M.R.Jones (PP) - A Experiência dos Comitês de Fábrica na Revolução Russa I
M.R.Jones (PP) - A Experiência
dos Comitês de Fábrica na Revolução Russa:
483 - Panfleto denso de
1984. Foram as mulheres da classe
trabalhadora (têxtil) de Petrogrado que desencadearam a revolução em fevereiro.
… As demandas de pão e os ataques às padarias foram substituídos por uma
manifestação enorme de mulheres trabalhadoras no Dia Internacional da Mulher.
484 - O comitê bolchevique de Veborg se opôs às
greves: “(…) Como o comitê pensava que o momento estava imaturo para a ação
militante – o partido não era suficientemente forte e os trabalhadores haviam
tido também poucos contatos com os soldados – optaram por não convocar greves
se não por preparar-se para a ação revolucionária em algum momento indefinido
no futuro.”
485 - Ignorantes de que o momento estivesse tão
“imaturo”, os trabalhadores pressionaram com a greve até que 240.000 aderiram.
(...) O Comitê Central Bolchevique finalmente resolveu chamar uma greve geral
justamente quando a greve já existente estava se tornando uma insurreição
armada. … Na tarde seguinte a 4ª companhia do Regimento Pavlovsky se amotinou e
começou a disparar contra a polícia. No dia 27 os trabalhadores “visitaram”
todos os cárceres de Petrogrado e soltaram os prisioneiros políticos.
486 - Em vez de falar e escrever, os trabalhadores
e os soldados foram em frente e fizeram.
487 - Confrontados com o “caos” dos trabalhadores
atuando por si mesmos, ressoaram chamadas à “disciplina” desde o bolchevique
Stálin, o socialista moderado Gorky e o anarquista patriótico Príncipe
Kropotkin.
488 - Os trabalhadores pediam uma jornada de oito
horas, o fim do trabalho por peça, a igualdade de salários, o fim do trabalho
infantil, melhoras na seguridade laboral e melhores modos da direção! Estas
primeiras demandas eram um reflexo do desejo de humanizar o trabalho e dar aos
trabalhadores alguma dignidade. As mulheres trabalhadoras do mesmo modo pediram
a igualdade dos salários e melhores condições e higiene no trabalho.
489 - Moscou teve uma luta mais longa: quando os
sovietes locais pediram um regresso ao trabalho, os trabalhadores permaneceram
de braços cruzados, obrigando o soviete a declarar que a jornada de oito horas
entraria em vigor em 21 de março, ponto que os patrões concederam. Os
trabalhadores russos haviam ganhado a primeira batalha por seus esforços, e não
graças aos sovietes dominados pelos socialistas. Eles agora teriam mais tempo
para se reunir, discutir, ler e – mais importante – para ter aulas práticas de
tiro.
490 - Comitês de fábrica
assumiam a gestão em cenários de fábricas abandonadas pelos patrões e economia
colapsando.
491 - Em 29 de maio uma conferência dos comitês de
fábrica em Kharkov aprovou uma resolução segundo a qual os comitês deveriam ser
“órgãos de revolução” e que deveriam tomar as fábricas e gerir a produção.
(...) A “Primeira Conferência dos Comitês de Fábrica de Petrogrado e seus
Arredores” foi convocada pelos trabalhadores da Putilov, e se reuniram de 30 de
maio a 5 de junho. Teve delegados de 367 comitês de fábrica representando a
337.464 trabalhadores em Petrogrado (de um total de cerca de 400.000). O debate
principal foi sobre quem ia gerir a indústria: os socialistas moderados queriam
um controle estatal pelo governo; os trabalhadores queriam o controle dos
trabalhadores, e nisso foram apoiados pelos anarco-sindicalistas e pelos
bolcheviques recentemente convertidos à ideia. Lênin discursou por uma
administração separada mas controlada.
492 - Na resolução bolchevique que foi aprovada,
os comitês de fábrica eram “permitidos a participar” no controle juntamente com
os sovietes, os sindicatos e representantes de partidos políticos!
493 - O Governo Provisório, os sindicatos e os
sovietes (sob o controle de socialistas moderados) definitivamente não tinham
simpatias pelos comitês de fábrica.
494 - Comitês distritais
eram aliados: Estabeleceram cantinas,
viveiros, centros culturais; lutaram contra o alcoolismo e as apostas; ocuparam
casas vazias, e trataram de organizar o fornecimento de comida.
495 - Os trabalhadores
qualificados tinham mais iniciativa, perícia e experiência, mas os da base
pautavam a igualdade salarial e muitas vezes radicalizaram o movimento.
496 - Os comitês estavam inclinados até os
bolcheviques porque eram muito mais radicais que os mencheviques, socialistas
moderados, e porque “apoiavam” os comitês de fábrica.
497 - Sindicatos eram muito pouco ativos. As
associações sindicais ativas queriam que os comitês de fábrica fossem pouco
mais que agências locais dos sindicatos. Mencheviques os queriam fortes. “Os comitês de fábrica devem servir só para
que a produção continue, mas não deveriam tomar a produção nem as fábricas
passar a suas mãos (…) Se o dono abandona a empresa, esta não deve passar para
as mãos dos trabalhadores, mas à jurisdição da cidade ou do governo central”.
