PP - Textos Diversos XXIX
PP - Os Cinco Candidatos
a Serem Derrotados Nas Eleições
972 - Os lutadores
partidários acabam se voltando só para eleição nos meses. Qualquer luta
autônoma que surja corre o risco de ser redirecionada (ou secundarizada) pela
direita ou esquerda para alguma pauta eleitoral (ademais, qualquer protesto que se faz nessa época, por exemplo, é logo tachado
de ter “pretexto eleitoral”). Alguns largam os movimentos e vão fazer
campanha por voto nulo. A luta institucional de negociação burocrática fica
impossível no momento e os militantes voltados pra isso são deslocados para as
eleições. Alguns militantes vêem a eleição como oportunidade de ganhar um
sustento material como cabo eleitoral. (Esses
militantes, por dominarem as tecnologias de mobilização nos seus bairros e
locais de trabalho, por terem desenvolvido o poder da argumentação e da disputa
política, por conhecerem o território onde se localizam e por terem uma vasta
rede de contatos, se convertem em trabalhadores cobiçados pelos comitês
políticos). São os cinco
desafios.
973 - Eleger deputado
próximo é dar força ao movimento? Ora, a força não vem daí. Se for mera
manifestação fácil disso, ok. Porém… o importante é não perder de vista o fato de
que é na mobilização do seu corpo social que reside a força reivindicativa dos
movimentos, chave de mudanças sociais.
974 - Ainda tem o pessoal
contratado para segurar faixa e panfletar.
975 - O texto parece
esperançoso com os que rejeitam as eleições: Criticando abertamente a lógica eleitoral e a democracia burguesa,
podem envolver em lutas concretas trabalhadores desconfiados da política,
passando do desânimo à ação. Aliás, não estaria aí — muito mais do que nos
shows eleitorais — uma estratégia capaz de criar laços de solidariedade entre
os trabalhadores mais precarizados e, assim, solapar a base material do tão
alardeado conservadorismo?
PP - Protestos Virtuais e
Impotência Política:
976 - O contexto do texto
é a eleição em 2013 de Calheiros para presidência do Senado, já queimado para
75% da população como corrupto e de Feliciano para a comissão de Direitos
Humanos, abandonada pelo PT.
977 - A ONG Transparência Internacional organiza
uma pesquisa anual chamada Índice de Percepção da Corrupção (ver pesquisa
completa clicando aqui). Na mais recente edição da pesquisa, de 2012, o Brasil
aparece na 63ª posição entre 174 países pesquisados; no extremo inferior
encontram-se, do 165º ao 174º lugar, Venezuela, Iraque, Turcomenistão,
Uzbequistão, Myanmar, Sudão, Afeganistão, Coreia do Norte e Somália.
978 - O Banco Mundial também realiza pesquisas
sobre corrupção dentro do projeto Indicadores de Governança Global (página do
projeto aqui). Para o Banco, o percentual de controle de corrupção no Brasil é
de 63%, o que o coloca no estrato médio de controle de corrupção; entre os
países com percentual de controle de corrupção mais baixo, e portanto mais corruptos,
estão Myanmar (0%), Afeganistão (1%), Guiné Equatorial (2%), Turcomenistão
(2%), Congo (3%), Coreia do Norte (3%), Sudão (5%), Uzbequistão (4%), Angola
(4%), Líbia (5%), Zimbabwe (6%), Chade (7%), Iraque (7%), Venezuela (8%), Iêmen
(8%), Tadjiquistão (9%), Guiné (9%) e Nigéria (9%). Novamente, o Brasil
ultrapassa, em termos de controle da corrupção, países como Itália (57%),
Rússia (13%) e China (30%). … (No calor do recente falecimento de Hugo Chávez,
antes que digam que estas duas pesquisas são apenas e tão-somente “ferramentas
ideológicas do imperialismo” devido à baixíssima colocação da Venezuela em
ambos os índices, a Transparência Internacional coloca Cuba na 59ª posição em
seu ranking e o Banco Mundial diz que o controle da corrupção em Cuba é da
ordem dos 69% — maior inclusive do que o brasileiro. Boas críticas às
metodologias das duas pesquisas podem ser encontradas clicando aqui, mas ambas
são, até o momento, os principais índices globais sobre o tema.)
