PP - Textos Diversos XXXIV

 

PP (Portugal) - Quem Puxa Quem, O Avanço dos Nacionalismos e os Riscos Para a Esquerda Radical:

1056 - Curiosamente, na Grécia, o Syriza chega aos 30% com um discurso que não coloca em causa o euro e num país onde a extrema-direita neonazi consegue um resultado eleitoral semelhante ao do PC português. Contudo, as condições gregas são especiais e ali o Syriza substituiu o PASOK. Mas, apesar de tudo, um partido minimamente europeísta consegue um resultado melhor do que os nacionalistas e com um discurso que não quer sair do euro.

1057 - O caminho correto seria uma frente transnacional contra a austeridade.

1058 - Neostalinistas e “unidade”: o KKE (grego) é um partido mais ostensivo no seu sectarismo e que se afirma abertamente isolacionista, sem políticas de alianças. O PCP, neste aspecto, é uma velha raposa e tem uma experiência de décadas de praticar um falso unitarismo para se reforçar e comandar a partir de dentro.

1059 - Olhe-se para a arquitectura deficiente da União Europeia e verifique-se o impacto do nacionalismo no seu seio. Basta pensar que, se não fosse o nacionalismo das direitas e de certa esquerda, a União Europeia certamente já teria uma mutualização das dívidas, o que, na pior das hipóteses, teria impedido o descalabro de várias das dívidas nacionais. Se não fosse essa convergência de nacionalismos, o Banco Central Europeu não teria esperado até Julho de 2012 para dizer que faria tudo para manter o euro e teria actuado logo em 2010. Na pior das hipóteses, bastariam estes dois aspectos para que a austeridade tivesse sido muito menos profunda e, acima de tudo, fosse mais espaçada no tempo.

1060 - O Passa Palavra tem procurado mostrar, ao longo de muitos artigos, que o abandono do euro e a desagregação da União Europeia teriam para a classe trabalhadora consequências económicas ainda mais gravosas do que as resultantes hoje das medidas de austeridade. Para usar a terminologia marxista, enquanto no primeiro projecto predomina a mais-valia relativa, no segundo predominaria a mais-valia absoluta, com os governos ditatoriais que sempre acompanham esta forma de exploração. Por isso temos considerado que este segundo projecto é o mais funesto para a classe trabalhadora, comprometendo-lhe as possibilidades de uma luta autónoma e dificultando-lhe a reorganização política.

 

PP (Portugal) - Zico e os Comunistas:

1061 - Começa narrando como as coletivizações foram muito além, em 74, do que pretendia o PCP, que recomendava luta salarial e melhores condições, por exemplo. Desde os últimos meses de 1974 até ao final de 1975 o Partido Comunista era muito forte no governo, mas o governo era muito fraco no país, e se esquecermos esta dialéctica política não entenderemos nada da revolução portuguesa. Se em 1974 e 1975 beneficiámos de liberdade e seguimos avante com o processo revolucionário, isto sucedeu apesar do Partido Comunista e não devido a ele.

1062 - A inexistência de movimentos de base no seio das empresas e dos estabelecimentos de ensino faz com que os perigos de uma eventual saída da zona euro sejam ainda maiores. Quando a indignação não dá lugar à organização, mas sim ao desespero, encontra-se criado o cenário perfeito para a emergência e consolidação de um discurso populista, defensor dos bons trabalhadores e empresários contra a má e corrupta classe política.

 

Quatro Coroas (PP) - Notas Sobre a Luta Autônoma em Salvador:

1063 - DCE. Campanha anarquista: Já no primeiro dia do congresso, quando um panfleto com nossas propostas foi distribuído, éramos sete, e cumprimos bem o papel de “terceira força” num jogo de cartas marcadas onde aparentemente apenas dois adversários eram permitidos. Defendíamos, entre outras coisas (não lembro de tudo, pois o panfleto foi perdido há muito tempo), que o DCE fosse substituído por fóruns temáticos por área e que destes fóruns saíssem delegados com mandatos vinculados a tarefas específicas. Durante as oficinas e debates, fomos convencendo tanta gente que pouco antes da plenária final já éramos mais ou menos trinta, e fomos derrotados na votação da proposta de substituição do DCE pelos fóruns temáticos por uma diferença de apenas sete votos numa plenária com mais de trezentas pessoas.

1064 - “... dois anos depois, a Revolta do Buzu veio mostrar o quanto estávamos certos. PT e PCdoB mostraram ali como podem trair reivindicações de massa muito claras em troca de sua “pauta histórica” – pauta justa, mas sem qualquer ligação imediata com o desejo de tantos milhares de pessoas que estavam em luta nas ruas.”

