Lula e PT - Textos Diversos VIII - Marco Aurélio Garcia - A Social-Democracia e o PT (1990)


Marco Aurélio Garcia - A Social-Democracia e o PT (1990):

135 - Em 1914, o Partido Social-Democrata alemão (SPD) decidira apoiar o governo do Kaiser em sua aventura bélica. Todos os partidos socialistas da Europa - à exceção do russo e do italiano - se solidarizaram com seus respectivos governos, arrastando o proletariado de seus países à uma luta fratricida nos campos de batalha.

136 - Por isso que o partido social democrata russo mudou para “comunista”.

137 - SPD alemão: A via eleitoral vinha sendo seguida desde 1866 e, em 95, pouco antes de sua morte, Engels saudava o "uso inteligente" do sufrágio universal pelo proletariado da Alemanha.

138 - O Partido Operário Social-Democrata Russo, dividido a partir de 1903 nos moderados mencheviques (minoritários) e nos revolucionários bolcheviques (majoritários), via na social-democracia alemã uma fonte de inspiração permanente.

139 - A derrota das breves experiências soviéticas na Hungria e na Finlândia, o fracasso das primeiras tentativas insurrecionais na Alemanha, a contenção do avanço das tropas do Exército Vermelho sobre Varsóvia e, principalmente, as enormes dificuldades internas que enfrentavam os soviéticos, determinaram o arquivamento dos planos de uma imediata e generalizada revolução na Europa.

140 - Mas a verdade é que a ditadura do proletariado, em nome da qual se dissolveu a Assembléia Nacional Constituinte eleita em 1917, e onde os bolchevistas ficaram em minoria, não teve existência real. Os sovietes rapidamente deixaram de existir, os partidos foram sendo sucessivamente suprimidos e, a pouco andar, a Rússia se transformara em ditadura de um partido.

141 - Vacilando, inclusive em seu compromisso com a República, a social-democracia mergulhou numa tortuosa política de colaboração com o conservadorismo. O episódio do assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht e, dias mais tarde, de Leo Jogishes é emblemático.

142 - Registra que França e Espanha da época, mesmo estando com a social democracia, não diferem tanto assim das políticas liberais, inclusive havendo concentração de riqueza na França e desemprego na Espanha.

143 - Não se pretende negar as reformas que o getulismo proporcionou ao movimento operário, ainda que a contrapartida delas fosse o enquadramento dos sindicatos no modelo corporativo de inspiração fascista e, logo, sua perda de autonomia.

144 - O varguismo foi uma operação de cooptação do movimento operário - construída a partir da derrota de seus setores mais combativos - seguida de seu enquadramento nas estruturas do Estado e da outorga de algumas benesses próprias de um welfare state.

145 - Sobre o PT, coloca a questão se seria um social democrata envergonhado ou um “PC” enrustido. Observa que “cada vez que os dirigentes do PT (ou da CUT) admitiram sua disposição de participar de negociações com o patronato ou com o governo, ou foram confrontados com responsabilidades governamentais, ou se manifestaram sobre problemas do socialismo e da democracia com maior liberdade (ver a recente entrevista de Francisco Weffort à Folha de S.Paulo), não faltou quem prognosticasse uma "virada social-democrata" do partido.

146 - Afirma que o socialismo do PT é processual e que não socialdemocracia nem comunismo.

147 - Ao definir sua intervenção na vida política brasileira como de "acumulação de forças" e ao definir um programa de reformas qualificado de "democrático-popular", o PT resolveu um problema e deixou em aberto outros.

148 - Coloca que o poder deve ser construído. Um dos avanços do PT é abandonar a idéia do poder como um lugar a ser tomado e reformado (proposta social-democrata) ou tomado, destruído e reconstruído (proposta revolucionária clássica).

149 - As propostas mais concretas são bem abstratas. Texto líquido rs. É ilusório pensar que o PT é um fenômeno isolado no mundo. Ele faz parte deste processo de transição da esquerda mundial. Neste sentido, é um partido pós-social-democrata e pós-comunista. Constrói sua identidade não combatendo estas correntes, mas dialogando criticamente com elas, voltado para novos (e velhos) desafios que seus ancestrais não puderam responder.

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