979 - Há quem diga, como o cientista social Fábio
Abrúcio, da Fundação Getúlio Vargas, que os escândalos recentes não são
indicadores de mais corrupção e sim de mais fiscalização.
980 - Não importa se o financiamento das campanhas
é público ou privado quando empresas de ponta em seus respectivos setores e
suas entidades representativas têm, legitimamente, assento em lugares como o
Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (CODEFAT) e o Conselho
Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, sem contar os inúmeros
conselhos de políticas públicas onde agem como raposas a cuidar de um
galinheiro. Não importa estabelecer limites à participação nestes espaços
quando gente do quilate de Armínio Fraga, Henrique Meirelles, José Dirceu,
Antonio Palocci, Pedro Malan e outros transitam livre e legalmente entre
serviço público e iniciativa privada, carreando de um campo a outro
informações, contatos e articulações.
981 - Não dá nem para
probir isso. Seria perseguir, por exemplo, clubes,
congressos, jantares, viagens, salões de hotéis, simpósios, palestras,
comemorações, visitas pessoais, telefonemas, mensagens de texto.
982 - E o crescimento
político das igrejas e conservadorismo? Ora, são redes de apoio mútuo. As igrejas não são só lugares de culto; são
também lugares onde se pode conhecer novos empregadores e empregados, onde se
pode pedir dinheiro emprestado a um irmão para pagar as contas num mês em que o
orçamento aperta, onde se pode conhecer serviços antes desconhecidos – em suma,
é também um lugar onde fazer contatos, que o desemprego prolongado erode
facilmente. Acessoriamente, os membros mais integrados à burocracia da igreja
costumam encaminhar fiéis a órgãos públicos, advogados, médicos, assistentes
sociais, etc. na tentativa de resolver seus problemas imediatos
(aposentadorias, questões de família, doenças, etc.).
983 - As igrejas não são
as únicas a promoverem as estruturas e eficiência vertical capitalista. Os espaços comunitários apoiados ou geridos
diretamente por ONGs, em sua maioria, integram estas redes na assistência
social capitalista. (...) Mesmo espaços apoiados ou tolerados por chefes de
facções do crime organizado local, no limite, poderiam também integrar este
campo, assim como os incontáveis “favores” que prestam a uns e outros membros
da comunidade.
984 - Waguinho gostou do
texto, mas discorda um tanto: Cansei de
ver discriminação nas igrejas contra aqueles mais pobres que não podem dar
dizimo; contra mulheres divorciadas ou “de moralidade duvidosa”, e contra
pessoas que faliam financeiramente. Me parece que as igrejas são muito mais
centros de psicologia comportamental que incutem nas pessoas a lógica mais
individualista e meritocratica. A grande maioria das igrejas pentecostais que
conheci, a esmagadora maioria, NÃO FAZEM SEQUER TRABALHOS DE CARIDADE. O
dinheiro do dizimo é usado para a “obra de evangelização” e não para qualquer
tipo de rede de apoio mutuo. Por isso, considero errônea e mesmo ingenua e
otimista essa avaliação de que o meio pentecostal representaria algum tipo de
rede de apoio mutuo, quando vi ali exatamente o oposto – a ideologia do
individualismo completo.
