Filosofia - Textos Diversos XXXVIII - J. Chasin - Método Dialético

 (continuação...)


638 - Na dialética, em Hegel e em Marx, parte-se do fenômeno, do empírico. Não tem outro jeito. Só que, atenção!, ele é parte, e não o todo. Pior, pode estar sob a forma do inverso da essência. A venda da força de trabalho, por exemplo, geralmente aparece como uma negociação entre iguais, ocultando a história e as diferenças de poder. Pseudo-liberdade. O empírico pode ser falso. Seria o erro do positivismo inclusive. Tem que se cotejar a interioridade ontológica do objeto real.

639 - Porém, Descartes está errado ao dizer que os sentidos sempre enganam. Eles podem enganar ou não. A essência corrige. A essência corrigindo portanto, os órgãos dos sentidos. A razão corrigindo o meramente sensorial. Por isso que não se pode negar o ontológico como o positivismo faz. A empiricidade é dada à mistificação volta e meia.

640 - A perspectiva da dialeticidade é buscar a idéia no real, o que não quer dizer que se despreze nem a idéia nem a consciência. Mas a consciência tem a regência, o primado cognitivo do objeto.

641 - Diferenças da essência na dialética marxista: No caso da perspectiva dialética, não há uma contraposição radical entre fenômeno e essência. Há uma conjugação dialética. A essência também não é uma imutabilidade, não é uma mônada leibniziana, não é o uno parmenidiano, é um ser real que pode mudar.

642 - O segredo fundamental do método dialético, é exatamente estabelecer a concretude. É exatamente caminhar a partir da visão difusa e confusa, caótica, da completude da empiricidade, para a concretude, passando pela abstração. Parte-se da pletora empírica desordenada, ordena-se por abstrações, e destas abstrações se volta à empiricidade, mas agora esta empiricidade não é mais a empiricidade mas a concretude. O caminho é esse: a empiricidade caótica, a organização abstrata, e a concreção a partir do abstrato. O empírico agora é integrado na totalidade do real. Ele passa a ser determinado pela multiplicidade de elementos que o compõem. Esse o segredo da frase do Marx que “o concreto é concreto porque é síntese de múltiplas determinações.”

643 - É como o “iceberg”: Se eu fico só no pedaço de cima, me escapa a maior parte do real. Tudo isso são metáforas. O empírico não está fora do concreto, mas o concreto é muito mais amplo que o empírico.

644 - A razão é um produto histórico, segundo Chasin. O indivíduo não nasce racional (isso explica os meninos-lobos?). O ser humano não nasce racional. É a sociedade que faz com que esta possibilidade se converta em efetividade.

645 - Natureza humana: A nossa dimensão biológica tem que ser mantida. Ela pode ser transformada, mas deve ser mantida enquanto dimensão biológica. Civilização é progressivo afastamento do natural, contudo não há um rompimento absoluto em nenhum momento, nem este rompimento é possível. Mas há uma transfiguração absoluta. De modo que não há nada no homem que seja puramente natural.

646 - A racionalidade é algo que cresce. Ao mesmo tempo é preciso notar que esse crescimento, esta evolução não é algo que se dá em linha reta. Há regressões da racionalidade. E não é preciso que regrida a racionalidade em todos os setores da vida, ao mesmo tempo, num momento dado. É possível regredir em certas atividades e progredir em outras. No momento atual a racionalidade que diz respeito ao manuseio, à capacidade de manipulação dos fenômenos da natureza é progressiva. A capacidade racional de entender a totalidade da dimensão humana, neste sentido social, este é um momento regressivo em termos de média dominante no mundo. A dialética é capaz de explicar precisamente como uma coisa pode ascender e outra descender simultaneamente.

647 - O conhecimento absoluto não depende pura e simplesmente da individualidade. Segundo, todo e qualquer conhecimento depende do estágio histórico em que os entes já tenham se explicitado. Eu não posso efetivamente conhecer o segredo do trabalho antes que o trabalho tivesse chegado à sua forma mais complexa e fundamental. Aristóteles, que aludiu à questão do trabalho e aludiu com muito rigor, esta noção de trabalho que ele tinha era uma noção limitada na medida em que a forma trabalho é uma forma limitada. Só quando se chega ao trabalho mais alto que a história já gerou que é a forma do capitalismo é que eu posso entender a totalidade ou a quase totalidade do trabalho. Que quer dizer então isso? Que a infinitude da consciência no entanto está delimitada pelas aquisições possíveis a cada momento histórico dado.

648 - Não é que Marx seja relativista, mas é que a totalidade não está acessível ao indivíduo limitado no tempo e espaço. (Creio que há aproximações sucessivas à realidade)

649 - Em última analise o método dialético é a pretensão de reproduzir na cabeça a totalidade do objeto inquirido.

650 - Fora da totalidade não há verdade. Um exemplo: se eu pego minha orelha, corto fora e ponho em cima da mesa, essa orelha em cima da mesa já não é mais orelha. Porque ela se define enquanto orelha enquanto ela está numa posição dentro do todo que lhe permite ser a especificidade do seu elemento peculiar.

651 - Critica que a fenomenologia toma a experiência imediata como o todo do real, sendo que é apenas um momento de um processo. O todo é um processo organizado. A árvore é árvore quando nasce, cresce e morre, mas é uma árvore diferente em cada etapa. Já tá lá na semente.

652 - Os conceitos de Marx são um sistema. Uma constelação. Ao explicarmos um precisamos fazer referência a outros. Eles se determinam reciprocamente.

653 - Enfim, Marx trabalha com abstrações, mas não com meras abstrações. Formais e tal.

(continua...)

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