498 - Os bolcheviques
eram meio ambíguos entre mencheviques e anarcossindicalistas. Tendiam a exaltar
os sovietes pois essa era a opinião de Lênin desde as Teses de Abril: No Pravda de 4 de junho Lênin repetiu que o
controle dos trabalhadores seria efetuado pelos sovietes: os comitês de fábrica
sequer foram mencionados. (...) Na Conferência Sindical Panrussa em junho,
Milyutin, o representante bolchevique, disse que os comitês deveriam ser
células sindicais, e o controle de trabalhadores seria exercido pelos
sindicatos e os sovietes.
499 - A composição dos
sovietes tinha uma fórmula que não dava muita representatividade aos trabalhadores.
Soldados tinha bem mais, por exemplo, ao que entendi. Porém: Para os trabalhadores ainda que estes
sovietes de cidade tivessem a tendência a ser demasiado lentos ajudavam a
resolver seus problemas mais urgentes. (...) De modo semelhante, em Moscou, os
sovietes locais eram muito mais radicais que o soviete da cidade – dirigido por
mencheviques.
500 - Ao mesmo tempo de
tudo isso, os camponeses levavam a cabo
sua própria reforma agrária e ignoravam o Governo Provisório que estava em
contra da ocupação de terras. Formaram-se os comitês camponeses nos níveis da
volost (vila), uezd (distrito) e guberniya (regional). As decisões tendiam a
fluir de baixo para cima: os de baixo só obedeciam se estavam de acordo.
501 - Não houve
analfabetismo nem suposto antissocialismo a impedir a luta. Eles pediam aos donos “que aplicassem suas
decisões e livremente dessem sua propriedade ao comitê da terra (do volost)
(vila) para evitar a ocupação ilegal por camponeses individuais”. [15] A
convenção estabeleceu um controle das rendas, organizou as quantidades de terra
que cada pessoa ou unidade familiar poderia ter, supervisionaria as colheitas e
se asseguraria da utilização eficaz da terra. A assembleia campesina de Samara
mostrou a grande impaciência dos camponeses com os políticos sobre a questão da
terra. Um camponês gritou a um menchevique. “Nós sempre temos que esperar,
vocês é um asno, não pense que somos idiotas”. (...) O Decreto sobre a Terra de
Lênin não fez mais que reconhecer um fato consumado: 65 de 70 sovietes campesinos
já haviam dividido a terra.
502 - Lênin se mobilizou para dizer no “Pravda” de
21 de junho: “Nós entendemos vossa amargura, nós entendemos a excitação dos
operários de Petersburgo, mas nós lhes dizemos: Camaradas, um ataque imediato
seria inoportuno”.
503 - Julho: Lênin falou aos manifestantes na manhã do
dia 4, enfatizando a necessidade de uma marcha pacífica, para assombro dos
marinheiros armados que estavam buscando uma aprovação da ação.
504 - Em vez de tomar o poder, os líderes do
soviete e seus aliados socialistas no Governo Provisório ordenaram às tropas
leais que detivessem os defensores de tais ideias! Cerca de 400 trabalhadores e
soldados morreram para permitir aos socialistas moderados aparecerem como
respeitáveis para a burguesia.
505 - Bolcheviques ganham
apoio porém. Isso tinha explicação. Apesar
de sua influência inibidora, os bolcheviques se encontraram sujeitos à
repressão por obra dos socialistas, que censuraram suas publicações e prenderam
os principais militantes do partido. Os socialistas moderados indubitavelmente
acreditaram em sua propaganda, que eram “agitadores” que haviam provocado os
problemas entre os trabalhadores.
506 - Burgueses paralisavam
a produção em julho. O lema dos burgueses
parecia ser: “Pode o país perecer se ele já não me pertence”.
507 - Skobelev, o Ministro de Trabalho
menchevique, que já havia soltado uma circular em agosto que dizia que qualquer
reunião em horas de trabalho era ilegal, fez circular um aviso dos industriais
dos Urais que condenava “qualquer interferência dos comitês de fábrica na
direção de uma empresa (… )”. Frente aos ataques que lhes faziam, os
trabalhadores notaram a ineficácia dos sovietes mais altos e as associações
sindicais.
508 - Houve uma greve de alguns dias em Moscou em
12 de agosto. Um observador comentava que “não havia bondes, nem luzes; as
fábricas e as tendas de comércio estavam fechadas, assim como as linhas de trem
e as estações; até os garçons dos restaurantes haviam se declarado em greve”.
509 - Lênin chegou a
elogiar os comitês que reanimavam a luta pelo controle da sociedade. Esta explosão de entusiasmo com as
organizações dos trabalhadores não durou muito. Em 31 de agosto, os bolcheviques
ganharam a maioria no Soviete de Petrogrado, e cinco dias depois tomaram o
Soviete de Moscou. Agora a chamada de Lênin e Trotsky era “Todo o poder para os
sovietes bolcheviques!”.
510 - Os sindicatos estavam controlados
principalmente pelos mencheviques e contra a Revolução de Outubro. Os comitês
de fábrica de outro lado chamavam os sovietes para que tomassem o poder. … Os trabalhadores das imprensas tomaram
medidas para deter qualquer propaganda contrarrevolucionária; os empregados dos
arsenais e de escritórios controlavam a repartição de armas e de munição; o
comitê de fábrica da planta elétrica de Petrogrado se ligou com outros comitês
de fábrica para conseguir carvão e gordura para as turbinas para responder à
sabotagem dos patrões; uma conferência de operários da indústria de artilharia
chamou por um governo soviético, e criou um grupo para estudar a transição para
a produção pacífica.
(continua...)
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