas uma da outra.
47 - É difícil de conceber que os operários das pequenas empresas possam desejar expulsar o técnico mais qualificado (ainda que se trate do antigo patrão) se este mostrar desejo de colaborar sinceramente no trabalho comum, com todo o seu saber, e num pé de igualdade. Mas não haverá nisto uma contradição com os fundamentos e a doutrina da nova sociedade que implicam a exclusão dos capitalistas? Não, pois a classe operária, ao reorganizar a sociedade em bases novas, não está obrigada a aplicar à letra uma doutrina rígida; simplesmente, para orientar as suas opções, terá que se apoiar num grande princípio norteador.
48 - Crê que propaganda não-impositiva será importante para que todos partilhem de um mesmo espírito solidário.
49 - Por que os camponeses também podem ser um “problema”: Tornar-se proprietário é ver assegurada a possibilidade de ganhar a sua vida durante anos e anos de intensa labuta; mais tarde, alugando ou vendendo essa mesma terra, poderá esperar viver das suar rendas, sem trabalhar, e subsistir assim durante a velhice, como deveria poder fazer qualquer trabalhador após uma vida de esforços. A ideologia da propriedade se torna forte portanto. (...) segundo as suas concepções, a revolução deveria transformá-los em proprietários privados, livres e sem contestação possível, da terra - no fundo uma revolução semelhante as revoluções burguesas do passado. A esta tendência, deverão os trabalhadores opor, através duma propaganda intensiva, os novos princípios: a produção é uma função social, os produtores donos do seu trabalho constituem uma comunidade.
(continua...)
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