PP - Textos Diversos XIX (Marcelo Lopes de Souza)

 

Marcelo Lopes de Souza (PP) - Do Direito à Cidade ao Direito ao Planeta, Territórios Dissidentes:

630 - Diz que o lado stalinista de Lefebvre - escondido pelos marxistas inclusive no wikipedia - é bem mais amplo do que parece e durou décadas.

631 - Em O direito à cidade, Lefebvre não deixa dúvidas: a classe operária ou trabalhadora seria, por um lado, a única classe capaz de fazer a revolução. Não sozinha: Eis uma maneira elegante e intelectualizada de dizer o mesmo que Lenin: ou o proletariado se deixa guiar pela intelectualidade marxista (ela, sim, detentora de um sentido de “totalidade”), que atuará como sua ideóloga e tutora, ou o proletariado chegará, no máximo, ao reformismo. Faltava a “totalidade”. Então seu clamor por “autogestão generalizada” tem lá suas graves incoerências, conclui Marcelo.

632 - Diz que estatistas (termo meu) e autonomistas disputaram seu conceito de “direito á cidade”.

633 - Diz que o eurocomunismo (PC’s dos anos 70) virou “entrismo” que é uma degeneração da guerra de posições de Gramsci.

634 - Determinadas fraquezas, hoje evidentes como nunca, não são, todavia, completamente novas: notemos o caráter pequeno-burguês da reivindicação eleitoralista das suffragettes, pelo que foram acerbamente criticadas pela feminista anarquista Emma Goldman.

635 - Bookchin em 1980 reclamava que as fábricas estavam quase mudas nos EUA, mas pelo menos não os bairros (guetos).

636 - Marcelo diferencia ativismo de bairro, paroquial e mais sujeito ao clientelismo e fisiologismo, e o ativismo a partir do bairro, com maior potencial.

637 - Ademais, é no quotidiano dos territórios dissidentes que se operam processos de socialização (uma nova paideia) em espaços públicos ou não, em meio a barricadas e enfrentamentos, festas, ocupações… Também nascem ou renascem formas de ativismo supralocal e até mesmo inter ou transnacional, com a formação de redes de cooperação que costuram muitos países e até vários continentes.

 

Marcelo Lopes de Souza (PP) - Duas Versões do Espírito Libertário:

638 - Bookchin: Nesse livro, publicado em 1995, ele desanca grande parte do anarquismo ou filoanarquismo das últimas décadas, de Michel Foucault a Hakim Bey, que Bookchin via como expressões de um individualismo pouco responsável, mais preocupado com a estética e com “performances” (“anarquismo de estilo de vida”, em suas palavras) que com ações políticas com sentido estratégico, eficazes no longo prazo e ancoradas em uma tradição de mobilização e organização dos trabalhadores e cidadãos em geral (o “anarquismo social”).

639 - Municipalismo libertário: representa uma abertura inusitada à luta institucional não partidária no interior do campo libertário.

640 - Diz que os libertários de ontem prezavam por coisas como norma culta, roupas e moradia padrão. Por vezes, esquecendo de criticar a relação que havia entre poder e saber.  Atualmente, libertários de figurino “pós-moderno”, alegadamente em nome do respeito à dignidade dos pobres, como que implícita ou explicitamente elogiam uma certa “estética da pobreza” e muitas vezes se mostram orgulhosamente iconoclastas. Seria outro erro.

641 - Coloca que a crítica à ciência e ao etnocentrismo talvez tenha ido longe demais na nova geração. Exemplifica: Ora, Foucault não saudou, afinal de contas, a Revolução Iraniana de 1979 como o revigoramento de uma “espiritualidade política”? (E não chegou ele ao ponto de apresentar o aiatolá Khomeini não como um “político” – “não haverá um partido de Khomeini, não haverá um governo de Khomeini” -, mas sim como “o ponto de sujeição da vontade coletiva”, sem maiores ressalvas?)[7] Diante de tudo isso, pergunto se não seria o caso de levar em conta, pelo menos, que do assim chamado Ocidente não saíram e têm saído, aos borbotões, somente exemplos de heteronomia, mas também de pensamento e práticas orientados, com uma profundidade extraordinária, para a luta contra a heteronomia e a construção da autonomia (incluindo-se, aí, os filósofos e pensadores europeus que os libertários, ontem como hoje, invocam como conselheiros e referências, quando não como gurus).

642 - Coloca que o anarquismo de hoje “recruta” jovens de classe média ou hiprprecariado e não a classe proletária como antigamente. Haveria, infelizmente, uma tendência à estetização do conflito social.

643 - Os Autonomen eram, tipicamente, jovens (e alguns não tão jovens) estudantes e trabalhadores desempregados ou precarizados, moradores de prédios ocupados (Hausbesetzungen), que, por necessidade de autoproteção durante confrontos com neonazistas, e também para fazer a proteção de manifestantes “comuns” contra a polícia em meio a protestos diversos (contra centrais nucleares e antigentrificação, por exemplo), passaram a adotar um estilo forte, confrontacional e quase militarizado. Quanto aos seus supostos descendentes brasileiros, parecem corresponder a uma realidade sociopoliticamente ainda mais rarefeita, em que, não raro, as ações de emprego de força destrutiva (depredação de prédios icônicos do Estado ou do grande capital, destruição de mobiliário urbano etc.) são quase que um fim em si mesmas, e não parte de uma estratégia de longo prazo. (...) Além do mais, se os Autonomen muitas vezes se solidarizavam e atuavam concertadamente com minorias étnicas em sua luta antirracista.

644 - Porém… Culpar os jovens por serem o produto de uma época não é, talvez, apenas pouco justo; é pouco sensato. Aos que, com a vantagem da maior experiência pessoal e do maior conhecimento histórico, argumentam em torno de tais limitações, cumpre se interrogarem a si mesmos: o que estamos fazendo para persuadir com paciência, debater sem excessos de professoralismo e ajudar a construir uma práxis alternativa? Época de escamoteamento da luta de classes.

645 - Também não significa que os libertários de ontem, como Proudhon, não tivessem graves defeitos, como antissemitismo e misoginia, no caso do francês.

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