Filosofia - Textos Diversos XLIV - Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia (1912)
Julian Baggini - Bertrand Russell, Os
Problemas da Filosofia (1912):
91 - Russell abandonou
várias ideias dessa escrito, mas não dá pra entender a autocrítica sem conhecer
o que ele defendia aqui nesse “`Problemas da Filosofia”. (um livro).
92 - É logicamente possível que algo como a matéria não exista.
93 - Uma tentativa de solução é dizer que, embora seja verdade que dez
pessoas sentadas em torno de uma mesa não vêem exactamente a mesma coisa, podem
estar suficientemente de acordo para que nos convençamos de que a mesa tem
efectivamente propriedades mais ou menos consistentes.
94 - … a
hipótese de que as coisas existem realmente, independentemente das minhas
percepções, tem mais poder explicativo do que a tese de que não existem.
95 - Supor
que os produtos finais, os dados dos sentidos, se assemelham ao próprio
objecto, é um bocado forçado, pois iria exigir uma semelhança entre objecto e
percepção que é completamente desnecessária para o processo da percepção. Se
existisse uma semelhança, seria uma coincidência deveras interessante.
Concluindo, a natureza da matéria deve permanecer de certa forma misteriosa.
Temos boas razões para acreditar que ela se encontra lá, e para que haja uma
correspondência entre aquilo que percepcionamos e o que se encontra lá.
96 - Berkeley, um
idealista, dizia que não podíamos supor a existência de nada que estivesse fora
da nossa mente, a qual se alimenta dos dados dos sentidos.
97 - O sol nascerá
amanhã? A repetição frequente nos leva a crer que sim. Mas isto não justifica a nossa expectativa, visto que as nossas
expectativas tendem a ser enganadoras, como acontece com o azarado peru ao
qual, tendo a expectativa de ser alimentado quando o sol nascer, torcem o
pescoço cortado na véspera de Natal.
98 - Indução: Na essência este princípio afirma que se
encontramos duas coisas associadas com uma outra e nunca as encontramos
dissociadas uma da outra, então quanto maior o número de casos em que elas
estão associadas, maior a probabilidade de continuarem associadas no futuro.
99 - Leis da identidade,
da contradição e do terceiro excluído não são provadas pelo empirismo, ainda
que precisemos da experiência para conhecer esses princípios. Então Russel faz
média com os dois lados.
100 - Um outro aspecto em que os empiristas têm
razão é que a existência não pode ser provada a priori. Isto é assim porque
todo o conhecimento a priori é, na verdade, hipotético, da forma "se X,
então Y". Embora saibamos a priori que qualquer coisa implicada por uma
proposição verdadeira é verdadeira, não podemos saber se a proposição original
é verdadeira a não ser pela experiência. Esta é uma razão pela qual as provas
da existência de Deus de Descartes falham. Descartes pode mostrar que a
existência faz parte da essência de Deus, mas isso não mostra que existe um
Deus que tem esta essência. De facto, Descartes mostra que se Deus existe, ele
existe! (vê o capítulo 2 das Meditações).
101 - Os princípios da ética também são a priori.
A experiência não pode provar que o princípio da maior felicidade é verdadeiro
ou que o assassinato é errado. As matemáticas e a geometria também são
conhecidas a priori.
102 - Antes de Kant, considerava-se que todo o
conhecimento a priori é analítico, ou seja, qualquer predicado
(aproximadamente, uma propriedade ou descrição de algo) que deduzimos acerca de
um sujeito (a coisa que o predicado descreve) tem de estar já no sujeito.
(...) Kant argumentou que era possível
ter conhecimento a priori que fosse sintético e não analítico (por outras
palavras, um conhecimento onde o predicado acrescentasse realmente alguma coisa
ao sujeito). O seu exemplo mais simples foi "7 + 5 = 12". Embora
claramente a priori ― apesar de verdadeiro não pode ser provado nem refutado
pela experiência ― Kant afirmou que não era uma afirmação analítica.
"12", alegou ele, não está contido em "7 + 5". É uma ideia
nova. Isto é mostrado pelo facto de que alguém poder ter as ideias de
"7", de "+" e de "5" e, no entanto, não ter a
ideia de "12". Uma criança que apenas consiga contar e somar até 10 é
disso um bom exemplo. (...) A solução de Kant foi a sua famosa revolução copernicana.
Copérnico mudou o centro da nossa visão do universo da Terra para o Sol. A
mudança de Kant foi dos objectos para nós próprios. Ele afirmou que em vez de o
nosso conhecimento se conformar aos objectos, são os objectos que têm de se
conformar ao nosso conhecimento.
103 - Assim, é possível
conhecer. A certeza do nosso conhecimento
a priori é assim garantida pelo facto de que esse conhecimento é conhecimento
do modo como temos necessariamente experiência do mundo e não conhecimento do
modo como o mundo realmente é.
104 - Russell coloca que
o problema é que a natureza humana pode mudar.
105 - Na discussão dos
universais, Platão é o rei. Até se as vacas forem extintas o “universal” vaca
(a ideia de vaca) continuará existindo. Toda vaca é diferente da outra, mas
algo as unifica, esse universal.
106 - Russell constata
que apenas nomes próprios são particulares puros (e olhe lá, eu diria). Fulano,
Sicrano, Ovelha Dolly. O resto é meio que tudo universal.
107 - Russell afasta-se agora do tema dos
universais per se para considerar algumas das características interessantes das
proposições gerais a priori. Uma das características mais notáveis é a de que
podemos conhecer que algo é o caso sem conhecer uma única instância sua. Para
dar um dos exemplos de Russell numa linguagem simples, «todos os números que
são o produto da adição de dois outros números e que nunca foram pensados por
quaisquer seres humanos são maiores que 100». Podemos saber que isto é verdade,
embora não possamos dar um único exemplo de um tal número (uma vez que assim
que o fizermos, o número foi pensado por um ser humano).
108 - Chama-se verdades auto-evidentes às verdades
que conhecemos por contacto e sabemos intuitivamente que são verdades. Isto
inclui verdades básicas da matemática e da lógica e aquilo que nos é dado na
experiência sensorial.
109 - Filosofia é inútil?
A crítica não tem sentido porque, apesar
de aquilo que é prático satisfazer as nossas necessidades materiais, estas não
são as únicas necessidades que temos. Também temos necessidades mentais, a
necessidade de nos compreendermos a nós próprios, ao mundo e ao nosso lugar
nesse mundo.
110 - Razões para o
insucesso da filosofia: Há duas razões
para isto. Primeiro, onde a filosofia teve sucesso tendeu a dar origem a
assuntos novos, separados. Quase todos os assuntos que estudamos fizeram em
tempos parte da filosofia. Isto justifica o valor histórico da filosofia, mas
não diz muito sobre a filosofia actual. Em segundo lugar, as questões que
continuam a fazer parte da filosofia tendem a não admitir respostas
definitivas. Não só é verdade, por exemplo, que ainda não descobrimos a
verdadeira base da ética, como é quase certo que nunca poderemos dizer com
alguma certeza qual é. A filosofia ajuda a clarificar estas questões, a
perceber a sua importância e a fornecer respostas.
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