PP - Textos Diversos XVIII (Marcelo Lopes de Souza)
Marcelo Lopes de Souza
(PP) - Cidades Brasileiras, Os Sentidos da Revolta:
610 - As esperanças
exageradas com a Primavera Árabe não duraram um ano. A Praça Tahrir deixava de ser tratada quase euforicamente como um
símbolo do novo para ser vista como o símbolo de um episódio interessante e
relevante, mas menos interessante e menos relevante do que gostariam.
611 - Na verdade, a organização mais conhecida do
movimento urbano dos sem-teto, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto),
foi criada a partir do MST, e originalmente como parte de uma estratégia de
contribuir para organizar os trabalhadores das cidades com o objetivo de
ampliar o suporte da própria luta no campo.
612 - Fala de ativismos
urbanos de primera (60 a 80) e segunda (a partir dos noventa) geração, sendo
que os primeiros teriam se esclerosado e os segundos (como o movimento hip-hop)
não. Cita as dificuldades e fragilidades das experiências atuais e inclui os
movimentos de passe livre no bolo. O MTST
(...) vem mostrando que uma organização de sem-teto pode muito bem dialogar
criticamente com o planejamento e a gestão urbanos promovidos pelo Estado,
examinando e explorando as brechas e as contradições contidas em documentos
como planos diretores, ao mesmo tempo em que criam “territórios dissidentes”
organizados de maneira alternativa e procedem a um “planejamento estratégico”
relativamente sofisticado de suas ações; ao mesmo tempo, contudo, a estreita
associação a um partido tradicional de esquerda, o PSTU, veio retirar do MTST,
no fim da década passada, parte do quinhão de criatividade que ele apresentava.
613 - Movimentos sociais
“verdadeiros”: Enquanto muitos ativismos
são meramente “paroquiais”, (auto)limitados ao encaminhamento de reivindicações
pontuais, aqueles que podem ser qualificados como “verdadeiros” movimentos têm
por características a articulação de demandas específicas com questionamentos
mais profundos, relativos a problemas regionais, nacionais e internacionais, e
a construção de pontes entre a análise de conjuntura e a leitura de problemas
estruturais.
614 - Coloca que os
participação popular, prevista no Estatuto das Cidades e já realizada em mais
de mil municípios, é mais meramente consultiva que qualquer outra coisa.
615 - O mesmo para o
Conselho Nacional das Cidades, que é, sobretudo,
uma instância de legitimação das políticas governamentais, e não tanto de
autêntica participação popular.
616 - Afirma o PT como um
buraco negro dos movimentos sociais: sugando
as energias e os recursos humanos da sociedade civil e canalizando-os para a
militância partidária e instâncias participativas atreladas aos governos
comandados pelo partido.
617 - Marx “contra” os
camponeses (texto 18 de brumário): Na
medida em que subsiste entre os camponeses detentores de parcelas uma conexão
apenas local e a identidade dos seus interesses não gera entre eles nenhuma
comunidade, nenhuma união nacional e nenhuma organização política, não formam
uma classe. São, portanto, incapazes de fazer valer o seu interesse de classe
em seu próprio nome, quer por meio de um Parlamento, quer por meio de uma
Convenção. Não podem representar-se, antes têm que ser representados. No
Manifesto, diz que são grupos conservadores. No máximo admitiam que camponeses
pudessem dar algum ponto de partida e serem rebocados/direcionados pelo
proletariado europeu, como quando questionados sobre a Rússia.
618 - Sobre as
manifestações, pareceu tão perdido quanto todo mundo estava à época, mas nutriu
alguma esperança positiva quanto a todo aquele processo.
Marcelo Lopes de Souza
(PP) - Diferentes Faces da Propaganda Pela Ação:
619 - Morte de Santiago: Aliás, como oportunamente lembrou Pablo
Ortellado n’O Globo, “as duas pessoas que dispararam o rojão [contra o
cinegrafista Santiago Andrade] já declararam que não fazem parte do Black Bloc.