985 - Manolo concorda mas
discorda de Waguinho: … as igrejas não
criam relações de solidariedade, mas se aproveitam delas. (...) Da mesma forma, também já vi muito irmão
desempregado sair do aperto porque outro irmão ajudou. Cita, ainda, que
pastores criam uma rede de clientelismo, encaminhando as pessoas. (...) Num caso que para mim foi emblemático, foi
exatamente um destes irmãos discriminados por não pagar o dízimo na Poder de
Deus quem arrumou uma grana para o outro irmão segurar a barra, e ainda o levou
para tomar o café da manhã na casa dele por alguns meses. Este mesmo, o que foi
tomar café, saiu do desemprego porque uma outra irmã, também da Poder de Deus,
indicou-o para trabalhar de porteiro num prédio onde ela trabalhava de
faxineira. (...) A meu ver, a ritualização necessária em qualquer religião, a
presença de um sacerdócio separado do corpo de fiéis, assim como a relação
quase hierárquica entre este mundo e um outro mundo a mover e animar as coisas
deste, são por si só uma “verticalização”, para usar seus termos. Mas se alguma
religião é capaz de impulsionar práticas horizontais e mobilizações coletivas
(são poucos, quase nenhum, caso deste tipo registrados na história), há algo
interessante por aí. (...)
… Se a solidariedade acontece pelo simples fato de se frequentar um
ambiente, por que as formas de solidariedade que se dão num ambiente se
proliferam mais que aquelas que se dão em outro? Aí, sim, falta pesquisa. E foi
nisto, entre outras coisas, que o texto me provocou, muito saudavelmente, a
procurar mais informações.
986 - Manolo achou,
ainda, pesquisas sobre as igrejas de alguma forma funcionando como oportunidade
para redes de solidariedade, impulsionem ou não isso.
987 - Aldous levanta a
possibilidade dos neopentecostais serem uma tática capitalista. JB comenta: Lembro-me que The Economist defendeu a tese
de que a ditadura militar estimulara a difusão dessas correntes do
protestantismo para erguer uma barreira à teologia da libertação e aos
movimentos sociais, com o apoio dos serviços norte-americanos.
988 - Manolo considera
maluquice essa hipótese.
989 - Márcia: Experimente visitar algumas e ver como são
hierarquicas, como existem separações entre lideranças e bases, espoliações, discriminação
entre fiéis, inclusive financeira…. trabalhei muito tempo com comunidades de
periferia, até me aposentar, e pude vivenciar bem essa fragmentação e
individualismo difundido pelas igrejas. Aquilo de auto-organização não possui
nada.
990 - Terceira parte do
artigo. Os trabalhadores insatisfeitos: São
estudantes universitários que optaram por enfrentar a precariedade do trabalho
prolongando sua vida acadêmica nas pós-graduações para viver das bolsas. São
trabalhadores do terceiro setor a pular de assessoria em assessoria para
complementar renda. São engenheiros e arquitetos contratados por empreitada.
São professores trabalhando três turnos para manter condições dignas de
vida… (...) a necessidade de
sobrevivência faz de suas vidas um eterno “se virar”, e a concorrência
exacerbada e a personalização do sucesso ou do fracasso, típicas do
“empreendedorismo”, dificulta-lhes sobremaneira a construção de qualquer forma
de solidariedade entre eles.
991 - Nesses
trabalhadores mais qualificados, quase não há teia. O povo, para esses tipos de concepções e de práticas, não é uma teia de
solidariedade, mas uma adição de unidades individualizadas. E assim se passou
da velha definição do cidadão como animal social à sua definição como ser
psicológico, em função precisamente daquele aspecto que opõe cada um aos
restantes. Se na cidade grega todo animal social podia vir a ser um dirigente
político, na nação contemporânea cada ente psicológico é potencialmente um ente
patológico.
992 - Nestas condições, a vitória eleitoral das
maiorias é sempre o triunfo de uma minoria assentado na fragmentação da massa
da população, fragmentação esta que condiciona o fato de a pauta política dos
atuais manifestantes não se basear no reconhecimento de problemas comuns, mas
no bom funcionamento do parlamento e do governo e na exclusão dos corruptos da
política.
993 - Aline comenta que a
classe média e os ricos não precisam de redes de apoio mútuo, têm planos de
saúde, carro fechado, advogados, seguranças de boate, currículos pomposos, essas
coisas, para lhes proteger. São individualizados porque podem, é o que afirma.
A sociedade em si já é sua rede de proteção social.
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