M.R.Jones (PP) - A Experiência dos Comitês de Fábrica na Revolução Russa II

 (continuação...)

511 - Após fevereiro, um milhão de soldados simplesmente desertou do frente, voltou para suas casas e pegou seu pedaço das terras. (...) A popularidade bolchevique aumentava entre eles porque os soldados pensavam que também queriam a paz.

512 - Nos dias iniciais da revolução, em fevereiro e março, 30.000 revólveres e 40.000 fuzis desapareceram das reservas militares, e muitos foram parar nas mãos dos trabalhadores. As primeiras milícias operárias foram iniciadas pelos trabalhadores da impressão. (...) Quando, depois das Jornadas de Julho, se fizeram tentativas de desarmamento dos trabalhadores, estes entregaram armas inúteis e conservaram as armas importantes.

513 - A insurreição que deu o poder aos bolcheviques foi, estritamente falando, o trabalho do Comitê Revolucionário Militar do soviete de Petrogrado. Ainda que só pequenos números estivessem envolvidos ativamente no início, a falta total de oposição a eles, a ausência de apoio para o Governo Provisório significa que não podiam ser descritos como uma minoria.

514 - A conclusão óbvia sobre o evento: Se outubro foi “fácil” foi porque todo o trabalho já estava feito de antemão. O Governo Provisório estava completamente desacreditado e o aspecto reacionário do bolchevismo não havia sido revelado.

515 - Apesar de uma massa de trabalhadores e soldados abarrotar o Congresso soviético em 25 de outubro, o Presidium foi eleito: 14 bolcheviques, 7 Social-Revolucionários, três Mencheviques e um Internacionalista. Os bolcheviques emplacaram como candidatos operários Lênin, Trotsky, Kamenev, Zinoviev, etc. Quando formou um governo, Kamenev leu uma proposta do Comitê Central Bolchevique para que um Soviete de Comissários do Povo, por meio do qual “o controle sobre as atividades do governo será concedido ao Congresso de Sovietes e sua Comissão Executiva Central”. Sete bolcheviques do comitê central do partido foram eleitos, e assim Lênin e Trotsky chegaram a se sentar na direção, sem haver feito nunca uma jornada de trabalho em suas vidas. “O governo dos trabalhadores” estava agora composto por revolucionários profissionais de classe média. (...) A maioria tinha alguns recursos pessoais, e assim nenhuma necessidade de trabalhar, já estavam mantidos por fundos da riqueza familiar ou do partido.

516 - Foi a Guarda Vermelha quem peremptoriamente fechou a absurda Assembleia Constituinte, o Parlamento de estilo Ocidental. Enquanto os membros da Assembleia e os socialistas (incluindo alguns bolcheviques) se escandalizaram, toda a população ficou completamente indiferente ao fim de outro “galinheiro”.

517 - Em algumas outras formas os trabalhadores chegaram mais longe que os bolcheviques. Foram os trabalhadores que insistiram no fechamento de todos os periódicos burgueses, e o trabalho obrigatório ou a expulsão para os burgueses. Mas o partido finalmente ganhou: em 1917 a constituição do novo Estado foi ratificada com as palavras “o partido dirige e domina o aparato inteiro do Estado”.

518 - Em seu panfleto “O Estado e a Revolução” escrito antes de outubro, mas não publicado até 1918, Lênin havia chamado a que “cada cozinheira governe”, para que os trabalhadores planejassem a sociedade socialista.

519 - No próprio dia seguinte depois da revolução de outubro os representantes do Conselho Central de Comitês de Fábrica se reuniram com Lênin e alguns líderes dos sindicatos para propor um Conselho Econômico Provisório dos Povos de Toda a Rússia. Aqui havia um plano genuíno dos elementos da vanguarda real da classe trabalhadora. Sugeriram que este Conselho deveria estar composto por dois terços de seus membros, por representantes dos trabalhadores dos comitês de fábrica, sindicatos e do Comitê Executivo Central do Soviete, e outro terço dos proprietários e os técnicos. O Conselho teria divisões separadas correspondendo às diferentes partes da economia, cada divisão devia ser supervisionada por comissões de controle compostas somente por trabalhadores, estes formariam uma comissão de controle sobre o Conselho inteiro. O Conselho regularia a indústria, o transporte e a agricultura, e poderia tomar empresas privadas. Lênin rejeitou. 

520 - Conselho Central dos Comitês  bolcheviques discordavam. Para os últimos, os sindicatos é que estavam acima dos comitês. Em finais de outubro um porta-voz bolchevique dos sindicatos, Lozovsky, disse “que é necessário deixar absolutamente claro que os trabalhadores de cada empresa não devem ter a impressão de que a empresa lhes pertence” [25]. Não obstante, para os trabalhadores, a revolução queria dizer que as forças produtivas do país eram agora suas.

521 - Patrões continuavam fazendo “paralisações” e tendo suas fábricas ocupadas. Para meados de 1918, os comitês de fábrica estavam dentro das juntas administrativas de cerca de três quintos de todas as plantas, e em áreas como os Urais e a bacia do Donetz eram ainda maiores.

