PP - Textos Diversos XVII (Manolo)
Manolo (PP) - Aprender
Com Os Garis:
551 - Contrariando prognósticos de militantes
tarimbados que anunciavam o “grave erro político” de se “politizar certos períodos”
como o Carnaval (e a Copa), os garis venceram.
552 - Todos comemoraram o atropelo da pelegada
sindical.
553 - Ressalta a não-homogeneidade
e alta fragmentação que impede que trabalhadores de todo tipo se vejam como
companheiros que compartilham avanços e derrotas.
554 - Outras diferenças: o poder de barganha de cada posição no
processo de trabalho depende de sua posição no conjunto da produção social. Nas
duas escalas, o poder de barganha varia de acordo com a possibilidade de
determinada categoria de impactar a produção como um todo. O poder de barganha
dos garis (concursados, terceirizados, como quer que sejam) é fenomenal: “deem-nos
o que é justo, ou a cidade fica podre”. Carteiros e bancários (hoje bem
menos?) têm poderes semelhantes em grau de visibilidade.
555 - As lutas das categorias com maior poder de
barganha, a depender de sua profundidade e difusão em cada conjuntura, tendem a
puxar as demais categorias a radicalizar-se. (...) Para anticapitalistas, é disto que se trata: articular os setores da
classe. Pois qualquer vitória de uma categoria, por mais importante para si
própria ou por mais relevante na conjuntura política, se se mantém isolada
termina sendo abafada, transformada em algo muito menor do que poderia ser.
556 - Fatores do sucesso
de um movimento são inúmeros e complexos. Manolo faz uma lista ampla: As adaptações dos trabalhadores às mudanças
tecnológicas, o grau de vulnerabilidade à repressão, a articulação ou
desarticulação interna de uma dada categoria, a capacidade ou incapacidade de
sustentar lutas tendentes ao longo prazo, o apoio ou rejeição da luta por parte
de setores externos à categoria, a maior ou menor integração dos mais ativos e
da categoria como um todo às “regras do jogo democrático” (e consequentemente a
adoção de formas mais ou menos radicalizadas de luta), a capacidade ou
incapacidade dos patrões de “dar os anéis para não perder os dedos”, a eficácia
ou ineficácia política dos subornos, cooptações, demissões, espancamentos,
sequestros, assassinatos… Estas e outras tantas coisas ainda mais sutis alteram
a correlação de forças, mexem no tabuleiro, podem impor a vitória contra os
capitalistas numa situação que antes era de derrota certa – e também o
contrário.
557 - Após o evento,
burguesia e mídia burguesa tendem a usar métodos de queimação do movimento e
dos trabalhadores mais ativos.
Manolo (PP) - As Chuvas
Recentes e a Luta Pelo Espaço Urbano de Salvador:
558 - Conversas sobre
deslizamentos: Falam de comunidades que
já haviam sido alertadas “mais de quatro vezes” pela Defesa Civil de Salvador
(CODESAL) e voltaram para seu lugar de origem a cada remoção; falam de “um
amigo” (curioso como as “amizades” proliferam nessas horas) que já teria
recebido duas ou três indenizações diferentes porque todo ano é expulso da encosta
e volta para ganhar mais dinheiro.
559 - Década de 40: As terras de Salvador pertenciam basicamente
a algumas ordens religiosas, a poucos proprietários individuais e à Prefeitura;
sendo assim, era comum que o soteropolitano, mesmo quando proprietário de sua
casa, fosse mero “foreiro”, “rendeiro” ou “morador” de terras de terceiros. Época
em que invasões coletivas e organizadas passam a surgir.
560 - Embora houvesse proibições legais à
construção de cortiços pelo menos desde a Postura nº 39 do Código de Posturas
Municipais de 1921 ou mesmo antes, é de 1944 a primeira lei anti-cortiço
soteropolitana (Decreto-lei 347, de 06 out. 1944).
561 - Corta-Braço inaugurou em 1946 um longo
ciclo. Já tendo caráter massivo, atrai a atenção do Partido Comunista então
vivendo um raro respiro de legalidade, que resolve apoiar e defender os
invasores.
562 - Este processo não aconteceu sem reação por
parte dos proprietários de terras. De um lado, tentativas de expulsão, recursos
ao Poder Judiciário, cercamento, vigilância dos vazios, conversão de função de
“terrenos de engorda”, loteamento de áreas adjacentes aos locais “invadidos”,
venda fraudulenta ou arrendamento de áreas ocupadas, tudo a caracterizar um
“fechamento” das terras de Salvador aos tradicionais processos de ocupação
espontânea. Sem mencionar a invasão de terras públicas.
563 - Mais de dois terços das unidades
habitacionais criadas entre 1950 e 1960 foram produzidas clandestinamente.
564 - Lei Municipal de
68: Manolo detalha os valores - preço de banana, na verdade - da venda de 25
milhões de metros quadrados de Salvador. É um marco. A escolha do marco é simples de explicar: trata-se da ruptura com o
regime enfitêutico de apropriação do solo urbano que dominava Salvador até
então. (...) A venda de terras públicas em tão grande escala simplesmente
acabou com o estoque municipal de terras. Difícil fazer política pública
assim.
565 - Traz uma lista
enorme de bairros que foram frutos de grandes invasões, que continuaram fosse
qual fosse a lei ou regime, pois advinham de necessidade incontornável.
566 - Muitos dos bairros populares, a esta altura,
já haviam constituído entidades associativas. Em 1980, estas entidades
agruparam-se na Federação de Associações de Bairro de Salvador (FABS), de onde
sairia em 1983 o Movimento de Defesa dos Favelados (MDF); depois de muita
polarização nos quatro primeiros anos de convivência, consolidou-se a FABS como
representante de bairros já consolidados, e o MDF como representante de
comunidades novas, de favelas e invasões. Já em 1985 se adotava a expressão
“assentamento subnormal” para se referir às antigas invasões e favelas, e a
tendência de transformação da questão da moradia em tema de política pública
seria consolidada no processo da Assembleia Constituinte (1987-1988) com a
chamada “emenda da reforma urbana”.
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