PP - Textos Diversos XXXIII

 

PP (Portugal) - André Barata, O Que Falta Ainda Responder:

1045 - Estamos de acordo com André Barata quando escreve que a «primeira evidência da plasticidade do Estado é a sua história», mas foi precisamente por isso que no nosso artigo anterior colocámos questões acerca do Estado Social. (...) convém lembrar que toda a república de Weimar assentou numa aliança entre a social-democracia e o estado-maior do exército. Ano após ano, à medida que se iam edificando as peças do Estado Social, a social-democracia ia prescindindo de liberdades políticas com a justificativa de que era preferível perder alguma coisa para salvar o resto. E foi assim que no penúltimo dia de Janeiro de 1933, depois de se ter perdido tudo perdeu-se o resto também.

1046 - O texto coloca que o Estado Social não é um obstáculo à lógica mercantil. A depender do que se entende por “obstáculo”, discordo. (...) é um dos factores de pressão para o desenvolvimento capitalista. Em vez de entrar em contradição com o capitalismo, o Estado Social é um dos seus mecanismos.

 

PP (Portugal) - Lições do Brasil Para Portugal (O Texto é Dispensável, Bons São Os Comentários):

1047 - Eduardo Tomazine diz (texto de junho de 2013) que junho não foi tão apropriado pela direita assim como se diz: No mesmo dia, moradores da Rocinha e do Vidigal desceram da favela em direção à casa do governador, num tipo de manifestação inédita nas últimas décadas. Moradores do Complexo da Maré também manifestaram. Em São Paulo, mais de 5000 manifestantes convocados pelo Periferia Ativa marcharam por 10km, durante 5 horas, na Zona Sul de São Paulo, bloqueando importantes vias de circulação. As favelas e a periferia nas ruas mostram que os protestos transcenderam e muito a classe média, e o conteúdo das suas manifestações é claramente combativo. (...) Ontem (quinta-feira), mais de 10.000 manifestantes fecharam, mais uma vez, a Avenida Rio Branco, no centro do Rio, e se dirigiram à sede da Fetranspor (federação dos transportes do estado do Rio de Janeiro, ou melhor, o cartel das empresas). Eram claramente manifestantes de esquerda, de comunistas a anarquistas, todos muito bem organizados para rechaçar eventuais ataques de grupos de extrema-direita e agentes infiltrados.

1048 - JB observa o número muitíssimo menor de pessoas nos eventos citados.

1049 - Eduardo coloca que os fascistas eram a menor parte. E acrescenta trechos do outro texto: “Eram os ‘Coxinhas’, como dizem. Levantavam cartazes contra a corrupção. Muitos desfilavam, tirando fotos para postar no Facebook. Mas a juventude que “concretamente” temos é essa, e não outra. A maioria deles sente a merda em que estamos afundados. Grande parte das reivindicações era por saúde e educação. Muitos jovens gays mostraram suas caras sem máscaras. As ruas se abriram outra vez, e isso é uma grande conquista!” (...) E essa outra: “Os coxinhas são confusos, mas já conquistamos com eles, em duas semanas, coisas que não conseguimos em vinte anos de protestos puros, mas isolados e sempre com os mesmos.”

1050 - Tomazine, sua tentativa de amenizar o caráter fascista dos eventos analisados neste ótimo artigo, me parece insuficiente. Seu principal argumento é o fato de haverem jovens confusos, que iam às ruas pela primeira vez, entre os grupos identificados pelo passapalavra como de direita. Bem, é exatamente por isso que se trata de um fenômeno protofascista, pois se configurou como um movimento de massas. (...) Se considerarmos que uma parte destes jovens se identificou com as palavras de ordem moralistas/nacionalistas e outra parte com a questão da tarifa, que elemento novo há nesta questão que não tenha sido analisado aqui?

