Filosofia - Textos Diversos XLII - Nietzsche por José Amorim de Oliveira Jr


José Amorim de Oliveira Jr. - A construção de uma civilização superior em Nietzsche:

39 - Essa civilização pede trabalho escravo e livre (ociosos)… Nietzsche minimiza dizendo que o escravo pode viver melhor que o trabalhador livre atual. Essa parcial asneira está no “humano… demasiadamente humano”.

40 - Quem seria o ocioso? O atual rico? No maravilhoso mundo de Nietzsche, não: O critério é o talento, a faculdade, a capacidade pessoal que um indivíduo tem.

41 - Quem sofre é o livre, pois tem responsabilidade de conduzir. O escravo só obedece...

42 - O argumento é meio que “tá no inferno? Abraça o capeta!” - Nietzsche faz-nos enxergar que o ideal moderno de ‘liberdade’ não passa de um embuste, mediante o qual a sociedade vende uma imagem de igualdade que, no fundo, não é senão um esquema implacável de aprisionamento, de estancamento social. Nesta situação, a liberdade é a maior das vaidades humanas. O escravo trabalharia menos que um trabalhador, afirma Nietzsche.

43 - Sinceramente, algumas propostas fascistas são bem esse suposto fascismo social.


José Amorim de Oliveira Jr. - A Filosofia Política de Nietzsche:

44 - Ele seria muito contraditório e pouco sistemático para que se possa falar em uma “filosofia política” nietzscheana.

45 - O Estado deveria promover a criação do tipo humano superior.

46 - Crê que o Estado é necessário, mas não veio da convicção racional: É a violência que dá o primeiro direito, e não há nenhum direito que não seja em seu fundamento arrogância, usurpação, ato de violência.

47 - O esquisito é que, em outras passagens, ele fala disso como se fosse um pacto. Em outras, diz coisas assim: “A monstruosa inevitabilidade do estado (...) exprime-se quando vemos como os que foram submetidos pouco se preocupam com a origem assustadora do estado, tanto que não há no fundo nenhum acontecimento que a historiografia ensine de maneira pior do que a realização daquelas usurpações súbitas, violentas e, pelo menos em um ponto, não esclarecidas.” Em vários livros. “Emprego a palavra ‘Estado’, mas é fácil compreender que me refiro a uma horda qualquer de aves de rapina, uma raça de conquistadores (...) que, com a sua organização guerreira deixaram cair sem escrúpulos as suas formidáveis garras sobre uma população talvez infinitamente superior em número, mas ainda inorgânica e errante. Tal é a origem do ‘Estado’”.

48 - Contra a democracia. Do contrário, Estado e poder econômico terão como objetivo principal a demagogia, e não a cultura superior.

49 - Alguns dirigentes não podem ficar apenas no “operacional”, pois têm como tarefa principal criar novos valores.

50 - Diz que as instituições liberais deixam os homens acomodados.

51 - Ao tratar das ‘duas potências’ (Estado e poderio econômico), o filósofo antevê o perigo da degeneração da política enquanto dominada pelos interesses de classe da moderna economia monetária e pela racionalidade instrumental da tecnologia moderna, levando as pessoas a perderem o controle político de seus próprios destinos e tornarem-se politicamente apáticas. Inclusive era uma grande queixa de Nietzsche sobre o seu tempo.

52 - Nietzsche não quer negar a necessidade lógica de um Estado, mas observa que a ideia de que este governa para o povo é uma mera abstração, pois o Estado se coloca historicamente acima. Nesse sentido é que o autor entende o Estado moderno como um estado que se faz sobre bases meramente conceituais, apresentando um distanciamento das reais relações de força, sendo mais ‘lógico’ do que ‘histórico’, uma invenção moderna. A explicação nietzschiana do fenômeno político leva em consideração o seu método genealógico, ou seja, buscar na história a formação e o desenvolvimento dos processos e conceitos e não apenas acreditar em crenças, em fundamentos historicamente refutáveis.

53 - Não se pode orientar a criação cultural para satisfazer as necessidades do rebanho. O filósofo desqualifica, assim, a idéia de tomar a utilidade coletiva como critério de avaliação, estabelecendo que o ele deve se estabelecer a partir do grau de intersecção que o indivíduo tem com a cultura, isto é, com o cultivo do super-homem, com a criação de um tipo de homem auto-suficiente, prescindível de Deus, criador de seus próprios valores, sempre se auto-superando, telúrico, espiritualmente forte, sem arrimos externos.

