Manolo e Daniel Caribé (PP) - Quando as Contas Não Batem
Manolo e Daniel Caribé
(PP) - Quando as Contas Não Batem:
581 - Guerra das planilhas
de custos entre Prefeitura e SETPS. Até
mesmo José Carlos Aleluia, secretário municipal de urbanismo e transportes de
Salvador e um dos nomes fortes do DEM na Bahia, questionou o fato de tantas
empresas operarem no vermelho e nenhuma delas ter falido nos últimos anos (ver
entrevista aqui).
582 - É sempre assim
antes dos aumentos tarifários. Só que agora teve o protesto nacional de 2013. Mesmo o Tribunal de Contas dos Municípios,
em geral inerte no que diz respeito ao transporte público, está sendo forçado a
se mexer.
583 - As planilhas são
secretas e só publicam as conclusões das mesmas. A Prefeitura sabe quanto as empresas ganham por dia, mas é “incapaz” de
calcular, a cada dia, a massa ou a taxa de lucro de cada uma. Esta informação
fica com o SETPS; apenas quando é publicado o Anuário de Transporte é possível,
e apenas através de cálculos e cruzamentos de dados, estimar, e não saber com
precisão, quanto cada empresa lucra. (...) Para se ter uma ideia, a Prefeitura não consegue sequer informar quanto
as empresas distribuem a seus sócios como pro labore (ou seja, como remuneração
dos acionistas).
584 - A planilha do SETPS tenta ser mais completa
que a da Prefeitura, mas também não apresenta, detalhadamente, os custos
exigidos pelo Decreto 23.331/2012.
585 - Superfaturamento no
que se divulgou: Um exemplo: os custos
mensais com seguro obrigatório saem de R$ 35,83 por veículo na planilha da
Prefeitura e de R$ 44,50 na planilha do SETPS – e se a diferença de R$ 8,67 por
veículo parece irrisória, ela representa um aumento de 24,21% de uma tabela
para a outra no espaço de um ano. Para piorar, isto representa, se levarmos em
conta a frota de 2.400 veículos em operação, um aumento de R$ 20.808,00 nos
custos mensais do sistema. (...)
Outro exemplo: o SETPS embutiu em cada ônibus um custo mensal de R$
211,83 com fardamento de pessoal. Já o Sindicato dos Rodoviários diz que esta
despesa não é mensal, mas semestral (ver aqui). Considerando uma frota de 2.400
ônibus, como indica a Prefeitura, este enxerto representa um aumento de R$
508.392,00 no custo mensal do sistema.
Ainda outro exemplo: os custos com o sistema de bilhetagem eletrônica
para cada veículo são de R$ 462,00 para a Prefeitura (dados de agosto de 2012)
e de R$ 836,01 para o SETPS (dados de julho de 2013). A diferença é de R$
374,01 por veículo – ou seja, de um ano para o outro o custo com o sistema de
bilhetagem eletrônica aumentou 80,95%. Além disto, considerando uma frota de 2.400
ônibus, esta sutil variação de preços representa um aumento de R$ 897.624,00
nos custos mensais do sistema.
586 - Usando a “Fonte:
TRANSALVADOR. Anuário de Transporte de Salvador 2011. Salvador: TRANSALVADOR,
2012.” e alguma matemática simples, Manolo e Caribé puderam calcular facilmente
uma taxa de lucro de 12%, que bate inclusive com declaração de 2006 do próprio
Horácio, manda-chuva da SETPS.
587 - Por outro cálculo,
chegaram a uma taxa de 13%. Ou será que
não? Será que a margem de lucro se mantém fixa de 2006 para cá nos tais 12%? Ou
será que a margem de lucro das empresas de ônibus realmente aumentou para
13,71%? Jamais saberemos. Ou melhor: jamais saberemos enquanto não tivermos
total acesso amplo e irrestrito a todos os dados exigidos pelo Decreto
Municipal 23.331/2012 para compor o custo operacional do sistema.
588 - O que explica as
discrepâncias com o discurso da falência? A luta de classes. Os cálculos não
podem mostrar alta taxa de lucro: De que
outro modo explicar, por exemplo, que a situação deficitária da empresa Ondina
persista desde os dados apresentados no Anuário de Transporte de 2004? Como uma
empresa com tamanho capital imobilizado conseguiria sustentar défices
milionários por nove anos sem ter falência decretada? De que outro modo
explicar, em outro exemplo, que os empresários tenham feito de tudo para que os
rodoviários não conseguissem, por anos a fio, qualquer reajuste salarial acima
de 5%?
589 - Há mais. Qualquer tentativa de alteração nos
modais de transporte (barcos, elevadores, bondes, VLT, etc.) é bloqueada pelas
empresas de ônibus e por seus asseclas.
590 - Em especial no que diz respeito aos
oligopólios formados pelos troncos VIBEMSA e Joevanza, são estes os que mais
incorporaram empresas concorrentes, os que sobreviveram à concorrência selvagem
anterior à regulamentação do sistema de transporte público soteropolitano em
1971 (antes disto, várias empresas podiam disputar a mesma linha, tal como
ocorre hoje com as vans e topics de hoje), os que cresceram ao ponto de terem de
se fragmentar para continuar existindo.
591 - Atacar os empresários. São eles que enxertam
mais viagens na carta de horários dos veículos, forçando os motoristas a correr
e a queimar pontos; são eles que escolhem os melhores ou os piores ônibus para
botar em cada linha; são eles, em resumo, os responsáveis diretos pela barbárie
cotidiana no transporte público. Atacar os empresários significa fazer de tudo
para que as informações que detém estejam disponíveis para todos, para que se
possa, enfim, botar cabresto naquilo que está completamente fora de controle;
para que se possa, enfim, controlar publicamente a gestão do transporte
público, passo essencial para desenvolvimentos políticos futuros no setor.
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