1051 - JB: Hitler chegou ao poder na Alemanha nos últimos dias de Janeiro de 1933. Ora, em 1932 as transferências de filiados entre o Partido Comunista Alemão e as milícias nazis, as SA, chegaram a 80% do conjunto dos membros destas duas organizações. E em Novembro de 1941 Hitler recordou num círculo de comensais que na época da pancadaria nas ruas 90% do partido nazi era composto por elementos de esquerda. Paralelamente, no Partido Comunista Alemão, entre 1930 e 1932, os abandonos e as novas adesões chegaram a uma taxa superior a 50% dos membros. (...)  é improcedente argumentar que a existência de uma massa de gente confusa gritando palavras de ordem genéricas e moralistas e envolvendo-se em bandeiras nacionais nada significa de preciso. (...) Os comunistas alemães viam essa circulação de membros como um factor benéfico, porque pensavam que podiam assim atrair fascistas para o seu campo e fazer com eles a revolução. Do mesmo modo, uma década antes, na Itália, Gramsci e Togliatti haviam imaginado que podiam atrair para o comunismo a massa fascista plebeia, a gente de Fiume, os seguidores de D’Annunzio. A história, para quem a faz, está por fazer, por isso não devemos lançar culpas sobre quem navegou sem mapa nem bússola, e naufragou. Mas hoje, quando graças ao martírio deles o mapa está feito e a bússola disponível, sabemos que a movimentação de massas inexperientes mobilizadas por temas difusos é um risco que exige uma grande lucidez e frieza de apreciação. Acrescento uma coisa: O mapa está feito relativamente àquele assunto. Mas como, na história, o velho aparece sempre sob uma forma nova, deparámos em 20 de Junho com algo de que não tínhamos experiência, a inversão política de um movimento a partir de dentro. Nas palavras de Leo Vinicius, «Esse é um dado novo na luta de classes, e que terá que ser levado em conta de agora em diante».

1052 - Clássico exemplo de análise-torcida fez Tomazine aqui: A semana seguinte a das manifestações do dia 20 (denominada pelo PP como a “Revolta dos Coxinhas”) foi claramente uma semana de ações políticas nas ruas pautadas pela esquerda. Mesmo sem as proporções milionárias do dia 20, elas podem ser consideradas como as maiores manifestações de esquerda nas cidades brasileiras nas últimas décadas e contrastam drasticamente com o fracasso das manifestações convocadas pela direita nessa mesma semana. Na minha opinião, isso denota a limitação da capacidade de mobilização dos setores da direita ainda a demonstrações efêmeras e com pouco fôlego, tendo portanto pouca capacidade de ganharem organicidade.

1053 - Os nazis nas eleições alemãs de 1928 tem 2,6% de votos e os Comunistas têm 10,6%; quando Hitler chega definitivamente ao poder nas eleições de 1933, ele chega com 43% tendo os Comunistas obtido 12,32%.

1054 - A afirmação de que no último ano da república de Weimar as transferências de filiados entre o KPD e as SA chegaram a 80% do conjunto dos membros destas duas organizações encontra-se em Renzo DE FELICE, Explicar o Fascismo, Lisboa: Edições 70, 1978, pág. 283 e em Jean Pierre FAYE, Langages Totalitaires. Critique de la Raison — l’Économie — Narrative (ed. corr.), Paris: Hermann, 1980, pág. 485 n. A afirmação de Hitler aos seus comensais de que na época da pancadaria nas ruas 90% do NSDAP era composto por elementos de esquerda encontra-se em Hitler’s Table Talk, 1941-1944. His Private Conversations, Nova Iorque: Enigma, 2000, pág. 138. A afirmação de que no KPD, entre 1930 e 1932, os abandonos e as novas adesões chegaram a uma taxa superior a 50% dos membros encontra-se em Hermann WEBER, La Trasformazione del Comunismo Tedesco. La Stalinizzazione della KPD nella Repubblica di Weimar, Milão: Feltrinelli, 1979, pág. 31. Já agora, a citação de Pierre BROUÉ, feita num comentário posterior, encontra-se no seu livro The German Revolution, 1917-1923, Londres: The Merlin Press, 2006, pág. 911.

 

PP (Portugal) - Livres do Nacionalismo:

1055 - Se é verdade que o endividamento massivo do Estado coloca sempre problemas económicos e sociais profundos, tendencialmente resolvidos à custa da compressão do emprego e do rendimento dos trabalhadores, também é verdade que o Estado não é independente dos chamados mercados.

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