522 - Shlyapnikov, o Comissário do Trabalho e futuro líder da chamada “Oposição Obreira”, se queixava acerca dos trabalhadores e comitês de fábrica em março de 1918: “Em poucas palavras, as coisas estão nas mãos de uma multidão que, devido à sua ignorância e sua falta de interesse na produção, literalmente põe freio a todo trabalho”. Frente a estes tipos de comentários e a retenção de salários pelos bancos e patrões, não é de estranhar o que muitos trabalhadores sentiam – por que trabalhar quando os bolcheviques mantêm os velhos donos nos seus postos e defendem a motivação do lucro?

523 - As acusações eram de que os comitês eram “paroquiais” e “particularistas”. Os acusadores eram os próprios responsáveis destas tendências, já que o governo não deixaria os comitês obterem crédito: como consequência, os comitês muitas vezes tiveram que vender a maquinaria e seu stock para pagar aos trabalhadores e para manter a atividade da produção.

524 - Trabalhadores resistiam aqui e ali às nacionalizações limitadoras de poder dos bolcheviques. Em sua atitude até o pessoal técnico, os trabalhadores não eram usualmente hostis, ainda que os técnicos quisessem um intenso controle estatal para garantir sua posição e estavam contrários ao controle dos trabalhadores. Muitos, no entanto, estavam dispostos a trabalhar com os comitês, que necessitavam fazer uso de suas habilidades.

525 - Disciplina do trabalho bolchevique: “Os salários por peça devem entrar na agenda, aplicados na prática e julgados; devemos aplicar muito do que há de científico e progressista no sistema de Taylor (…)” [31]. Lênin, não os trabalhadores, decide o que se põe “na agenda”, mas os trabalhadores, não Lênin, experimentarão os salários por peça.

526 - Os protestos dos trabalhadores acerca da falta de independência dos sindicatos frente ao Estado aumentaram na primavera de 1918. Os comitês de fábrica ainda tratavam de ser construtivos. Enquanto respondiam aos ataques caluniosos dos sindicatos, os comitês propunham a unidade com os sindicatos, a fim de não ter duas organizações de trabalhadores em conflito.

527 - Os comitês de fábrica de Petrogrado haviam sido os mais avançados em pensar na economia centralizada desde agosto de 1917 e haviam proposto plano após plano, todos eles proposições práticas, para que os trabalhadores pusessem a funcionar a economia e caminhar até o socialismo. Dada a forma como Lênin ignorou estes intentos, foi toda uma ousadia de sua parte dizer no Terceiro Congresso de Sovietes, em janeiro de 1918, que: “Ao introduzir o controle dos trabalhadores, sabíamos que levaria muito tempo até que ele se consolidasse em toda a Rússia, mas nós buscamos mostrar que reconhecíamos apenas um caminho: que os próprios trabalhadores, desde baixo, formulassem os novos princípios econômicos básicos”. De fato, o capitalismo de Estado de Lênin, com a adição de uma pitada decorativa de controle operário, estava atrás da luta dos trabalhadores.

528 - Lênin em 1918: A submissão não qualificada a uma só vontade é necessária para o êxito do processo de trabalho organizado sob o padrão da indústria de máquinas de grande escala. (...) Em 1915 o então menchevique Larin escreveu um artigo entusiasmado sobre o estado de guerra alemão: “A Alemanha contemporânea deu ao mundo um padrão de direção centralizada da economia nacional como uma só máquina funcionando de acordo com um plano”. Lênin tocou neste tema com sua observação de que o socialismo havia sido realizado politicamente na Rússia e economicamente na Alemanha. Em abril de 1918, Lênin exortava “Sim, aprendam com os alemães! A história procede por ziguezagues e caminhos tortuosos. (...) Lênin se referiu com admiração ao Czar. Os socialistas russos teriam que “estudar o capitalismo de Estado dos alemães, (…) adotá-lo com toda a força possível, não poupar métodos ditatoriais para apressar sua adoção, ainda mais do que Pedro apressou para a adoção do Ocidentalismo pela Rússia bárbara, não evitando usar armas bárbaras para opor-se ao barbarismo”.

529 - Em maio de 1918, quando o Congresso Panrusso de Conselhos de Economia Nacional se reuniu em Moscou havia ali delegados do Vesenkha, de seus glavki e tsentry, e os sindicatos, mas não dos comitês de fábrica. A porta se fechava firmemente para os trabalhadores, conforme os comitês se convertiam em meras ramificações locais de uma burocracia sindical instável. (...) Um decreto de 28 de junho de 1918 nacionalizava todas as indústrias principais, convertendo o Estado no patrão principal da Rússia. (...) Como as invasões das Potências Aliadas e a guerra civil apenas haviam começado, nada do que havia ocorrido até aqui podia ser atribuído a esses fatores.

530 - Fala que até comunistas de esquerda como Osinsky, em seu jornal, passaram a denunciar a disciplina leninista como igual a capitalista. Lênin confundiria trabalhar duro com produtividade inclusive. Lênin respondeu acusando Osinsky de pensamento pequeno-burguês.

531 - Durante 1918 o capitalismo de Estado havia sido estabelecido nas indústrias do couro, têxtil e açúcar baseadas na cooperação entre o Estado e os velhos proprietários.

(continua...)

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