M.R.Jones (PP) - A Experiência dos Comitês de Fábrica na Revolução Russa III
(continuação...)
532 - A guerra civil indubitavelmente intensificou as tendências para o controle central e planificado, envolvendo a direção de um só homem e o uso de especialistas técnicos bem remunerados. (...) Os “especialistas” obtinham salários altos, e os gerentes e diretores viviam no luxo das casas dos velhos latifundiários: algumas vezes o mesmo velho latifundiário era o diretor. A mensagem de Lênin para os camponeses era “(…) se vocês mesmos não sabem como organizar a agricultura no novo método, devemos empregar os velhos especialistas”.
533 - Em novembro de 1920 só 12% das indústrias nacionalizadas tinham qualquer forma de direção coletiva. (...) Os sábados comunistas – isto é, trabalhar a troco de nada – foram instituídos por Lênin sob uma entusiástica aprovação.
534 - Trotsky defendeu a militarização do trabalho. Ou seja, o direito do Estado dos trabalhadores a enviar a cada homem e a cada mulher trabalhadora ao lugar onde sejam necessários para o cumprimento das tarefas econômicas”; e “o direito do Estado, Estado dos trabalhadores, a castigar ao homem trabalhador ou à mulher que se recuse a executar a ordem do Estado, e que não submeta sua vontade à vontade da classe trabalhadora e a suas tarefas econômicas (…)”.
535 - Em setembro de 1921 saiu um decreto que afirmava que o sistema salarial era “um fator fundamental no desenvolvimento da indústria, e adicionalmente, de que qualquer pensamento de igualitarismo deve ficar excluído”.
536 - Trotsky após a guerra civil: Trotsky não ia contra a burocracia, nem os privilégios ou as desigualdades; apenas queria uma burocracia “melhor”, menos privilégios “exagerados”, menos desigualdades “extremas”. Tudo pelo que ele protestava era uma consequência de um sistema que ele defendeu até sua morte.
537 - O “Dezembrista” Volodya Smirnov foi além do Grupo dos Trabalhadores: “Nunca houve uma revolução proletária, nem uma ditadura do proletariado na Rússia, simplesmente houve uma “revolução popular” desde baixo e uma ditadura desde cima. Lênin não foi nunca um ideólogo do proletariado. Do princípio ao fim ele foi um ideólogo da intelligentsia”.
538 - O erro fatal dos comitês de fábrica foi que deixaram a política para os Sovietes e os bolcheviques, concentrando seus esforços na economia. (Fagner vai dizer nos comentários: Imagino que o autor se referia aos trabalhadores nos comitês de fábrica não terem disputado os sovietes aos bolcheviques. É preciso ter em mente que os sovietes não foram abolidos quando a ditadura bolchevique se instalou. Pelo contrário, os sovietes foram incorporados ao novo Estado e transformados em transmissores de ordens vindas do alto (sobre essa transformação do papel dos sovietes, posso remeter à mesma obra de Daniel Aarão Reis Filho, página 75).).
539 - O último parágrafo é triste.
540 - Comentários: O primeiro critica a homogeneidade que o texto pretendeu dar à classe trabalhadora. Estaria meio idealizada. Voltando ao texto, essa mesma homogenização dá a impressão de uma grande clareza “dos trabalhadores”, do que querem, do que esperam da revolução. (...) Se não enxergamos a pluralidade de ideologias que habita de forma espontânea na classe trabalhadora o risco é um tipo de idealização dos trabalhadores como se fossem naturalmente tendentes à esta ou aquela forma de interpretar o mundo, como se houvesse um “verdadeiro interesse da classe trabalhadora”, o que nos aproximaria dos argumentos mais usados pelos stalinistas.