620 - Já em fins do século XIX e no início do
século XX, os atos terroristas praticados por alguns militantes anarquistas
haviam despertado uma interessante polêmica. Eram, comumente, atos isolados,
praticados por militantes solitários. Era a propaganda pela ação. Teve até
regicídios. Os clássicos do anarquismo não viam vantagens no método. Kropotkin,
por exemplo, até via alguma vantagem no início. Dez anos depois mudou de ideia:
“uma estrutura baseada em séculos de
história não pode ser destruída com alguns quilos de explosivo”.
621 - Neoanarquistas e
autonomistas não viam/vêem com bons olhos a violência propagandística: não para rechaçá-la a priori em nome de
qualquer pacifismo, mas sim por não perderem de vista os perigos de seu mau
emprego e sua banalização e os limites de sua eficácia, com sua subsequente e
previsível perda de legitimidade.
622 - Mesmo que a força
contra objetos inanimados e simbólico seja algo muito diferente (embora a mídia
dê condenação semelhante a de terrorismo), a reflexão, guardadas as devidas
proporções, é possível.
623 - Critica o uso da
força desvinculada a uma tática: Elas
contrastam claramente com um outro tipo de realidade, em que uma dose bem
refletida e ponderada de emprego de vigor em situações de nítida autoproteção
de ativistas ameaçados em sua integridade física, indo da construção de
barricadas ao rompimento de cercos policiais, pode ser muitíssimo mais
facilmente justificada perante os olhos da população em geral.
624 - Castoriadis e
“democracia formal”: a “democracia”
representativa não é meramente formal, uma vez que faz diferença (para todos e,
sobretudo, para dissidentes e ativistas políticos), em matéria de liberdades,
se vivemos na Argentina pós-golpe militar de 1976 ou na Suécia de 2014, na
Alemanha de hoje ou no Terceiro Reich, no Brasil atual ou no Brasil dos “anos
de chumbo”.
625 - Na verdade, mesmo ações de elevado conteúdo
simbólico e ético-político podem ser, dependendo do país e da conjuntura,
plenamente justificáveis, como coroamento de demonstração de repúdio popular de
um regime ou governo. Aliás, recordemos que a história das revoluções
burguesas, a começar pela Revolução Americana, está repleta de inteligentes
defesas e justificativas da violência insurrecional contra um poder opressor e
tirânico.
626 - Founding Fathers
vândalos: É conhecida a tirada de Thomas
Jefferson (datada de 1787), Segundo a qual “[a] little rebellion now and then
is a good thing” (= “[u]ma rebeliãozinha de tempos em tempos é uma boa coisa);
e menos conhecida, mas ainda mais forte, é esta outra (datada de 1823), contida
em uma carta a John Adams: “To attain all this [universal republicanism],
however, rivers of blood must yet flow, and years of desolation pass over; yet
the object is worth rivers of blood, and years of desolation.” (= “Para se
alcançar isso [o republicanismo universal], entretanto, rios de sangue ainda
precisarão correr, e anos de desolação passar; e no entanto, o propósito vale
rios de sangue e anos de desolação.”) .
627 - Propõe um
redirecionamento de energia no contexto atual: têm sido ainda escassas iniciativas como a preparação de cartilhas e
pequenos livretos bem elaborados explicando, com inteligência e em linguagem
adequada, as razões imediatas e as causas últimas dos protestos (dos bastidores
da “política” de transportes ao contraste entre déficit habitacional e
domicílios vagos e ociosos, passando por muitos outros problemas). (...) Oficinas e debates populares (em ocupações
de sem-teto, em favelas, nas periferias e em espaços públicos das áreas centrais
e dos bairros), produção de vídeos críticos, preparação de materiais diversos,
intervenções artísticas engajadas: são várias as frentes de batalha, e as
trincheiras são numerosas.
628 - Lembra a
necessidade de assembleias permanentes e
organizações de novo tipo de modo descentralizado.
629 - JB comenta: Frequentemente, o uso de acções consideradas
violentas serve apenas para ocultar ou a incapacidade de mobilização de massa
ou a vontade de manter a massa na passividade.
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