1065 - Segundo relato: Um caso bem marcante foi o do II Acampamento da Juventude, em 2004, feito pela Articulação de Esquerda (AE-PT) num assentamento do MST na Chapada Diamantina. Ali a “demanda” foi maior do que a “oferta”, mas a vontade de arrebanhar todos aqueles jovens garotos e garotas era tamanha que a crise se transformou em oportunidade. Até o ícone da época, Zé Rainha, se fez presente. Narra os jovens em filas enormes por um prato de arroz naqueles dias, enquanto as lideranças da juventude petista tinham um banquete. Ali ficou claro para muitos o problema. Houve “briga de notas” sobre o evento depois e muito passaram a fazer “leituras proibidas”.

1066 - Entretanto, para mim o marco da nossa derrota foi o congresso do Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB) em 2005. Ali nos juntamos todos. Uns se doaram mais, outros menos, mas todos nós sabíamos da importância daquele evento. Era um dos maiores movimentos sociais do país e que havia feito mobilizações significativas. E o que aconteceu? Após meses de dedicação, desgastes e tudo mais, tivemos que ver um pelotão de alienígenas descendo no Congresso com suas camisas vermelhas e pautando os grupos de trabalho, negociando os cargos do movimento nos corredores, e os otários pudicos aqui, que por princípio não poderíamos orientar o movimento, ficamos estatelados e chorosos vendo toda aquela tragédia. O engraçado é que, quase 10 anos depois, nós, que nos criamos na crítica a certas práticas, ainda não conseguimos criar outras mais fortes que as superem. (Texto de 2013)

1067 - Manolo comenta: E o que Sandra levanta tem sua parcela de verdade. Digo “parcela” porque muita gente que conheci como militantes do PT, do PCdoB e do PSTU na universidade passou por processos semelhantes: largaram tudo depois do movimento estudantil. Então não me parece que esta “apatia pós-universidade” seja característica apenas do meio autônomo.

1068 - Pelas bandas do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA), atual Instituto Federal da Bahia (IFBA), a formação de um grupo mais autônomo, mais libertário, etc., começa entre 1998-2000. Nesta época existia por partes dos professores e técnicos administrativos da instituição uma noção de que a greve servia também para a formação política de novos protagonistas, por isso era bem comum existirem aulas e cursos de formação durante a greve.

1069 - A precarização fazia a primavera brotar mesmo que o giz no quadro negro fosse algo rateado entre estudantes e educadores. Para vocês terem uma idéia, praticamente os meus três semestres de sociologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) poderiam ser equivalentes aos estudos que obtive no meu Ensino Médio. Tive curso sobre materialismo histórico, sobre dialética hegeliana, textos do grupo Krisis, música incidental, teatro do oprimido, teorema de Bayes, criptografia etc. Idem para Engenharia Elétrica em relação à Eletrônica.

1070 - Relação com o PSTU: A gente, em várias situações, percebia que participavam da luta, construíam a aliança, apenas com o intuito de capitalizar este processo para engrossar as suas fileiras com novas pessoas e fortalecer assim a sua agremiação partidária. Não havia uma preocupação, de ambas as partes, com uma tática que edificasse uma estratégia em que as ações de ambos os agrupamentos políticos dialogassem para uma construção por fora do capitalismo.

1071 - O “Exu tranca ruas”: E foi assim, de certa forma muito mais makhnovista‎ que nagô – embora naquela época a gente nem soubesse disso – que houve uma certa militarização, uma construção organizacional mais hierarquizada para defender aqueles que, ao irem para as ruas, acabavam tendo confronto com a polícia, os seguranças do SETPS, etc. Ações de defesa mais agudas em que acabávamos por participar no intuito de proteger as pessoas que integravam as passeatas. Éramos um black bloc bem diferente desse que apareceu depois de junho.

1072 - As pessoas de lá do antigo CEFET e quem se coligava neste processo (DAMED em 2006 assim como alguns elementos da Contraponto, e amigos e amigas do CMI-SSA, do antigo coletivo de expropiação “Nossas Mãos”) sempre entenderam que o ato de rua deveria, como já foi dito, ser carnavalizado e o asfalto entendido como um tablado das nossas ações políticas. Mas a estética sempre foi algo fundamental para que toda a nossa selvageria, embebida nas greves selvagens, no terrorismo poético, provos, e todas as coisas que aquela coleção Baderna, da Conrad, ia colocando na nossa cabeça, fosse colocada para fora.

1073 - Terceiro texto. Em 2003: Dizia-se que era o momento da juventude de esquerda se organizar nos partidos e a partir deles disputar o bairro, o local de trabalho e a universidade; “disputar a hegemonia para garantir a vitória da classe trabalhadora” era o mote geral.

1074 - Unidade petista nas eleições para o DCE: Entre as correntes de esquerda no PT, dentre as quais a Democracia Socialista (que eu integrava), a justificativa da “unidade petista” e a dissimulação do controle tinham o nome de “estratégia da pinça”, resumida na frase “um pé na institucionalidade, outro nos movimentos sociais”. Mas pinça tem pés ou lanças?

1075 - Há mais um relato sobre um acampamento mal organizado de uma atividade petista em que a cúpula tinha comida e higiene e a base banheiro interditados. Assembleia Popular em 2005.

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