541 - Arabel critica a parcialidade do autor: Não é coincidencia que o autor passa pela tentativa de revolução de 3 de julho como se ela não tivesse existido, em que os bolcheviques avaliavam que ainda não estavam dadas as condições da revolução e que vão terminar em um banho de sangue em cima do setor mais a esquerda ao governo e com uma recuada temporaria nesse setor e um pedido de prisão para todos os lideres bolcheviques, culpados pelo episodio. Isso olhando pro processo russo, fico imaginando o que o autor desse panfleto falaria sobre a semana spartakista ou a ofensiva final do PC alemão durante a revolução alema, que acaba completamente com o processo revolucionário…
542 - Coloca que é injusto tratar os bolcheviques como partido de classe-média folgado. Grande parte dos militantes e mesmo dos dirigentes era composta por operários. Muitos lutando a vida toda contra prisões e condenações.
543 - Preobrazhensky, principal líder do partido ilegal do Ural durante o período de reação, é detido e julgado. Quando Kerensky, seu advogado, tenta negar as acusações que lhe imputam, se põe de pé num salto, o desautoriza, afirma suas convicções e reivindica a responsabilidade de sua ação revolucionária. Naturalmente é condenado: só depois da vitória da revolução o partido descobrirá que este homem, revolucionário profissional desde os 18 anos, é um economista de enorme valia.
544 - Acusa a parte sobre camponeses de mistificação. Que imperava um provincianismo egoísta. Pra onde caminhou então essa “autogestão” feita pelos camponeses de forma tão bonita apresentada pelo texto?
545 - Fagner: Sobre o primeiro parágrafo do comentário de Lucas, tenho a dizer que as coletividades podem ficar à mercê de decisões discricionárias de indivíduos e pequenos grupos sim (...). Nesse sentido, não há mágica, mas há manobras de indivíduos e grupos para fazer as coletividades abrirem mão do controle sobre si mesmas. Isso acontece a toda hora e não foi diferente na Revolução Russa. Bem, um dos casos mais emblemáticos de tentativa dos bolcheviques de afirmarem seu poder perante os sovietes e outras formas de organização geradas autonomamente foi o assalto ao Palácio de Inverno e o fechamento da Assembleia Constituinte pela qual pressionavam organismos de base, logo após os bolcheviques terem ficado minoritários na referida assembleia.
546 - Mencheviques chegaram a cooperar com os bolcheviques no início de 2018. Só ali, pela invasão dos brancos. Devido à oposição de longo alcance ao poder bolchevique em 1920, mencheviques e SRs acreditaram que os leninistas seriam forçados a incorporar o programa menchevique/SR ou encarar a derrota. Isto os encorajou, bem como aos grupos anarquistas, a iniciar sua agitação contra os bolcheviques no fim do ano. Coloca que a NEP, substituta do Comunismo de Guerra, foi uma forma de aliviar a barra com camponeses e outros grupos agitados.
547 - Diz que a fome causada pelos distúrbios entre 1921 e 1923 matou uns cinco milhões.
548 - Fagner cita obra de Trotsky relatando diversas atividades revolucionárias de camponeses no período de 1905. E em 1917 pretenderam a divisão igualitária das terras, segundo fontes. Afirma ainda que sempre houve debates internos grandes no partido bolchevique. A questão é que Lenin e depois Stalin conseguiram por meio da máquina partidária neutralizar as tendências antiburocráticas, como a que representava Kollontai.
549 - Outubro: Trotsky, enquanto presidente do Soviete de Petrogrado, mobiliza o Comitê Militar-Revolucionário e derruba o Governo Provisório às vésperas do Segundo Congresso dos Sovietes, que contou com protestos dos mencheviques e dos SRs quanto à derrubada do governo mas aprovou a formação de um Conselho dos Comissários do Povo, tendo à frente Lenin (conferir as obras citadas acima). Mesmo assim, segundo Daniel Aarão Reis Filho, Lenin teve dificuldades em se fazer reconhecer chefe do novo governo...
550 - Arabel coloca que a divisão igualitária da terra não era revolucionária, pois ferramentos e outros meios ainda eram desiguais.
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