54 - Missão do Estado: colaborar para que o super-homem seja não mais obra do acaso, exceção, mas sim um tipo desejado, ainda que o mais temível, pois forte e independente.

55 - O importante para a humanidade é a auto superação e não o bem da maioria. O ideal mais elevado de vida.

56 - O Estado poderoso corre o perigo de virar um fim em si mesmo.

57 - Nietzsche intervencionista: Para que a posse de agora em diante infunda mais confiança e se torne mais moral, mantenham-se abertas todas as vias do trabalho para a pequena fortuna, mas impeça-se o enriquecimento sem esforço e súbito; tirem-se todos os ramos do transporte e comércio que favorecem a acumulação de grandes fortunas, portanto, em especial o comércio de dinheiro, das mãos de pessoas privadas e sociedades privadas – e considere-se tanto o possuidor excessivo como o possuidor de nada como seres perigosos para a comunidade.

58 - A economia não pode estar acima do propósito de criação de um homem superior.

59 - Nossa época cria o animal doméstico, animal de rebanho, ansioso pela igualdade, pela ausência de diferenças, pela padronização e nivelamento de todos, enquanto que a igualdade é precisamente o signo de civilizações decadentes.

60 - O autor alivia o escravagismo de Nietzsche: é o que acontece, por exemplo, nas relações entre pais e filhos, em que os pais, por desejar a evolução intelectual e profissional dos filhos, permitam que estes fiquem no ócio, para que se dediquem à nobre tarefa de estudar, abdicando do labor.

61 - O filósofo é o legislador que cria mais que leis: valores a comandarem a sociedade. Jamais devem estar, porém, subordinados ao Estado.

62 - Critica a educação de sua época: (...) é um adestramento brutal para tornar utilizável, aproveitável para o serviço do Estado, com a menor perda possível de tempo, um grande número de jovens (...).

63 - Conservador, prega a evolução e outra moral e outro Estado: “Há visionários políticos e sociais que com eloquência e fogosidade pedem a subversão de toda ordem, na crença de que logo em seguida o mais altivo templo da bela humanidade se erguerá por si só. (...) Infelizmente aprendemos, com a história, que toda subversão desse tipo traz a ressurreição das mais selvagens energias, dos terrores e excessos das mais remotas épocas (...) e que, portanto, uma subversão pode ser fonte de energia numa humanidade cansada, mas nunca é organizadora, arquiteta, artista, aperfeiçoadora da natureza humana”.

64 - Um país não se mede por economia ou exército: O critério legítimo para se avaliar a grandeza de um povo, para o filósofo, é seu nível cultural. Inclusive diz que países superiores podem ser dominados por outros inferiores, por estes terem maior poderio bélico/econômico.

65 - Para o filósofo, a cultura deve ser cosmopolítica, no que se percebe a posição francamente anti-nacionalista de Nietzsche. Diz que a cultura grega soube absorver as qualidades das demais. Porém, reconhece que cada nação pode ter necessidades culturais específicas, afirma o autor.

66 - Faz-se necessário, também, entendermos a origem do antagonismo entre cultura e Estado. Para o filósofo, esse antagonismo se dá porque o Estado via de regra deseja fazer da cultura um instrumento de formação de cidadãos obedientes, tornando-a estática e estereotipada, impedindo o desenvolvimento da cultura livre.

67 - Então o Estado deve favorecer a cultura, mas esta tem que ter postura anti-estatal.

68 - Nietzsche parece ter um horizonte utópico meio “anarcocapitalista” rs: (...) a desconfiança contra todo governante, a inteligência do caráter inútil e desgastante desses combates de fôlego curto, hão de levar os homens a uma decisão inteiramente nova: à abolição do conceito de Estado, à supressão da oposição entre ‘privado e público’. Passo a passo, as sociedades privadas absorvem os negócios de Estado: mesmo o resíduo mais tenaz que resta do antigo trabalho de governar (aquela atividade, por exemplo, que deve assegurar o homem privado contra o homem privado) acabará um dia por ficar a cargo de empresários privados.”

69 - Porém, Nietzsche diz que valores só devem ser destruídos tendo outros para pôr no lugar.

70 - Nietzsche crê que política não muda nada. 

 

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